Até nas fotografias o Leonardo era tímido: se estava em grupo, mal se lhe vislumbrava o perfil que, escondido lá bem para trás entre a turba, parecia que se tinha evaporado; se a custo o obrigavam a uma das suas raríssimas fotografias de rosto, prescindia de olhar a câmara de frente e nunca descolava os lábios ficando sempre com ar ausente.
O Leonardo gostava das suas rotinas e passar despercebido era para si uma conquista: felicidade que constantemente se dobrava ao peso das suas submissões. Não levantava a voz em nenhuma ocasião, nem para alertar Agarra que é ladrão. O Leonardo entregaria os seus tesouros sem pestanejar de deixaria que, sob o seu olhar, fossem subtraídos a outrém; não por medo, não!, mas por não se querer salientar.
Qualquer pessoa era, assim, um escadote e ele o seu calcanhar. Pode pensar-se que o Leonardo não se tinha em boa conta, não se dava o devido valor. Erro puro: ele vivia satisfeito por ser um mero grão de areia na poeira do cosmos com a sua reputação de tipo discreto e honesto.
Longos anos decorriam sem um estremecimento, visto que era competente a ignorar qualquer ofensa como se não lhe fosse dirigida. Se por acaso o tentavam espicaçar até à exaustão à procura de uma reacção minimamente explosiva, o mais que conseguiam era que o Leonardo franzisse o sobrolho levemente. E se lhe perguntavam: Mas porque raio és assim tão tímido?, ele limitava-se a responder calmamente:
- Não é defeito, é feitio
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