Ela não era de cá. Pelo menos não deste planeta. Sempre uma estranha em terra estranha. Nunca esse sentimento de pertença. Ela toda brisa. Conseguiria colocar os pés no chão, caso o desejasse, mas nela nunca esses instantes. Nela uma imaginação esvoaçante, viajando incessante por territórios inacessíveis. Ela toda fora do mundo, inventando labirintos inexplorados, mapas redondos sem fronteiras. Nenhuma vocação cartográfica, nenhuma vontade de regras. Um esforço intenso na direcção da memória lisa, a recordação branca, uma curiosidade de surpresas constantes cada vez mais limpas. Nela uma ausência de dor. Morreu jovem. Tratou disso com as próprias mãos quando, toda ela espanto, descobriu que as tinha nas extremidades das asas. Morreu jovem para não envelhecer lentamente mastigada pela máquina. Não se despediu, claro. Foi melhor assim.
- Morta sim, mas presa não
sexta-feira, 13 de outubro de 2017
Provérbio de uma vida suicida
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário