Provérbios Provados noutras casas:

sábado, 6 de setembro de 2008

Provérbio com um piquinho a Lobo Antunes

Chove copiosamente, pode dizer-se assim copiosamente, já que o verão não é a estação de ver andar pessoas apressadas a fugir da chuva brandindo chapéus ao vento.
Passa uma senhora acolá, vê-se daqui que pouco agasalhada, apanhada desprevenida, o chapéu certamente tomado emprestado ou esquecido no balde à porta do serviço, a devolver inteiro se lhe conservar as varetas que vergam na luta oblíqua com a chuva.
O jardim de repente deserto, os rapazes da roda de charros a despedirem-se em complicados apertos de mão, talvez o tecto das árvores a pingar muitas lágrimas nos bonés, e já só um cão sacudindo a chuva num agitar frenético do pêlo, a patinhar pela estrada coberta de um lençol fino de água.
Os carros abrandam em pequenos repuxos, as luzes acesas embora ainda de dia, e impacientes na buzina atravessam a cortina de chuva, a rádio a dar conta do trânsito complicado nas periferias e da meteorologia nebulosa para os dias que se seguem.
Afinal a varanda lavada hoje mais cedo e para quê, se chuva e vento capazes de arrastar o lixo das vizinhas e das pombas sem questionar quais as mais porcas.
Claro que não ainda o dilúvio outonal, descanse Noé a arca no estaleiro, só a suspeita de que são as águas de setembro fechando o verão, como na canção do outro hemisfério.

- Chuvas verdadeiras em Setembro as primeiras



P.S – Post livre de preconceitos de presunção, e quiçá pedindo perdão pela ousadia no título, com a devida vénia ao Mestre.

2 comentários:

anarresti disse...

o Tratado das Paixões da Alma continua a ser um dos livros da minha vida. :D
gostei destes salpicos de sons, cores, do movimento, e dos comentários-excertos-de-pensamento.

abraço

Margarida Batista disse...

ora aí está um livro dele que não li ainda, que a lista é extensa.. e espessa :)

e salpicos de sons, sal, mar, o que nos leva ao provérbio acima

abraço