Provérbios Provados noutras casas:

domingo, 12 de novembro de 2017

Provérbio provado musicado

O Rui era um músico anónimo que desejava atingir o estrelato. Enquanto isso não acontecia, ia acompanhando fadistas fajutos pelos bares com a sua guitarra portuguesa. Tinha calos nos dedos, mas aqui vem contar-se do seu calo sexual.
Ossos do ofício, chegava tarde e más horas a casa, cheio de espertina e vontade de continuar a dar música. Sentava-se então ao computador em busca de noctívagos com quem pudesse trocar dois dedos de conversa. Mais correctamente seria dizer noctívagas: o Rui tinha para cima de três mil amigas no Livro das caras, que adicionava compulsivamente de forma errática. Tentava seduzi-las com palavras meigas, mas como era algo destrambelhado afugentava muita caça. No entanto lá tinha o seu modus operandi: usava e abusava do envio de músicas em formatos partilháveis, para que elas pensassem que era um gajo sensível e erudito. Costumava também gravar a sua voz em ficheiros áudio, em conversas generalistas, que depois distribuía a granel sem qualquer critério.
Ultimamente, o Rui estreitara as opções; para dar largas à sua preferência por mulheres bastante mais velhas, que depois o pudessem sustentar, assim como à sua pancada por sexo anal, pusera-se a estudar nichos de mercado. Foi assim que descobriu o maravilhoso mundo das agentes imobiliárias, fiéis depositárias de chaves de apartamentos inabitados onde se podiam ir dar umas rapidinhas.
Quando conheceu a Telma encantou-se: ela tinha uma certa dose de loucura muito atraente e, além disso, apreciava a sua arte, indo escutá-lo a tocar noite fora pelos bares e casas de fado. Tal foi, que ao fim de poucas semanas lhe confiou as chaves de sua casa, pensando essa a maior prova de amor que se pode dar a uma mulher habituada a porta chaves com horários previamente estabelecidos. Só que a Telma ficou estarrecida: o Rui era um miúdo ao pé dela, com quem gostava de passar uns bons bocados mas só e apenas isso, não queria que a relação evoluísse para outro patamar. Deixou de lhe devolver as mensagens tardias, apesar de ele as visualizar como lidas.
O Rui não se atrapalhou. Num impulso desatou a convidar as colegas da agência da Telma para serem também suas amigas no Livro das caras, repetindo-lhes as mesmas frases com que a havia seduzido. Primeiro foi a Florbela que começou a falar à Telma nas conversas online que tinha com o Rui. Mais tarde, a sonsa da Rita chegou a pretender conhecê-lo pessoalmente, justificando-se na sua habitual cara de pau que toda a gente tinha sempre algo para ensinar, independentemente da diferença de idades.
Quando um dia lhe foi devolver as chaves, a Telma confrontou o Rui com o cerco apertado que fazia às colegas. Imagine-se que elas até punham a tocar no escritório as reproduções baratas dos ensaios do Rui com a guitarra: a sua única amante fiel.

- Quem tem unhas é que toca guitarra

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