Provérbios Provados noutras casas:

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

Provérbio provado num dia feriado

Hoje aconteceu-me uma que nem sei se vos diga se vos conte, ele há mesmo coisas do arco da velha!
(Não comecem já a torcer o nariz que ainda a procissão vai no adro e até ao lavar dos cestos é vindima.)
Passando então à vaca fria, senão nunca mais é sábado, de manhã chovia a potes e estava um grizo tão grande que até bati o dente. Saí de casa vestida como uma cebola, embora preferisse ter ficado à sombra da bananeira. Mas como não nasci com o cu virado para a lua, lá tive de meter a mão na consciência e fui vergar a mola.
Chegada ao escritório, bati com o nariz na porta e quase me chegava a mostarda ao nariz, até que me caiu a ficha e percebi porque é que estava tudo às moscas. Não é que eu, uma cabeça nas nuvens, me esqueci que era feriado? Meti mesmo a pata na poça.
E então, já que tinha saído de casa e tinha, estava perdida por cem, perdida por mil. Fui mas é laurear a pevide, uma vez que já não tinha de andar a toque de caixa como uma barata tonta a bater na mesma tecla.
O dia não estava perdido, não.

- Há mais dias que linguiças 

Provérbio provado num verso branco - CLIII

Há os que organizam a vida como uma agenda 
Com separadores de tarefas 
Definição de prioridades 
Com resultados que se contabilizam 
Em grelhas gráficos e percentagens 
Regem assim o quotidiano por meio 
De princípios mensuráveis 
Estabelecendo metas realistas 

E depois há os outros 
- Ah os outros! -
Cujos acasos desenham o próprio destino 
Que enfrentam todas as experiências 
Sem preconceitos ou prévias condições 
Correndo o risco de estar sempre errados 
Numa incessante corda bamba

Qualquer dos casos 
Não passa de uma tentativa 
De tornar cada vida o mais fácil possível 



quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Provérbio provado rimado - MDXCIV

Não te gramo um grama sequer  
Por meteres sempre a colher 
No que não te diz respeito 
Como se fosses mesmo perfeito 

Consideras que a tua opinião 
É a mais correcta de antemão 
E passas o tempo a ajuizar 
Qualquer falha irás apontar 

Tens um timbre condescendente 
Que me deixa muito impaciente 
Não me ofereças o teu conselho 
Dispenso que metas o bedelho 


Provérbio provado rimado - MDXCIII

Deixa que te encaminhe 
Para lá do imaginável 
E deixa que me aproxime 
Para veres como é agradável 

Que desse modo não receies 
Antes de ver o nosso futuro 
E ainda que não o nomeies 
Por estares sobre ele inseguro 

Considero esse medo normal 
Que o futuro não viu ninguém 
Mas não vale ser tão racional 
E estragar o que aí vem 

Calça então os sapatos forrados 
Que farão o percurso melhor 
E que estão impermeabilizados 
Para que não ganhem bolor 

Que os uses com muita coragem 
Sem temer a entrega vindoura 
Pois és parte também da viagem 
Da nossa relação duradoura 

Se o temor só suspeita o pior 
Também mete a lebre a caminho 
Só então podes ser vencedor 
E ser livre sem estar sozinho 

Por isso escuta o que te digo 
Sem sofrer por antecipação 
Podes contar sempre comigo 
Quem tem medo compra um cão 




Provérbio provado rimado - MDXCII

Com este tempo que faz 
Dá tanto frio na espinha 
E portanto sou bem capaz 
De sentar-me à escrivaninha 

Faço listas de vários ditados 
Não interessa se são repetidos 
Divirto-me a vê-los provados 
E depois são aqui oferecidos 

Quando não há nada de novo 
Que eu aos leitores possa dar 
A provérbios antigos recorro 
Como se fossem já a estrear 

Conto com um ovo já posto 
Que há algum tempo choquei 
E vocês nem topam aposto 
Que esse tal ditado bisei 

É tamanha a vossa distração 
Não adianta fazer beicinho 
Só reparam na ilustração 
Isso é certinho direitinho 


terça-feira, 11 de novembro de 2025

Provérbio provado rimado - MDXCI

Quando o despertador tocou
Levantou-se de pronto aflita 
Nem sequer um banho tomou 
Limitou-se a usar toalhita 

No relato do seu despertar 
Os pés acordaram de fora 
Mas lá teve de se despachar 
Pois estava em cima da hora 

Depois o carro não pegava 
E a oficina estava fechada 
A pé tão cedo não chegava 
Era certo entrar atrasada 

Com início tão conturbado 
O resto do dia prometia 
Na cama devia ter ficado 
Mas o salário não ganharia 

Ao ver que não tinha almoço 
Foi a gota de água prá Anita 
Instalou-se grande alvoroço 
Porque se passou da marmita 



Provérbio provado rimado - MDXC

Faz parte de toda a rotina 
Uma ideia de repetição 
Contudo a mais louca sina 
Progride com a criação 

E sempre que nasce um dia 
Surge nova oportunidade 
Contanto se largue a mania 
De dar nome à realidade 

Ao achar que tudo é um bis 
A surpresa é logo anulada 
Corrompe qualquer aprendiz 
Que só vê a vida estagnada 

Apesar de querer progredir 
É como uma ave sem asas 
Quase tende até a desistir 
Se a vida lhe corta as vazas 


Provérbio provado rimado - MDLXXXIX


Se existe alguém que só fala 
Sem pausas e nunca se cala 
Vai por vários temas saltando 
Sem uma resposta esperando 

É um grande fala-barato 
Tem assuntos ao desbarato 
O pior é que exige atenção 
E na testa concentração 

Pois debita os seus pensamentos 
Numa compulsão de momentos 
Com as ideias tão aceleradas 
E as sinapses desorganizadas 

Faz comentários descabidos 
Que são sempre mal recebidos 
E só sabe dizer disparates 
Tolices asneiras dislates 

Não consegue calar o bico 
E é capaz de deixar num fanico 
Quem se vê sujeito à soltura 
De ideias a qualquer altura 


Provérbio provado rimado - MDLXXXVIII

Ela é uma senhora castiça 
Que atinjiu a meia idade 
Mas não é todavia postiça 
E assume a sua identidade 

Que a cabeleireira grisalha 
Não iluda os mais desatentos 
Pois ela é jovial e se calha 
Sabe esgrimir argumentos 

Fresca e fofa todos os dias 
Não põe o pé nas argolas 
É capaz de dar arritmias 
Ainda rompe meias solas 


Provérbio provado rimado - MDLXXXVII

Achas-te um tipo sortudo 
Convicto de que sabe tudo 
Mas assim não vais aprender 
Enquanto a crista não descer 

A vida há-de pôr-te à prova 
Trazendo atribulação nova 
Depois de cada uma passar 
A firmeza irá regressar 

Mas o teu impasse persiste 
Pois a tua arrogância resiste 
E já mais descansado então 
Vai-se o perigo volta a presunção 




Provérbio provado por atacado

Sabei que não enfio a carapuça por dá cá aquela palha: não é assim com duas cantigas que me passam a perna. É precisamente quando pensam que estou com a cabeça nas nuvens que sou capaz de uma solução num abrir e fechar de olhos.
 Não fico muito tempo a criar raízes no fundo do poço: dou logo corda aos sapatos e ponho-me na alheta. 
Também não tenho vergonha de mudar da água para o vinho se a agulha virar. E se for para andar à procura dela no palheiro, dai-me paciência e um paninho para a embrulhar que lá me vou aguentando nas canetas.
Quando percebo que me querem vender gato por lebre e atirar areia para os olhos com histórias da Carochinha, abro a pestana e não conseguem levar a sua avante: é que aos burros dá-se palha, não se dá conversa. 
Deixai-os pousar que eu já comi muito milho por debaixo do espantalho, ando há muitos anos a virar frangos, essa é que é essa! 
Às vezes, sou uma pessoa um bocado teimosa: faço finca-pé e, sem virar o bico ao prego, não arrepio caminho. Se depois bater com os cornos na parede, lá terei de me desemerdar: é a vidinha. Elas não matam, mas moem.
Como vêdes, gosto de chamar os bois pelos nomes, dar com a língua nos dentes e pôr os pontos nos is: não sou de levar desaforos para casa. Digo tudo tal e qual os malucos e posso ser bruta como as casas, mesmo sabendo que pela boca morre o peixe. Abro sempre o jogo e, se preciso for, também sou capaz de abrir os olhos de quem prefere fazer-se de morto ou está, simplesmente, a pensar na morte da bezerra.
Por isso, tropa fandanga, podeis sacar o cavalinho da chuva se pensais em tirar-me o tapete: antes quebrar que torcer, sabíeis? Descansai que não vou arrancar cabelos ou misturar alhos com bugalhos. Ainda assim, é melhor trocar os pés pelas mãos do que ficar a vida toda a ver passar os comboios para no fim ficar 


- A ver navios 

 

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Provérbio provado rimado - MDLXXXVI

Conheci há pouco a fulana 
E parecia tão encantadora 
Mas anda a ver se me engana 
Porque é muito controladora 

Tal barrete eu não enfiei 
Pois queria influenciar -me 
Então foi assim que a topei 
Pressionando cheia de charme 

Entretanto não sei que faça 
Se eu finja que nem percebi 
Ou se denuncie a trapaça 
Que ela pensa que eu engoli 

Avisei que era inteligente 
Mas não adianta estar fula 
Deve ter-lhe sido indiferente 
Só que ela não me manipula

Não pára de me arreliar 
Não tem vergonha na fuça 
Enquanto continuo a ignorar 
Não me enfia essa carapuça 


Provérbio provado rimado - MDLXXXV

Faz favor com licença desculpe 
É o que a educação esculpe 
Mas que não traz nada de novo 
Aos brandos costumes do povo 

Que a gente é tão acomodada 
Não levanta nenhuma amurada 
E aceita tudo como convém 
De quem dela só sente desdém 

Vai sempre dourar o retrato 
Assim como refere o contrato 
E nos seus dias de pica boi 
Mente tanto ao contar como foi 

Não relata o grau de chulice 
Nem sequer o tipo de burrice 
Em que forçosamente repara 
Pois sempre com tal se depara 

Mourejando de forma cegueta 
Chega a meio do mês sem cheta 
Mas bem como um boi é picado 
Para render mais um bocado 


Provérbio provado rimado - MDLXXXIV

A prisão de ventre é lixada 
Um dia vai dar em cagada 
Mas é de se evitar afinal 
Que dê em diarreia mental 


quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Provérbio provado rimado - MDLXXXIII

A vida é a pergunta eterna 
Que com a cabeça contende
Vivem em união fraterna 
Já que perguntar não ofende 

Porque o que há mesmo a fazer 
É dar corda à imaginação 
Nessa dúvida toda viver 
Até ir dormir para o caixão 


sábado, 1 de novembro de 2025

Provérbio provado rimado - MDLXXXII

Também me senti excitada 

Com a nossa despedida 

Não era assim programada 

Porém foi bem recebida 


E perante essa surpresa 

Desfrutei muito do beijo 

Que fez subir com certeza 

O meu nível de desejo 


Sinto também de antemão 

Que tudo fará sentido 

Porque além da tesão 

Há muito pra ser vivido 


Tu no entanto não temas 

Que eu construa castelos 

Não vou trazer-te problemas 

Somente momentos belos 


Espero que gostes de ler 

Estes versinhos tão crus 

Que contam quanto prazer 

Terão nossos corpos nus 


E se me ponho a divagar 

Enquanto o corpo derrete 

É mais fácil assim delirar 

De facto a coisa promete 



Provérbio provado rimado - MDLXXXI

Os censos dão uma ideia 
De como procria a gente 
E parece acção em cadeia 
De um gene sempre diligente 

Gráficos a três dimensões 
Fazem curvas de natalidade 
E convém que tais proporções 
Desenhem bem a realidade 

Mas os números desconhecem 
Os preâmbulos dos nascimentos 
Dessa forma eles não formecem 
O calor que move os momentos 

São estáticos e são muito frios 
Os algarismos da demografia 
Não assegurando os desvios 
De alguém que só se alivia 

A estatística é rigorosa 
Mas pode falhar a equação 
Pois é na noite silenciosa 
Que aumenta a população


Provérbio provado rimado - MDLXXX

Alguém que gosta de bem-estar 
Tendo o ócio a acompanhar 
Junta a companhia à bebida 
É o melhor que leva da vida 

Só que não vivendo em casal 
Não dispõe de um par oficial 
E terá de sacar companhia 
De mulher que não seja arredia 

E que disposta a entretê-lo
Não lhe chegue a roupa ao pêlo 
E que os desejos lhe satisfaça 
Mesmo se a vontade for escassa 

Vai directo a um lupanar 
Para o sexo que tem de pagar 
Mas primeiro faz um intervalo 
Para poder molhar o gargalo 

Já no local e de copo vazio 
Pede vinho que esteja bem frio 
E assim putas e mais um verdinho 
Sabem pôr um homem mansinho 


Provérbio provado rimado - MDLXXIX

Aposto que nem tens noção 
Dessa que é a vulgar posição 
Em que prontamente te prestas 
A lidar com coisas funestas 

Como louco ou meio bobo 
Metes-te na boca do lobo 
E estás sempre a arranjar 
Mais lenha para te queimar 



Provérbio provado rimado - MDLXXVIII

Tu exibe alguma habilidade 
Para os entraves vencer 
Saberás ter a capacidade 
Dos teus objectivos obter 

Conforme a música tocar 
Assim deves abrir o ouvido 
E ao mesmo ritmo dançar 
Para não seres substituído 

Perante um caso complicado 
Tu não percas a compostura 
Pois terás de soar adaptado 
Demonstrar jogo de cintura 




Provérbio provado rimado - MDLXXVII

Não sei se um verso te faço 
Que saiba cantar meu desejo 
Às vezes só quero um abraço 
Mais do que um húmido beijo 

Entretanto se um beijo houver 
Consigas também ser meiguinho 
E que esse mimo possa parecer 
Um beijinho à passarinho 


Provérbio provado rimado - MDLXXVI

Não sejas mangas de alpaca 
Um ajudante da burocracia 
Ou vais dar muita barraca 
Ao balcão dessa secretaria 

Percebo que será frustrante 
Sempre iguais tarefas fazer 
Pois sentes-te insignificante 
E tão prestes a endoidecer 

Tu compensas esse desencanto 
Com excesso tremendo de zelo 
Evita que largues num pranto 
Quando sacas algo do prelo 

Na mencionada repartição 
Tu costumas ser apontado 
Por não oferecer solução 
A quem comparece atrasado 

E então só dás seguimento 
Se nas linhas certas assina 
Cada regra e procedimento 
Toda a tua cartilha domina 

Fechado e também impassível 
És como um detalhista à antiga 
Nunca consegues ser flexível 
Seu burocrata de uma figa 



quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Provérbio provado rimado - MDLXXV

És a rainha do boato 
Que entoas ao desbarato 
Pedindo ao interlocutor 
Que não seja teu delator 

Com grande mistério intentas 
A fé naquilo que inventas 
E ao construir cada enredo 
Tu rogas que fique em segredo 

Imploras grande discrição 
E vais repetindo essa acção 
Para cada rumor revelar 
A quem se disponha a escutar 

Por não conseguires ser discreta 
A questão já não é secreta 
E corre então em paralelo 
Tal segredo de polichinelo 




Provérbio provado rimado - MDLXXIV

Tu desejas protagonismo 
Por causa do teu narcisismo 
E não sentes qualquer empatia 
Por quem te faz companhia 

Sabes provocar tanta dor 
A quem está ao teu redor 
Mas não te crês responsável 
Por essa aflição evitável 

Manipulas a realidade 
Com imensa facilidade 
E os factos vais distorcer 
Quando isso te convier 

Os restantes intervenientes 
Até se sentem impotentes 
Chegando mesmo a duvidar 
Do seu modo de avaliar 

Usas um disfarce de charme 
Esperando que o povo desarme 
Em público és tão amistosa 
E em privado és impiedosa 

Tu projectas cada tua falha 
Por medo ou coisa que o valha 
Mas também por insegurança 
Punes quem te dá confiança 

Mais pareces não ter consciência 
Ou sequer um pingo de decência 
Já que tu nunca és a culpada 
Foste sempre influenciada 

Persegues toda a nova presa 
Que ao reagir com surpresa 
Logo é excluída muito à toa 
Cuidando que é má pessoa 

És tão hábil a assim descartar 
Quem não te andar a adular
Vais embora sem qualquer aviso 
Considerando que não é preciso 

E para além da manipulação 
Também tens a forte obsessão 
Do controlo sem descaramento 
Como se sempre teu o momento 

Ser muito perfeita simulas 
Enquanto os outros anulas 
E agindo segundo o teu esquema 
Tu jamais serás o problema 

Esse modo de ser vergonhoso 
É um círculo tão vicioso 
E só quem não te conhecer 
É que te compra sem ver 








quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Provérbio provado rimado - MDLXXIII

Eu supus que te ias embora 
Bem mais tarde do que agora 
Quando um bom substituto 
Comprovasse algum atributo 

Mas antes do que era esperado 
Foste sem mais despachado 
Por causa de tanto enrolares 
E a minha vida empatares 

Tão fartinha de cada finta 
Eu dispensei-te com pinta 
E se não soasse o alarme 
Seguirias a enganar-me

Dito isto estarei disponível 
Para quem tornar acessível 
O caminho para o seu coração 
Sem entrar em contradição 

Do que sente não guarde segredo 
De se dar tenha nenhum medo 
Que seja assim de ti o oposto 
Depois de rei morto rei posto 

Esperando que o rei vindouro 
Surja então coberto de ouro 
O seguinte é sempre melhor 
Para desbaratar o amor 


domingo, 12 de outubro de 2025

Provérbio provado esperando de lado

 

Fomos ganhando o hábito da desconfiança a cada nova estação de partida. Levamos o peito passo a passo mais encolhido. Quando chegamos é já de braços fechados, atentos no assinalar de outros também cruzados. Braços que não se prestam à troca porque são, a toda a nova recepção, cada vez menos soltos, menos livres.

Assim acossados, a tendência é para que ultrapassemos os acontecimentos certos de que prescindimos das evidências. Já vamos preparados, aliás, para interceptar o fingimento e representar um papel que não desejamos no teatro social. Com os dez dedos fora de cena e, com sorte, um naipe parcelado dentro das mangas. Preparados para o passou-bem frouxo, nunca para um embate de frente. Nas circunstâncias mais típicas acautelamos o boato dançando ao ritmo das cadeiras que vagam. Mas não conseguimos evitar a suspeição, isso não. Colocamos sempre alguma reserva nas intenções alheias, prontos a revelar mais uma camada de mentira por detrás da que se nos afigura mais evidente. É de facto curioso que raramente escolhamos acreditar nos outros humanos.

Quantas vezes se falou bem de nós nas costas? Certamente quase tantas como aquelas em que se falou mal. No entanto, não estamos à espera que as pessoas que nos rodeiam se reúnam para conspirar a nosso favor, imaginamos imediatamente um tribunal cujo veredicto nos prejudicará.

Seríamos mais livres, menos reféns da suspeita, se descruzássemos os braços e oferecêssemos hipóteses aos tendões. Um dos grandes problemas da comunicação, e da falta dela, é afinal neuro-esquelético: não aprendemos a ginástica da entrega por nos apresentarmos


- De braços cruzados

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Provérbio provado rimado - MDLXXII

Se achas que me falta esperteza 
Podes logo abraçar a certeza 
Que não a tenho suficiente 
Para discutir com a gente 

Se ademais te pareço cansado 
É do peso em excesso levado 
Que aguentar a burrice alheia 
É tarefa exaustiva e tão feia 

Se crês que ninguém me adora 
Podes ir desde já porta fora 
Porque eu não pedi audição 
Para ter amigos de feição 

Se de mim me julgas tão cheio 
Raramente os outros premeio 
É melhor ser como um balão 
Do que ser vazio por opção 

Se pensas que me penso melhor 
Do que a multidão em redor 
Obrigado por me dares o aviso 
Embora num contexto impreciso 

Se argumentas que um dia mudei 
Pois no mesmo lugar não fiquei 
O problema de ser sempre igual 
Não é meu mas sim teu afinal 

Se às vezes te pareço quieto 
Indiferente ou até circunspecto 
É que estar calado eu prefiro 
Com as minhas escolhas não firo 

Se adiantas que sou perdedor 
Não pedi para ser vencedor 
Não vou convencer-te de nada 
Ou ceder-te a vida emprestada 

Se por fim até se te afiguro 
Que não levo em conta o futuro 
É porque se calhar eu só levo 
Mais a sério aquilo que escrevo 

Se opinas que vais a algum lado 
Estás decerto muito equivocado 
A tua opinião não me interessa 
Eu só dou valor ao que peça 

Por isso poupa lá a energia 
Para o que te seja mais valia 
Lamento pela pouca atenção 
Fala aí com a minha mão 






sábado, 27 de setembro de 2025

Provérbio provado rimado - MDLXXI

Tu chamaste-me vaidosa

E também superficial 

Sabendo que és invejosa 

Não lhe dou atenção total 


Porém fica lá um resquício 

Dos betardos que lançaste 

Que provoca quiçá malefício

E faz-me sentir um traste 


Essa dúvida vai remoendo 

Tornando-me mais insegura 

E a coisa segue em crescendo 

Batendo-me noutra altura 


Foi apenas uma opinião 

Largada com muito despeito 

Que além de operar fricção 

Me ficou cravada no peito 


Logo há duas alternativas 

Nenhuma será a mais certa 

Surgem em vias rotativas 

Mostrando à vez uma oferta 


Então para a frente empurro 

Aceitando os traços do Eu 

Por saber que as vozes de burro 

É difícil que cheguem ao céu 


(Ilustração: José Alves)



Provérbio provado rimado - MDLXX

Às vezes não compreendo 
O modo de ser mais alheio 
Que aponta o dedo tremendo 
E mostra também o do meio 

Deito-me então a pensar 
Que não é um acto correcto 
Os defeitos de fora apontar 
No que na gente é secreto 

Portanto no que toca a mim 
Gostava que fosse diferente 
Houvesse abertura sem fim 
Nos corredores da mente 

E falassem então do que penso 
Pensassem também no que falo 
Sem um dedo hirto e tenso 
Soubessem porque me calo 

Assim caladinha converso 
Com os botões da camisa 
Que expõem um uso diverso 
E me fazem ser mais concisa 

Falando com os meus botões 
Eu faço caretas ao espelho 
E quando prevejo aflições 
Peço aos botões um conselho 

Não é que um simples botão 
Seja melhor que um amigo 
Mas ouço a voz da razão 
Falando a sério comigo 


Provérbio provado rimado - MDLXIX

Fecunde-se a opinião 
Principalmente a alheia 
Cada um tem a sua razão 
E dela a barriga tão cheia 

Porque a pessoa progride 
Na viagem que traz na retina 
Aos outros não deve pevide 
Nem sequer precisa de ardina 

Que lhe anuncie os fracassos 
Enquanto os sucessos esquece 
Que faça da espera compassos 
Comentando o que lhe acontece 

E fazendo o papel de arauto 
Da desgraça e até da tristeza 
De cada vez que um incauto 
Lá perde mais uma certeza 

Ao prever o desastre iminente 
Com o credo na boca ele passa 
Afinal o que é simplesmente 
É ser um arauto da desgraça 


Provérbio provado rimado - MDLXVIII

Quem é o tipo de marmanjo 
Que insiste em rodear-te?
É lobo com cara de anjo 
E traz a auréola à parte 

É o género de predador 
Que mais parece um falcão 
Investindo com tanto vigor 
Quer ganhar total atenção 

Anseia que a ele te rendas 
Com extrema facilidade 
Impondo-te várias agendas 
Para agires em conformidade 

Não espera obter resistência 
A tudinho o que ele deseja 
E até vê muita pertinência 
Em que te dês de bandeja 


Provérbio provado rimado - MDLXVII

Tu és um gajo pedante 
Estás tão saturado de ar 
Achas que és importante 
E um dia podes rebentar 

Crês que o teu peso é maior 
Do que o comum dos mortais 
E julgas-te um ser superior 
Mais apto do que os demais 

Conviver à tua altura 
Já foi uma fé que perdi 
Por não aturar a postura 
De quem está cheio de si 


Provérbio provado rimado - MDLXVI

Amor a quem tanto concedo 
A minha constante oferta 
Que até chega a dar medo 
Estar sempre de perna aberta 

Muitas vezes estás indisponível 
E eu tão parva espero sentada 
O teu desdém é de um nível 
Que me deixa super frustrada 

Não tenho o tempo do mundo 
Para estar por ti a aguardar 
E porque eu sei lá no fundo 
Não termos pernas pra andar 


Provérbio provado rimado - MDLXV

Por onde tu andas amor?
Em que longínquo hemisfério?
As saudades do teu sabor 
São para mim um mistério 

No meu íntimo mal te provei 
O que com certeza te espanta 
Já que o dia em que te beijei 
Deixou-me um nó na garganta 


Provérbio provado rimado - MDLXIV

Parecia existir empatia 
Misturada com muita tesão 
O João gostou da Maria 
E a Maria gostou do João 

Mas diante de um compromisso 
O João fez marcha-atrás 
Não queria entrar logo nisso 
Por pensar que não era capaz 

No que toca à Maria tão doce 
Tal qual um gato escaldado 
Deixou que a coisa assim fosse 
Só promessa de um namorado 

Em face do fraco empenho 
E da expectativa a morrer 
Fazia-lhes falta um desenho 
Que dissesse como proceder 

Então nem houve começo 
Tão pouco chegaram à cama 
Restou um sóbrio apreço 
E os dois ficaram pela rama 


quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Provérbio provado rimado - MDLXIII

O cérebro é tão bonito 
Que todos o deviam ter
Porém não fiques aflito 
Não vás logo esmorecer

Por isso persiste e estuda 
Que decerto irás progredir 
Pois na vida tudo muda 
Não queiras só subsistir 


sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Provérbio provado rimado - MDLXII

Nem sei sequer se és giro 
Mas essa ideia eu prefiro 
Vou imaginar-te um galã 
Sem remelas pela manhã 

E quando um dia te vir 
Irei mirar-te a sorrir 
Constatando com emoção 
Que tu és um grande pão 


quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Provérbio provado rimado - MDLXI

Se te passa a perna o futuro 
Erguendo-te em volta um muro 
Tu és minado pela ansiedade 
De não querer viver pla metade 

De facto o futuro dá medo 
Não é pra ninguém segredo 
E é um país tão distante 
Onde tu irás doravante 

Quando tu quiseres mentir 
Fala do tempo que há-de vir 
É argumento que não convence 
Que o futuro a Deus pertence 


quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Provérbio provado hospedado

A Eva era prima do Miguel. Não o era por afinidade directa: as avós de ambos é que haviam sido, elas sim, primas direitas. 
Ou seja, a Eva não pertencia ao núcleo familiar do Miguel, mas não era uma prima demasiado afastada, o que o tinha obrigado a dar-lhe a mão num caso de necessidade e era, aquele caso, caso para isso.

A bolha imobiliária rebentara como um fogo de artifício, primeiramente lento e espaçado e depois firme e prolongado. 
Pequenos foguetes irrompiam, estalando aqui e ali numa progressão matemática, enchendo os bairros do cheiro a pólvora seca. Começavam por ser estalidos discretos mas, à medida que o fogo se desenvolvia, iam fazendo mais e mais barulho e produzindo mais e mais impacto.
Os habitantes foram então atirados para as periferias; periferias, essas, que acabariam também um dia por rebentar.

Foi no decorrer desta espécie de estágio para o estado de sítio que a Eva passou a ocupar o quarto de hóspedes vago em casa do primo.
Vago é como quem diz: a divisão funcionara, até àquela data, como quarto da tralha. Metade da dita tralha foi deslocada para a garagem; a outra metade, de utilidade ainda mais duvidosa, foi deitada no lixo pelo Miguel sem dó nem piedade.
Mas a Dorinda acarinhava aquele montão de objectos: afinal era a sua tralha!

Após ter assistido ao despejar dos seus balangandãs nos contentores, preparou-se para tomar a Eva de ponta ainda nem a rapariga era chegada.
No primeiro dia, rebolou excessivamente os olhos mal a viu. Foi pouco amável para a Eva. No segundo foi antipática e no terceiro desabrida.
A outra não se mancava, virando lentamente as costas às investidas da mulher do primo. Recolhia-se ao quarto de hóspedes onde ficava, pelo menos, dez minutos a alisar as pregas da colcha para acalmar.

Veio o final do Inverno, depois chegou a Primavera e, na altura em que as primeiras flores roxas dos jacarandás começavam a atapetar as ruas, a Eva pediu para falar em privado com o primo.
Foram até ao jardim. Eva lamuriava-se, atemorizada com o preço das rendas que, desde o primeiro disparo, nunca mais tinham parado de aumentar.
Sabes o Ezequiel?, e ia inquirindo o primo, Foi despejado, vê lá tu! E, com ele, também a namorada e o Pavlov, o husky siberiano. Tens de os ajudar, primo, afinal de contas pertencem à nossa família!, enquanto o Miguel se interrogava se se veria forçado a recolher a parentela em quinto grau.

Dorinda exasperou-se quase até ao fanico. Não pode ser, Miguel, qualquer dia até a tua avó morta quer vir morar aqui connosco! O marido suspirou, encolheu os ombros e foi atender a campainha.
Entraram os primos de mala e cuia com o seu cão asmático pela trela. A dona da casa engoliu em seco. Não disse palavra.
A antipatia para com Eva fora afinal uma brincadeira de crianças: agora a Dorinda era ostensivamente silenciosa enquanto os olhos lhe chispavam. Sentia-se que a qualquer momento podia entrar em erupção.

Ainda assim, aguentou todo o fim de semana sem piar. Mas na segunda-feira despertou irada. Enervou-se mais ainda ao vislumbrar pequenos tufos de pêlo de cão que esvoaçavam por toda a casa. A sua casa!
Expulsou os últimos intrusos aos brados, aproveitando também para encaminhar a Eva para a porta de saída. Os primos mal tiveram tempo de reunir os seus pertences durante a fuga.

Bateu estridentemente com a porta da rua. Inspirou muito fundo para depois despejar todo o ar numa nortada. Virou-se então para o marido: Miguel, os hóspedes são como o peixe, a partir do terceiro dia começam a cheirar mal.


- Hóspede e pescada aos três dias enfada 

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Provérbio provado rimado - MDLX

Se não tiveres um espelho 
Nunca vês as tuas orelhas 
E ignoras logo o conselho 
Que canta o coro das velhas 

E mesmo de régua na mão 
Não contas os fios de cabelo 
Pois será uma coisa em vão 
Como a agulha e o camelo 

Se tentares o bicho passar 
Pelo estreito buraco da dita 
É tão certo que até ao bisar 
Só possas achar a desdita 

Tarefa inglória e inútil 
Que dispensa a repetição 
Qualquer tentativa é fútil 
Porque nunca irá de feição 

Que é muito mais fácil que passe 
Um camelo pelo fundo da agulha 
Que um rico por mais que tentasse 
Logo entrar na divina patrulha 

É uma frase do livro sagrado 
Escrita pelo apóstolo Mateus 
Para quem estava apostado 
De entrar no reino de Deus 




Provérbio provado rimado - MDLIX

Esta coisa de não empreender 
Por ter medo do que acontecer 
Sei que é apenas cobardia 
E não vivo o que porviria 

Apesar de ser assim esquiva 
Por vezes roço a tentativa 
E num filme ao vivo alinho 
Ou até num jantar com vinho 

Mas sempre se revela precoce 
E muito melhor se não fosse 
Suceder o que foi sucedido 
Antes de tu teres aparecido 

Eu ainda não te conheço 
Contudo já de ti me despeço 
Porque antes de te desvendar 
Eu já estou de ti a escapar 

No fim das contas o que dói 
É dizer É tão bom não foi?
Por isso desculpa por hoje 
Este jogo do toca e foge 


terça-feira, 2 de setembro de 2025

Provérbio provado rimado - MDLVIII

O Luís é muito envergonhado 
Mas no fundo é um assanhado 
Lança a escada tirando a seguir 
Para depois do mapa sumir 

Sem saber o que ele pretende 
Nenhuma fêmea o compreende
E por causa desse enorme medo 
O Luís fica a chuchar no dedo 

Não sei se aprende o Luís 
Fica imensamente infeliz 
Refugia-se assim na bebida 
Por lhe faltar amor na vida 

Ele então dirige-se ao bar 
Para whisky novo emborcar 
Prestes a que lhe dê o fanico 
Por não ter molhado o bico 

Que o bico está seco e caído 
Por estar de paixão suprimido 
Ele só o molhou num sentido 
Após ter dez shots bebido 


Provérbio provado rimado - MDLVII

Todos julgam pela aparência 
Ninguém segundo a essência 
Mas não entendo a permissa 
Que mais se afigura preguiça 

Total falta de curiosidade 
Que somente mira metade 
Com os demais não vai fundo 
Ao ser e ao que tem de profundo 

A aparência é só o início 
Não exige qualquer sacrifício 
E então não se deve julgar 
Sem sentir o sangue a pulsar 


segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Provérbio provado rimado - MDLVI

Eu não me considero exigente 
Porém sou muito impaciente 
E por isso levada da breca 
Quando me estão a dar seca 

Até ponho a mão na consciência 
Mas falta-me logo a paciência 
E prefiro vomitar na retrete 
A fazer qualquer tipo de frete 


sábado, 30 de agosto de 2025

Provérbio provado rimado - MDLV

Os olhos nunca precisam 
De legendas a acompanhar 
Pois as duas pupilas avisam 
O que eles têm para revelar 

E para saber o que a gente 
Tem receio de confessar 
É só olhar bem de frente 
Para tudo lhe adivinhar 



domingo, 24 de agosto de 2025

Provérbio provado rimado - MDLIV

A notícia chegou de repente 
Revestida de algum nevoeiro 
Quando um poeta descontente 
Se apanhou sem dinheiro 

Apareceu uma data de gente 
A oferecer condolências 
Na missa de corpo presente 
Para encobrir consciências 

E logo ele que detestava 
Eufemismos e coisas fofinhas 
Nunca em vida imaginava 
Tal chorrilho de ladainhas 

Não só partiu mas finou-se
E não faleceu mas morreu 
Acabou-se o que não era doce 
Quando assim desapareceu 

Agora tem nova morada 
Na quinta das tabuletas 
Que tão pouco é visitada 
Pelos vivos amigos poetas 


sábado, 23 de agosto de 2025

Provérbio provado rimado - MDLIII

Ter a menos um parafuso 
Faz de ti deveras maluco 
E também um pouco caduco 
Deixa quem te rodeia confuso 

Nessa peça havia tino 
Não sabes como a perdeste 
Por andares sempre a leste 
Não controlas o teu destino 

Não te enquadras naqueles padrões 
Que são considerados normais 
Como tu haverá outros mais 
Que não mandam nas emoções 


quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Provérbio provado rimado - MDLII

Que o pão exista a rodos 
Na vida de comunidade 
E a dádiva toque a todos 
No que é a generosidade 

O acesso ao forno é aberto 
Livre para qualquer pessoa 
E para quem esteja por perto 
Que queira o pão e a broa 

O cenário em si é tão belo 
Desperta bons sentimentos 
Para que exista em paralelo 
A divisão dos rendimentos

E que haja boa saudinha 
O forno não pare de cozer 
Que o pão que é da vizinha 
O compadre o possa comer


quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Provérbio provado rimado - MDLI

Andavas pela estrada velha 
Bebendo a vida em tragos 
Perseguindo a vã centelha 
Que ofuscava os afagos 

Em vendo que não conseguias 
Tornar-te num ser egoísta 
Gastavas-te em arritmias 
Que trouxessem essa conquista 

Ignoravas o já percorrido 
Apagando de vez o passado 
Por causa de teres fingido 
Estar com outros preocupado 

Não olhavas sequer a paisagem 
Por te pôres a caminho dormente 
Só pensando no fim da viagem 
Desprezavas o resto da gente 

Até rias dos esforços alheios 
Observando de forma picuinhas 
Com que réguas e com que meios 
Os outros suavam as estopinhas 

(Ilustração: Sérgio Neves)


segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Provérbio provado rimado - MDL

Tu ficas à espera num canto 
E ainda reages com espanto 
Cada vez que te faço um convite 
Que qualquer outro admite 

É vergonha ou timidez 
Ou é apenas estupidez?
Eu não consigo perceber 
Porque te queres esconder 

Não vou tirar-te um pedaço 
Se um dia te der um abraço 
Mas deixas-me atrapalhada 
E eu perco logo a pedalada 

Quando me dizes Cá estamos 
Percebo que já não vamos 
Sair para a cidade grande 
Com muita pena Alexandre 

Que falta de entusiasmo 
Ou um pouco de sarcasmo 
Tu preferes ficar na tua 
Do que ir comigo prá rua 

Tão velho antes da hora 
Estás sempre a ir embora 
E então já não sou capaz
De te ver sempre por trás 


Provérbio provado rimado - MDXLIX

Se vens para aqui chatear 
Grito logo Vai-te catar 
Fazendo entretanto a aposta 
Que te vais sem dar resposta 


Provérbio provado rimado - MDXLVIII

Tu não és flor que se cheire 
E és uma gaja perigosa 
Talvez te falte um alqueire 
Também és muito invejosa 

Se alguém te cheira a flor 
Experimenta algum arrepio 
Já que é um terrível odor 
Que exala do teu feitio 

O teu caule é muito direito
Então tem que se lhe diga
Pois isso para mim é defeito 
Não podes ser minha amiga 


quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Provérbio provado rimado - MDXLVII

O Júlio arrasta a asa 
A qualquer rabo de saias 
Escolhendo as suas cobaias 
Fica a melgar e não baza

Não chega a ser muito chato 
Pois finge-se tão distraído 
Mostrando o lado divertido 
Com um humor abstracto 

E apesar deste desapego 
O Júlio é um cortejador 
Que espera levar a melhor 
Para o seu alimento do ego 


Provérbio provado rimado - MDXLVI

O Roberto é muito invejoso 
Além de ser mau e manhoso 
Está sempre a olhar em redor 
Para ver quem tem naco maior 

Se o invejado até se esforçou 
Só há a inveja que sobrou 
Mas se os bens provêm do ar 
O Roberto vai mais invejar 

Inclusive usa do insulto 
Parecendo assim pouco adulto 
Sem obter nenhuma vantagem 
Vai sair-lhe cara a viagem 

Porém ele nunca confessa 
E até a bondade professa 
Ele nega ter tal sentimento 
Que mira com lentes de aumento 

Coisa vergonhosa e tão vil 
A inveja está-lhe no perfil 
Não engana ninguém o Roberto 
Quando imagina que é esperto 

Às vezes anda acabrunhado 
Traz na boca um gosto salgado 
Por não suportar a felicidade
Nem à volta da própria cidade 

Mas se topa alguém infeliz 
Vai depressa meter o nariz 
Lastimando tanto o invejado 
Que até quase se sente estimado 

É pior do que o ódio a inveja 
Mais suja naquilo que deseja 
É cadela que morde e não come 
Pois jamais vai matar essa fome