Provérbios Provados noutras casas:

domingo, 7 de janeiro de 2018

Provérbio provado excitado

A sala está às escuras. Um único foco ilumina a mesa do computador onde Humberto está sentado com a mão direita no rato.
A oito quilómetros de distância, a luz fraca do candeeiro da mesinha de cabeceira enche o quarto de Sara de sombras. Está sentada na cama com o telefone na mão, presa à parede pelo fio do carregador.
Entabularam mesmo agora conversa num site de encontros; vejamos então o que dizem em silêncio numa janela:

Humberto - Estive a ver as tuas fotografias. Estás sempre assim sorridente?
Sara - Sim, tenho sempre um sorriso: são de borla. Às vezes é nervoso miudinho. Outras rio para não chorar.
H - Nervoso miudinho é o que estou a sentir agora...
S - Oh, não sintas! Sou pródiga em deixar as pessoas à vontade.
H - Pronto, já relaxei. Sou um pouco tímido... pelo menos até me conseguir soltar.
S - A timidez é o colesterol que bloqueia a veia das novas amizades, nunca ouviste dizer?
H - Não, mas sinto a timidez mesmo assim, é uma verdadeira obstrução! Às vezes faltam-me as palavras para me exprimir...
S - Eu uso muitas muletas na linguagem. Ultimamente abuso da expressão sem espinhas. Quando quero referir-me a algo puro, sem artifícios.
H - Também uso essa para coisas que são fáceis, sem complicações. Estar aqui a conversar contigo está a ser sem espinhas!
S - Neste momento, o que mais desejo é uma vida sem espinhas.
H - Vida sem espinhas é uma ambição global. O curioso é que nós é que pomos algumas delas... E depois ficam-nos atravessadas na garganta! Sabes, estou aqui cheio de vontade de te convidar para uma cerveja.
S - Estás muito afoito, rapazolas! É demasiado precoce... Conheçamo-nos um pouco melhor primeiro para descobrirmos os mistérios insondáveis de ambos.
H - Era mais para quebrar o gelo, mas eu sei esperar: é raro aparecer por estas persianas mulher tão interessante como tu! E, para que compreendas os meus mistérios, vou escrever o livro Como conhecer um Humberto. Achas que vende?
S - Talvez não venda muito: o enredo é fraquinho.
H - Pronto, acabaste com a minha carreira de escritor! Posso fazer uma pergunta marota?
S - Ah, essa timidez esfuma-se a olhos vistos! Mas podes, sim. Resta saber se responderei..
H - Gostava de saber o que te dá tesão. Responde sem espinhas!
S - A inteligência e o sentido de humor. E a aparência alguma coisa: é sempre atraente um corpo bem desenhado ou uma cara bonita, mas acabo por achar mais piada a essa coisa meio inqualificável chamada charme. No fundo, a tesão é uma questão de feed back, não se alimenta sozinha e quando há empatia tende a crescer. As palavras dão-me tesão: uma palavra bem escolhida faz maravilhas! E a atenção aos pormenores também é excitante; quando as pessoas são boas observadoras, podem estimular-te mais e melhor.
H - Não esperava uma resposta tão detalhada... Vejo que já tinhas pensado sobre o assunto, que te conheces bem! O que me dá tesão são várias coisas, como o corpo e a sensualidade, mas sem dúvida o que mais me deixa louco são pessoas extrovertidas, que se riem com vontade e não têm medo de dizer o que pensam. Como tu, Sara. Estás a dar-me uma tesão doida!

- Sem tesão não há solução

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