Provérbios Provados noutras casas:

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Provérbio encardido

Levavam os fardos de roupa à cabeça e chegavam à beira rio pela fresquinha. Era esse um quadro em vias de extinção: já pouca gente mandava lavar roupa à mão. Agora haviam máquinas para tudo, benza-te Deus!
A Leonilde vira uma dessas ladras do seu trabalho pela primeira vez há dois anos e ainda se lembrava desse dia aziago; caíra-lhe o queixo com a surpresa. A maquineta dos infernos tinha uma portinhola redonda por onde se empurrava a roupa e depois ficava para ali a rodar, a rodar, e ao cabo de mais ou menos duas horas de lá saíam as peças lavadas e já torcidas. Isto lhe afiançavam, mas a Leonilde não acreditava que a máquina lavasse melhor que as suas duas mãos, hábeis e cheias de artroses, que percorriam cada ruga de tecido, afagando-o e ensaboando-o, e se demoravam nas nódoas mais persistentes. Leonilde entregava nas casas das patroas a roupa já seca do sol e com cheirinho a Omo, recebendo um magro dividendo que ia direitinho para o mini mercado do Sr. Leopoldo. Mas não fazia mal, pensava, antes para o leite dos meninos do que para o vinho do marido.
Naquela manhã uma Josefina febril batera-lhe à porta: importava-se de ir buscar e lavar a roupa do solar dos Menezes? Eram só tapetes e lençóis, que o mais iria para a máquina de lavar. Que iria, descansou-a. Ao fim do dia, regressou uma Leonilde deveras cansada à soleira de Josefina: sentes-te melhor, filha? Sabes tu lá o trabalho que me deu a roupa dos Menezes! Não sabia aquela gente tão badalhoca, ainda se dizem fidalgos! Os tapetes estavam imundos, foi um dia de juízo para lhes devolver as cores originais. E os lençóis, nem sei se te diga se te conte, os lençóis estavam cheios de manchas, filha, não sei se me estás a perceber...

- No melhor pano cai a nódoa

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