Mais tarde, já eu um pouco mais crescida e sapiente, até achava que a tia Elsa recorria tantas vezes a este guião de bolso como estratégia de defesa: antes que calhasse alguém apontar-lhe o dedo devido ao excesso de peso, sinalizava ela a sua silhueta arredondada. É mais para amar, dizia, e ria, ria muito, solteiríssima que só ela, só mesmo para deixar a gente desconcertada.
A tia tinha um calcanhar muito fácil de identificar. Na verdade, a tia tinha dois porque não era deficiente. Mas ia eu dizendo, a sobrinha favorita, que a tia Elsa se perdia por chocolate. Desvairava completamente numa compulsão de tabletes inteiras a eito até lamber os dedos e as sobras doces que se alojavam nas unhas. Negro, branco, de leite com amêndoas, com avelãs: a tia não era esquisita, todos devorava de uma assentada. Era um facto indesmentível: a tia Elsa pelava-se por chocolate.
Às vezes, talvez com o intuito de chocar os mais moralistas, talvez para se vingar dos que lhe chamavam gorda pelas costas, dizia com um sorrisinho malicioso: Adoro chocolate, cá para mim não há nada melhor, nem mesmo..., vocês sabem, está aqui a criança... E acrescentava: Nesta vida
- Aquilo que sabe bem ou faz mal ou é pecado
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