Provérbios Provados noutras casas:

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Provérbio bovino

Vistas bem as coisas, qualquer dia da semana podia ser dia de feira, começando por segunda feira, tropeçando na terça e por ali adiante até à sexta feira. Aos domingos é que nem pensar, que era dia de missa. Os sábados, porém, eram terra de ninguém, onde se trabalhava na terra tanto ou mais que de semana. Mas se, por exemplo, um homem se quisesse ir embebedar para a tasca do Álvaro ou simplesmente alapar o rabo nos bancos do largo vendo quem passava, ninguém teria nada a obstar, desde que tomasse o seu banho semanal.

Vamos então à cantiga: calhava na vila a feira ser a quinta feira, se bem que nem todo o mês tivesse a sua feira na dita quinta quinta feira. Todo o espaço se aproveitava e de tudo um pouco se apregoava da origem ao produto final, desde que não corresse mal. Assim, não apenas se vendia a couve, como também a semente que a houve, e mais a maçã viçosa e o pesticida que a fez saborosa. Vendia-se a vaca e tudo o que dela saía: o leite que se mungia depois que ela mugia. O boi vinha para o prato, e do porco nascia o courato. Quanto ao ovo e à galinha é uma discussão antiga, guerra que não vamos travar, pois do que aqui se trata é o que cada um vem comprar.
Acompanhemos o ti Zé da Aparecida a fechar o negócio da vida, já entrega o envelope com as notas gastas de tão contadas, contente do vendedor o estar a tratar por senhor, e ei-los no aperto de mão, dando por encerrada a questão. Era uma vaca leiteira, não era uma vaca qualquer. Leite, manteiguinha, já sabemos a ladainha. Mas voltando à vaca fria, é tudo trinta e um de boca; afinal o compadre é sogro da afilhada e a comadre ainda é prima afastada.
O ti Zé torna a casa satisfeito, sonhando tamanho proveito. Mas dali a uns dias a expectativa é gorada, quando a esposa indignada se acerca contrariada:

- A vaca da minha vizinha dá mais leite do que a minha

Sem comentários: