Provérbios Provados noutras casas:

quarta-feira, 19 de março de 2025

Provérbio provado rimado - MCDLXIV

Tu podes ter ascendido 
De posto e categoria 
Mas eu não estou convencido 
Que tenhas sabedoria 

Pois ficas um pouco aquém 
Nesta nova posição 
Quem nasceu para vintém 
Nunca chega a ser tostão 



Provérbio provado rimado - MCDLXIII

A beleza é tão exuberante 
Só que não é muito importante 
Está nos olhos de quem a vê 
Deles fica assim à mercê 

Mesmo se não a constatam 
Não negam que se arrebatam
Apesar das sombras que tem 
Não perde o encanto porém 

Tem também o amplo poder 
De fazer um amor crescer 
Mas para sempre não dura 
Morrerá quando for a altura 

Dizem que salva o mundo 
Num milésimo de segundo 
Mas na essência não vale nada 
Só serve para ser admirada 

Então desvaloriza a beleza 
Que ela não se põe à mesa 
E se a achas primordial 
Por certo está algo mal 

Ela é supérflua e vazia 
Só pertence à galeria 
É imagem que apenas ilude 
Não te dá vida e saúde 

Não é nela que vais encontrar 
Tua sobrevivência e bem-estar 
Já que beleza e formosura 
Não te darão pão nem fartura 


Provérbio provado rimado - MCDLXII

Quando há humidade no clima 
Logo a gente do campo se anima 
Pois a precipitação miúda 
É para esta gente uma ajuda 

Em havendo neblina constante 
Haverá quem a leira plante 
Já que chuva e névoa aturada 
Alimentam a terra lavrada 


Provérbio provado rimado - MCDLXI

Quando li que o vinho fazia 
Bastante mal à saúde 
Ganhei uma tal alergia 
Que deixei de ler amiúde 

E assim feito um analfabeto 
Logo pela manhã tão pinguço 
Fiz da não-leitura decreto 
Sem largar sequer um soluço 


terça-feira, 18 de março de 2025

Provérbio provado rimado - MCDLX

Se alguém contigo fala 
Dizendo o que lhe aprouver 
Transportas uma bengala 
Para o que der e vier 

Quando não agrada o discurso 
Que profere algum companheiro 
Sabes que tens o recurso 
Do teu pau de marmeleiro 

E então se preciso for 
Não te quedas cabisbaixo 
Desferes-lhe com rancor 
O pau pelas costas abaixo 


Provérbio provado rimado - MCDLIX

Aprendeste a ludibriar 
Pra qualquer pessoa enganar 
Mesmo que a tua mentira 
Essa própria pessoa fira 

És um mestre da ilusão 
Sempre a engendrar ficção 
Só para te salientares 
Entre os que são os teus pares 

Mas resiste a tal tentação 
Que mais parece coacção 
De fazer quando dá na telha 
Um ninho atrás da orelha 


Provérbio provado rimado - MCDLVIII

Sem teres qualquer reacção 
Conheces a conformação 
E porque estás cheio de medo 
Tu nem levantas um dedo 

Fazendo por não questionar 
Enquanto tentas suportar 
A forma como o quotidiano 
Te leva sempre ao engano 

És capaz de até o engolir 
Mas nem o chegas a sentir 
Pois tu apenas te arrastas 
Apagando as coisas nefastas 

Vê lá se consegues parar 
Essa treta do deixa-andar 
E põe-te em campo agora 
Agindo por ti sem demora 




Provérbio provado rimado - MCDLVII

Tão parvo à primeira impressão 
És parvo à segunda também 
Por dares sempre a sensação 
De olhar em redor com desdém 

Achas-te o maior do bairro 
Da tua terra o mais esperto 
Mas não passa de ressaibo 
Devido ao teu modo incerto 

No fundo és muito inseguro 
Mas demonstras arrogância 
Erguendo por fora um muro 
Que imponha imensa distância 

E se a gente de ti se aproxima 
Para fazer alguma pergunta 
Tu dizes num passo de esgrima 
Sou o presidente da Junta 


Provérbio provado rimado - MCDLVI

Sempre que acontece cair 
Eu não permaneço caída 
Levanto-me logo a seguir 
Após a queda há subida 

E depois de viver esse salto 
Hei-de então cair disparada 
Tombando de muito alto 
Ignoro que há uma escada 

Podem dizer que sou snobe 
Quando aponto alguma lesão 
Mas quanto mais alto se sobe 
Maior vai ser o trambolhão


Provérbio provado rimado - MCDLV

Se te gabas da barba rija 
E encornas sem ser encornado 
Vê lá se não és apanhado 
Com essa boca na botija 


sábado, 15 de março de 2025

Provérbio provado rimado - MCDLIV

Se copos de água emborcar 
Fosse um pecado mortal 
Que bem saberia apanhar 
Uma narsa monumental 

Que quanto maior é a sede 
O melhor é satisfazê-la
E se muito vinho se pede 
Apanha-se grande cadela 

Se tu bebes para esquecer 
Não esqueças a consequência 
Então paga antes de beber 
Antes que abras falência 


Provérbio provado num verso branco - CXLIX

CRONOLOGIA 


Não existe apenas uma história 
De vida que em cada vida há tantas 
Histórias de vida e cada vida 
Tem tantas vidas como histórias 

Que não vos pareça confuso 
Que fale das histórias em que as vidas 
Se desdobram e se descobrem 

Que não vos cause estranheza 
A profusão de capítulos que atravessam 
Cada vida e as suas histórias 

Só não ajuizem essa vida em demasia 
Consoante o capítulo onde começaram a assistir 

As condicionantes de uma história é que fazem 
Com que seja uma história de ruína 
Ou de sucesso ou de ambos 

Qualquer vida é uma sucessão 
De aventuras em ambiente hostil 
E em todas as histórias de vida 
São as contrariedades que impulsionam a progressão 

Só não cedam à tentação de chamar 
Maturidade ou crescimento a este processo 
Em cada capítulo acaba por existir um momento 
Onde a consciência acata e se reconcilia com o fim 

Temos pouca mão na vida: a história é essa 




Provérbio provado rimado - MCDLIII

Um homem ganancioso 
Adora o metal precioso 
E um pé-de-meia amealha 
Sempre que o juro lhe calha 

Amante do brilho da prata 
O ouro é que o arrebata 
E tal como o Tio Patinhas 
Só tem atitudes mesquinhas 

Foi pobre a sua infância 
E agora age com ganância 
Enchendo tanto o mealheiro 
Que não cabe mais dinheiro 

Mas nunca é suficiente 
De mais riqueza é carente 
Sentindo-se insatisfeito 
Nunca o saldo é perfeito 

A sua maior excitação 
É poder poupar um tostão 
Nada tem quem nada lhe basta 
Qualquer interesse afasta 


sexta-feira, 14 de março de 2025

Provérbio provado rimado - MCDLII

Se há só dois dias na vida 
E é de noite num deles 
Sabemos assim à partida 
Que a existência é reles 

E quando restar só um dia 
Desta vida de improviso 
Vivamo-lo com alegria 
Pondo na cara um sorriso 


quarta-feira, 12 de março de 2025

Provérbio provado rimado - MCDLI

Para ver qualquer qualidade 
Não preciso de boa vontade 
E quando é para o amigo gabar 
Tal momento não vou dispensar 

Não careço de nenhuma pista 
Enumero o que está à vista 
E escondo a tal face oculta 
Que nem mesmo o próprio faculta 

Porque é a minha obrigação 
Como amiga ter esse condão 
De quem gosto só bendizer 
Não faz falta agradecer 

Na minha boca é herói 
E assim a ninguém condói 
Que defeitos do meu amigo 
Lamento mas não maldigo 


sábado, 8 de março de 2025

Provérbio provado do erro evitado

Mais se assemelhava a um mundo paralelo, não foram as dúvidas expostas ao sol por falta de sombras. Por falta de sombras, tudo se exibia a nu, sem disfarces. 
Era um mundo à margem cujas fronteiras se encontravam vagamente com os lugares onde as pessoas reais habitavam a normalidade. 
Por isso, eram tão difíceis as trocas de visitas entre um lado e outro, cortesias à parte. Assim , para os que moravam para lá da divisão, todos os compartimentos que se encontravam ocupados do lado alheio se lhes afiguravam exíguos e irrespiráveis, uma sucessão de pequenas caixas todas iguais. As caixas tinham as mesmas dimensões e as mesmas cores e nada as distinguia entre si, além dos minúsculos códigos impronunciáveis que ostentavam.
Era essa a razão de preferirem morar do lado de lá. Só os outros, os inadapados, moravam lá. 
As pessoas de cá não se aventuravam a transpor a linha divisória com receio de, depois, não conseguirem regressar. Queriam ser conscientemente de cá, convencidas de que era o local onde viviam que as fazia pessoas. Queriam continuar a ser pessoas com limites bem definidos. Queriam o vínculo, essa afectação que lhes conferia uma sensação de pertença estável.
Abdicavam, dessa forma, da profundidade de espírito, da arte do encontro, da surpresa e da entrega, da reciprocidade afectiva e da essência da partilha. Porque essas coisas acabariam por as distinguir umas das outras, uma vez que eram comportamentos raros e muito imprevisíveis.
As deslocações, se bem que não carecessem de prévia autorização, encontravam-se regulamentadas por um estranho código de silêncio que em silêncio cumpriam. Havia que permanecer dentro das caixas oficiais, não se contabilizando o número de vezes em que era necessário vir à tona para respirar: essa era uma acção impopular que convinha disfarçar.
Do lado de lá, ocorriam cenários proibidos compostos por golpes de sorte e trapaças das probabilidades que desnudavam os destinos erráticos e largamente irresponsáveis dos habitantes. Realmente era tudo tão para lá de lá, tudo para além da superficialidade do banal da zona oposta. Eram pessoas tão imperfeitas que, face a essa constatação, havia muito mais tolerância em relação aos erros que eram cometidos, apenas permitidos depois da fronteira.
Do lado de cá, até o próprio clima era constante. Constantemente nublado. E chegavam repetidos relatos de oportunidades desperdiçadas e falhanços temerários. Pretendia-se, com isso, educar os indivíduos pelo exemplo contrário.



- Os erros de uns são lições de outros 

Provérbio provado rimado - MCDL

Não há bela sem senão 
Por isso presta atenção 
E tem bastante cuidado 
Não fiques apaixonado 

Lembra-te de não ter pressa 
Não deixes que nada o impeça 
Pois para mais longe chegar 
Convém que vás devagar 


sexta-feira, 7 de março de 2025

Provérbio provado rimado - MCDXLIX

Tu passas tão despercebido 
És um grama na multidão 
E pareces ter esquecido 
Qual é a tua direcção 

Sem rumo e assim perdido 
Quando te virem dirão 
Que é de perder-te o sentido 
Por andares fora de mão 


Provérbio provado rimado - MCDXLVIII

Tu fazes cá tanta falta 
Como uma viola em enterro 
Que bem disporia a malta 
Mas é socialmente um erro 

Desta forma é como vês 
A seta indica-te a porta 
Aceita assim tal revés 
E leva a tua avó torta 

Que ainda não se finou 
Mas já está farta de ti 
E também te aconselhou 
Que não permaneças aqui 

Então vai dar uma volta 
Que até já vais atrasado 
E não seja precisa escolta 
Vê lá se és bem mandado 



Provérbio provado rimado - MCDXLVII

Não crê no futuro o avarento 

Já que o presente é todo o sustento 

Guarda para si mesmo um tesouro 

Como se fosse de outro esse ouro 


O avaro tem um grande mealheiro 

Que nunca parte por ter dinheiro 

E acaba por viver na pobreza 

Pois faz parte da sua natureza 


Para o avarento cada momento 

É assim vivido com sofrimento 

Pois tanto lhe falta aquilo que tem 

Como o que não tem lhe falta também