Provérbios Provados noutras casas:

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Provérbio gastronómico

O Nuno conduzia uma biblioteca itinerante por estradinhas apertadas e aldeias perdidas no sopé da Cova da Beira. Era um profissional afável e dedicado a transportar informação a quem dela aparentemente não precisava. Puro engano: aquelas gentes remotamente esquecidas aguardavam-no expectantes a cada visita. As clientes mais assíduas da carrinha da biblioteca eram senhoras de idade que se pelavam por uma revista de bordados ou de receitas de culinária. Nuno não sabia bordar, mas partilhava com elas o amor por tachos e panelas: tinha a mania dos cozinhados. Ao fim do dia, chegado a casa, não alapava o traseiro no sofá; ia direito à cozinha para experimentar algum novo petisco que lhe haviam sugerido. Era adepto da cozinha tradicional portuguesa e regressava sempre aos cabritos, borregos assados, feijoadas, ranchos e outras coisas assim levezinhas. No entanto, era algo atrapalhado e esbanjava louça: uma frigideira para refogar a cebola, e logo uma outra para saltear espargos, uma panela onde cozia a massa, uma caçarola para espessar o molho… À sua volta aglomerava-se uma impressionante sujidade e o Nuno, atarantado, não conseguia acudir a todas as freguesias. Era raro o dia em que não cortasse um dedo ou se queimasse num utensílio.


- Quem mexe em muitas panelas nalguma se escalda

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