Na adolescência foi acólito. Vestiam-lhe o paramento branco fazendo-o jurar imobilidade e ausência de expressão facial. Pespegava-se ao lado do padre, em figura de corpo presente, papagueando as rotineiras rezas. Quando chegava a altura de intervir era o mais profissional possível: segurava o missal e acolitava a comunhão circunspecto e solícito.
Mais tarde, tomou-se de amores pela Zézinha do coro e foi ali mesmo, nos bancos da igreja deserta, que deram o primeiro beijo; os mesmos bancos onde casaram e depois baptizaram os filhos.
Quando veio o novo padre houve necessidade de um sacristão. Propôs-se para a tarefa: assim como assim a igreja já era a sua segunda casa. Passou a dar-se ares de proprietário: passeava-se satisfeito com uma argola donde pendia um grande molho de chaves, cuidava do economato das hóstias e assegurava-se de que havia suficiente vinho para benzer o sangue do Criador. Fazia o presépio no Natal e não deixava apagar o círio pascal. Recebia os dividendos dos casamentos, baptizados, funerais e respectivas missas de sétimo dia. Fazia de secretário extremoso, cuidando da agenda do padre com laivos de patrão. Ia ascendendo aos poucos à santidade, bebericando às escondidas, aos Domingos no fim das cerimónias, a água que o prior benzia durante a missa.
- Presunção e água benta cada um toma a que quer
sexta-feira, 10 de novembro de 2017
Provérbio provado beatificado
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