Provérbios Provados noutras casas:

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Provérbio pária da má culinária

Quando acabou o liceu com a ajuda das cábulas e da sorte a somar à da Catarina, a colega mais marrona e feiosa da turma, que tinha um fraquinho por ele e um acne persistente e lhe dava explicações de borla com uma paciência infinita, o Sebastião decidiu que não queria ir para a faculdade. Depois duns testes psicotecnicos que não acusaram particular vocação, deparou-se com uma grande indecisão no respeitante ao seu futuro profissional e andou a pastar durante uns meses, dormindo até tarde, ocupando o tempo no café a jogar às setas e deitando-se a altas horas da noite. Mas como o carro não andava a água e o telemóvel não se carregava com feijões, decidiu-se pela solução mais fácil e óbvia para quem não sabe o que fazer da vidinha: o serviço militar. Tinha esperança de por lá poder ficar a bater continências e a arrastar o rabo pelas cadeiras, porém acontece que o Sebastião era um indivíduo indisciplinado, e com pouco amor pela autoridade visível e invisível, e ao cabo de pouco mais de um ano foi amável mas assertivamente convidado a sair. Viu-se novamente sem um objectivo e de algibeiras vazias e, após pensar por um tempo no que queria fazer, optou por um breve curso de culinária. Só que nem um ovo sabia estrelar e não suspeitava que entre refogado e estrugido a diferença estava na latitude. Muito a custo, lá foi queimando etapas e tachos e quando terminou o curso foi-lhe oferecido um estágio num pequeno hotel da Baixa. Logo no primeiro dia teve de acordar com as galinhas e foram elas as cobaias do seu prato de estreia. Mas a coisa correu-lhe mal: a carne estava rija que nem cornos, o molho intragável e o puré tinha grumos, para já não falar que a comida ficou muito salgada. Quando começaram a chegar à cozinha as queixas dos clientes, nem sequer pediu desculpa e ainda soube dizer com a maior das latas:

- Quem não gosta come menos

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