Chama-se Susana mas chamam-lhe Susaninha, talvez por parecer dez réis de gente: muito baixinha e franzina, é na secção de criança das lojas que arranja roupa que lhe sirva. É por isso que traja com cores de bebé crescida, folhinhos e rendinhas qb, e nas camisolas bonecada com fartura. Para ajudar à festa, Susaninha não se maquilha nem usa saltos altos.
Por tudo isto se imagina uma total ausência de sex appeal: não podia haver maior engano!; por detrás daquela aparência sonsa e fofinha, Susaninha é uma fêmea predadora com F e P grandes. Actua pela calada, fitando o macho de baixo para cima, cheia de pestanas, desviando timidamente o olhar quando é apanhada. Esse jogo silencioso é repetido vezes sem conta, recatadamente. Não participa nas conversas, finge que não é com ela se a interpelam, deixa-se estar placidamente a observar numa atitude despreocupada, com os atacadores desapertados. Com este ar de menina ternurenta e desprotegida, aguarda pacientemente que o objecto desse desejo recente se ofereça para a levar a casa. Antes de dobrar a última esquina há um túnel: é aí que a Susaninha, de repente enorme, ataca no escuro sem dar tempo a qualquer reacção do outro lado. Ah, se aquele túnel falasse... Mas já se sabe que as paredes têm ouvidos, não têm boca. As presas nada contam também, envergonhados por terem sido apanhados assim de surpresa quando se julgavam senhores da situação, eles que supunham vários passeios até à porta de casa até à noite do primeiro roçar mão na mão com correspondente beijinho de passarinho. Mais envergonhados ficam ainda no depois, pois a Susaninha ignora-os dali em diante, baixando-se para apertar os atacadores quando lhe dirigem a palavra.
E quando no grupo de amigos lhe chamam porta chaves, metro e meio, e muitas outras palavras a terminar em inha, ela não se rala e responde:
- A mulher quer-se pequenina como a sardinha
quarta-feira, 11 de outubro de 2017
Provérbio feminino pequenino
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário