O Pereirinha é o último dos marialvas lusos. Obedece devidamente ao estereótipo do macho latino: a camisa aberta deixando antever os tufos de pêlos do peito, a bigodaça farfalhuda e o cabelo penteado para trás com um sucedâneo da brilhantina: só lhe falta mesmo um pequeno espeto de madeira mastigado ao canto da boca. Mas colmata facilmente essa lacuna com um palito hidráulico constante, que o trejeito do maxilar e o excesso de saliva nos cantos da boca denunciam.
O Tojó Pereirinha adora trocadilhos brejeiros e larga piropos com facilidade. Tem sempre o botão no On: é o chamado fala-barato que se empolga com o som da própria voz, o galo mais vaidoso das redondezas no seu cocorocó.
Devido à sua personalidade exibicionista apresenta uma postura belicosa: há nele um arruaceiro em latência pronto a explodir ao mínimo pentelho. Sempre que se vê metido em assados nalguma confusão nos espaços públicos, o Tojó roga com desespero um Agarrem-me senão eu vou-me a ele ao companheiro mais próximo e, só depois de já ter os movimentos restringidos pelos braços vizinhos, é que começa a espernear e a despejar injúrias na direcção dos opositores. Quando ele não é um dos intervenientes na briga ou no bate-boca, gosta de exaltar os ânimos, acicatando as hostes com o clássico Havia de ser comigo que eu fazia e acontecia e o diabo a este, mostrando-se tão valente como decidido. Não se deixem, todavia, enganar: é tudo para a fotografia, para inglês ver.
E por falar em inglês - agora esta calhou mesmo bem, nem por encomenda! - denota-se no nosso Pereirinha um interesse excessivo pelas fêmeas de além-fronteiras, em detrimento das portuguesas, o que tem muito que se lhe diga...
Analisando assim a frio a situação das suas conquistas, é fácil de perceber que as camones não permanecem por cá muito tempo. Surgem, o mais das vezes, em grupos numerosos de mulheres que, ainda mal colocaram o calcanhar em solo portucalense, logo pretendem diversão a todo o custo. Diversão de todos os tipos, o sexual incluído. Regressam passadas duas semanas, se não antes, ao seu chão pátrio. No strings attached.
É muito conveniente para o Tojó. Fazer a corte a uma mulher nativa dá muito mais trabalho. E - e aqui é que reside o busílis do escaldão - pode sempre descambar numa dolorosa mudança de pele, num abandono mais ou menos aleatório. Por isso, o nosso compatriota protege-se. Ele lá quer que percebam que a sua fraca autoestima não aguenta uma rejeição!
Então passeia o seu bronzeado nas areias atlânticas à cata de uma ocasional manceba. Como quem caça borboletas: balançando uma rede esburacada que persegue leviana e irreflectidamente as cores mais vibrantes.
Quanto menos elas falarem melhor: o Tojó Pereirinha é um bocado surdo quando lhe convém. Para não mencionar que não domina minimamente outras línguas, já o português é o que é, cuspido às três pancadas. Pois é, quanto menos perguntas lhe fizerem mais o Tojó se dedica à fugaz relação num câmbio abundante de saliva e ronrons um tanto ou quanto dissimulados. Ele gosta é de mulheres assim: que não levantem ondas nem o aborreçam com um fraseado incessante. Que sejam meigas e que não dominem muitos temas, numa poupança de opiniões redundantes. Que permaneçam tão caladinhas como um careca a quem se oferece um pente. E como no supermercado a escolha da fruta mais sumarenta: escolhida apenas com recurso à visão e ao olfacto. Sim, nem caroços nem pevides se manifestam nessa eleição.
- A mulher e a meloa só a calada é que é boa
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