Provérbios Provados noutras casas:

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Provérbio improvável

Conheci Mariana através de uma amiga numa época em que eu estava, por assim dizer, “em alta”. Nessa altura a vida corria-me aparentemente muito bem a vários níveis, e sendo Mariana uma pessoa dada a aparências interessou-se por mim.
Embora não seja este o provérbio a provar, é sabido que as aparências iludem, mesmo a própria realidade a que vamos chamando vida a cada momento.
Fosse então por eu erradamente lhe transmitir essa impressão, fosse Mariana impressionável ou até interesseira, convivemos algumas (poucas) vezes nessa espécie de turbilhão devaneador em que eu vivia. As solicitações eram despropositadas e desproporcionadas à confiança que não existia; e assim que Mariana começou a perceber que não encaixava nos seus padrões de camarilha, deixou bruscamente de me convidar. Posso adivinhar que não possuísse tão elevados preceitos sobre o que está ou deixa de estar na moda, que não encaixasse nos seus hábitos de vida mais saudável, posso até suspeitar que deixei de lhe interessar quando percebeu que eu estava afinal, por assim dizer, “na mó de baixo”.
Praticamente todos os conhecimentos em cadeia dessa época, tal como do nada surgiram, logo se desvaneceram, falíveis e perecíveis. Isto incomodou-me até perceber que as pessoas querem que nos pareçamos com quem imaginaram que somos, ou talvez até – e indo mais longe – eu mesma me quis parecer com aquela com quem me queria parecer, sendo essa eu mesma.
E para não continuar em discurso circular, e me aproximar perigosamente do vão filosofar, nem sempre é amigo da verdade, o provérbio que hoje vim provar:

- Amigo do meu amigo, meu amigo é

Provérbio provado num poema atrevido

«Primeiro é abraçá-la e apalpá-la,
e num instante com beijos entretê-la.
Primeiro é provocá-la e encendê-la,
depois lutar com ela e derrubá-la.

Primeiro é insistir e arregaçá-la,
as pernas pondo entre as pernas dela.
Primeiro é acabar isto com ela,
depois vem o deleite de gozá-la.

Não fazer, como soem os casados,
mais que chegar e achá-la preparada:
de tão doce dá fome verdadeira.

Hão-de ser os deleites desejados;
se não, não dão prazer nem valem nada,
pois não há quem o barato comprar queira


Anónimo ( Séc. XVI )
Jardim de Poesias Eróticas do Siglo de Oro


P.S. – Post livre de preconceitos moralistas, e quiçá assinando-se anónimo para não ser lançado à fogueira junto com o verso.