Provérbios Provados noutras casas:

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Provérbio provado rimado - DCCXXXIII

É impossível gostar
Igual de toda a gente
A quem não quer agradar
É melhor ser indiferente

Quando os santos não casam
Instala-se grande tensão
São sentimentos que arrasam
Uma eventual afeição

A falta de empatia
É uma coisa de pele
E a cara denuncia
Quem o outro repele

Pior é estar na berlinda
Do outro ser-se um alvo
A pessoa não ser bem-vinda
Fazer figura de papalvo

Provérbio provado rimado - DCCXXXII

A mãe galinha que aquece
Os pintos debaixo da asa
Uma medalha merece
Que distinga a sua casa

A capoeira é o lar
Onde agrupa o milho
Que irá aos pintos dar
Desde que não haja sarilho

Pintainhos em fileira
Só saiem da capoeira
Quando a galinha os guia
Com tanto desvelo os cria

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Provérbio provado rimado - DCCXXXI

O dia foi uma grande canseira
Está na hora de ir descansar
Diz aos putos que acabou a doideira
A família vai-se toda deitar

Há uma frase que nunca falha
É a célebre chichi cama
E depois quando lá calha
Pode ser que até haja chama

Desejo-te então uma noite feliz
Ginástica boa com a tua mulher
Desde que não partas o nariz
Que te contentes com o que houver

Se não houver nada tem paciência
Que amanhã também é dia
Os preliminares são uma ciência
Tem sempre em conta esta ousadia

Provérbio provado rimado - DCCXXX

Já o meu livro compraram
E quinze euros gastaram
Não o deixem arrumadinho
Vão lê-lo com todo o jeitinho

Obrigada pela atenção
Agradeço do coração
Recebam de mim beijos mil
Até eu esticar o pernil

Provérbio provado rimado - DCCXXIX

Não quero mais nada contigo
Nem és sequer meu amigo
És torpe e és egoísta
E até um pouco vigarista

Não me irei arrepender
Não tenho nada a perder
A conversa acaba agora
Desopila daqui para fora

Provérbio provado rimado - DCCXXVIII

Palavra puxa palavra
Assim se faz uma quadra
Sílabas devem ser sete
Esta escriba não promete

Pois a quadra é cantada
Na carola alinhavada
Feita em dois minutos ou três
Sai toda de uma só vez

Provérbio provado rimado - DCCXXVI

As paredes de qualquer cemitério
Só servem mesmo para enfeitar
Os de dentro não podem sair
Os de fora não querem entrar

Ninguém quer ir para lá
Desde que esteja bem do miolo
Deseja viver muitos anos
Não quer cedo ir fazer tijolo

Provérbio provado rimado - DCCXXVI

Para um careca ir pentear
Um pente sem dentes deve bastar
Não gasta enfim nenhum dinheiro
Porque não precisa de cabeleireiro

Dizem que é dele que elas gostam mais
Não se sabe por que artes fatais
Coisas que se falam pelos cotovelos
Mas ele já está mesmo pelos cabelos

Provérbio provado rimado - DCCXXV

Para que a sopa te não incomode
O melhor mesmo é cortares o bigode
E quando fores até ao urinol
Não te esqueças de afastar o cachecol

Líquidos com pêlos não casam
É certo que facilmente extravasam
Vá lá não faças tábua rasa
Ou terás sempre suja a casa

domingo, 24 de novembro de 2019

Provérbio provado rimado - DCCXXIV

Tantas vezes eu ouvi dizer
Que aos quarenta tudo começa
Ainda estou à espera de ver
Que espectáculo de vida é essa

Quarenta já vão bem lançados
E acabo de fazer mais um
Ou os ditos foram inventados
Ou não fazem sentido nenhum

É verdade que noto diferença
Em coisas que não vêm ao caso
Mas não é nada que me convença
Continua a ser obra do acaso

O problema é meu se calhar
Não crer no mito dos quarenta
Falta-me ter fé e interiorizar
Que agora ou vai ou arrebenta

Provérbio provado rimado - DCCXXIII

Já muitas tampas levei
Nem sei como aguentei
Fiquei a chorar sozinha
Que remédio é a vidinha

Claro que por sua vez
Com mais ou menos altivez
Dei as minhas tampas também
Mandei muitos moços à mãe

Não há um modo perfeito
O essencial é respeito
Esperar que o outro não cegue
E aos poucos se desapegue

Provérbio provado rimado - DCCXXII

Não sejas hipocondríaca
Não tens a doença cilíaca
As cefaleias são normais
Também as dores menstruais

E essa tensão cervical
Na tua coluna vertebral
É de toda torta te sentares
E muito peso carregares

Portanto tens uma escoliose
Mas esquece isso da psicose
És só um pouco inconstante
Não é nada de importante

O estômago embrulhado
É de comeres tanto folhado
Se não queres ter obstipação
Pensa é em cortar no pão

Essa voz rouca de bagaço
É de fumares por dia um maço
Era fácil se nenhum fosse
Libertares-te dessa tosse

Como vês não tens argumento
Só precisas ter discernimento
Nem sequer artrites reumatóides
Não tens nicles batatóides

Provérbio provado rimado - DCCXXI

A tua cabeça é teu guia
É nela que lês o mapa
Que segues a curva via
Transpondo cada etapa

É nela que tudo começa
E assim tudo se alcança
Pois quem usa a cabeça
Os próprios pés não cansa

Provérbio provado não degenerado

Quem sai aos seus não é de Genebra, nem sequer é do Luxemburgo, calha bem!
Quem sai aos seus fica cá, não emigra como essa gentalha dos Fortunatos e dos Silvas, que andam por lá a passar fominha - que eu bem sei! - mas depois vêm para cá em Agosto fazer vidas largas e faustosas!
Claro que é uma faca de dois legumes, Maria, filha, aqui a vida não é fácil, ganhas o salário mínimo e já te dás por contente, mas lá em Genebra - ou lá o que é - não é muito melhor, calha bem!
Dá-me cá uns nervos vê-las na procissão todas pirosas a estrear as fatiotas, com bolhas nos pés dos sapatos novos. Não penses que é inveja, filha! São tão beatas como eu, ahahahah.
E as filhas, Maria, as filhas!, vão por um lindo caminho: ele é transparências nos vestidos, bâtons vermelhos, saltos vertiginosos, ondulações a quente nos cabelos - como é que aquilo se chama: beibiliz? -; a pronunciarem os nomes com o sotaque do Luxemburgo: Carrlá para cá, Clôdiá para lá. Revolvem-se-me as tripas.

- Quem sai aos seus não degenera

sábado, 23 de novembro de 2019

Provérbio provado num verso branco - LXVII

Atravesso sempre fora da passadeira que há na rua dos teus braços
E assim ignoro que podia haver um caminho mais seguro para ti

É uma rua muito inclinada que pede que o meu esforço aprenda a respirar
Mas eu tenho pressa de te abraçar e corro mais do que a velocidade permitida 

Amanhã é sempre tarde para te encontrar
Por isso rumo na tua direcção ausente de cuidados

Sigo então à margem do favorável
Sem garantias de que verdadeiramente és presente


Provérbio provado rimado - DCCXX

A Sandra é uma mãe galinha
Que até tirou pão da boca
Criou o filho sozinha
Defende-o feito louca

O melhor que há lhe deseja
Protege-o de qualquer mossa
E diz quem o meu filho beija
Minha boca tanto adoça

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Provérbio provado num verso branco - LXVI

O desespero não é um monopólio teu
É preciso olhar o umbigo alheio como um olho seco de lágrimas
A vida não se compadece dos tristes
Faz-nos a folha mais rápido do que demora a dizer folha

Provérbio provado rimado - DCCXIX

A discussão muito estala
No seio familiar
É lide que quando embala
Teima em não acabar

A troca fértil de ideias
Que se assumem livremente
Abunda às duas mãos cheias
Ninguém é mais sapiente

É um espaço confortável
Que a autenticidade aplaude
Num acolhimento saudável
Que só denuncia a fraude

Os pais são mais rigorosos
E as mães mais permissivas
Mas ambos são extremosos
A premiar iniciativas

Da conversa brota a luz
Que alumia a verdade
Cada um assim deduz
Como for da sua vontade

Às vezes há exageros
Dos quais pode advir mágoa
Se alguns são mais sinceros
E oscilam o copo de água

Nele a tempestade se agita
E pode até transbordar
Se quem participa grita
A conversa vai estragar

Provérbio provado rimado - DCCXVIII

São seres muito asseados
Que nunca se interrogam
Como restos requentados
Que continuamente sobram

Há quem lhes dê a dentada
Em sinal de absolvição
Mas vê que não sabem a nada
São isentos de emoção

Moscas mortas que só voam
Em círculos repetidos
Da multidão não destoam
Não lançam ais nem gemidos

Põem-se em primeiro lugar
E não esboçam um gesto
Se é para alguém ajudar
Só vão se também for o resto

Sem opinião que se veja
São uns peidos amarelos
Gente que nada deseja
A não ser calçar os chinelos

Se um dia veiculam ideias
Que são da massa distintas
Não têm as certezas cheias
E podem ser troca tintas

Provérbio provado rimado - DCCXVII

Os verdadeiros amigos
Não usam impôr-nos castigos
A nossa afeição não exigem
Ideias não nos impingem

De egoísmo apartados
Não querem ser reembolsados
Quando nos dão atenção
Sem ser por obrigação

Têm genuíno interesse
Esperam sempre que regresse
Alguém que se desligou
Outros amigos encontrou

Não hesitam em aplaudir
Quem está na vida a subir
Já que o sucesso alheio
Os deixa de coração cheio

Se surge a dificuldade
Ela põe à prova a amizade
Pois é no aperto do perigo
Que se conhece o amigo

Provérbio provado rimado - DCCXVI

Quando o tratamento inauguro
Por tu a alguém inseguro
Logo essa pessoa pensa
Que estou a ser muito intensa

Não entende que ser informal
Devia ser um gesto banal
Não implica falta de respeito
Nem tão pouco é um defeito

Crê que manter a distância
É coisa de muita importância
Tem um comportamento afectado
Tão snob e premeditado

Se vem com frases do estilo
Você isto você aquilo
Fica parva a minha alma
E luto por manter-me calma

(Ilustração: Rui Louraço
www.instagram.com/condecascais)

Provérbio provado rimado - DCCXV

Eu vou deixar-te partir
Já que assim usaste pedir
Não mais te contactarei
Teu gesto respeitarei

Se falaste mesmo a sério
É para mim um mistério
Há qualquer razão escondida
Para te pôres de fugida

Não sei qual é o segredo
Mas mesmo o maior degredo
Podias ter partilhado
Que ter-te-ia escutado

Ou então é motivo fútil
Foi talvez um acto inútil
O nosso encontro primeiro
Pelo visto derradeiro

Quando me disseste adeus
Tal foi de bradar aos céus
Foste tão condescendente
Pleno de desamor decadente

Achas-te muito importante
Por me teres concedido um instante
E cá na minha opinião
És mesmo um grande cagão

Provérbio provado rimado - DCCXIV

Com dedicação e afecto
Fiz o teu prato predilecto
Passei as tuas camisas
Até as que não precisas

Fui muda e obediente
Para te deixar contente
Fiz-te todas as vontades
Cheia de habilidades

Por ti em casa aguardei
E o ditado interiorizei 
Fica a mulher no lar
Ouvindo o grilo cantar

Um dia acordei fartinha
E decidi ficar sozinha
O divórcio eu requeri
Sou bem mais feliz sem ti

Fadas de um lar arrumado
São já coisas do passado
O machismo de antigamente
Não se tolera no presente

Provérbio provado rimado - DCCXIII

Poupa-me os teus comentários
Os reflexos incendiários
Que a tua cara fechada
Não me traz preocupada

Tomas as pessoas de ponta
Se representam uma afronta
Ou quando te fazem sombra
Te escurecem a tromba

Seres assim invejosa
E muito tendenciosa
Por dentro só te devora
É o que parece de fora



Provérbio provado rimado - DCCXII

Num aquário de piranhas
Navegam feras tamanhas
Que se alimentam do sangue
De qualquer peixinho exangue

Engolem os predadores
Todos os que são menores
Apanhado desprevenidos
Os peixes são logo comidos

Comer a presa assim viva
É coisa assaz aflitiva
Tão sombria de se ver
Para quem por lá aparecer

É um tal Deus nos acuda
Que é precisa uma ajuda
Falta ideia peregrina
Que desinfecte a piscina

Provérbio provado rimado - DCCXI

O circo chegou à aldeia
Trazendo uma mão cheia
De esforçados artistas
Que gostam de dar nas vistas

Ensaiam as piruetas
E as diferentes caretas
Com que entretêm o povo
Que anseia por algo novo

Provérbio provado rimado - DCCX

Com o cu virado para a lua 
Nasceu o menino rico 
Tem uma sanita que é sua 
Nunca cagou num penico 

Não sabe a sorte que tem 
Por ter a família perfeita 
Olha os outros com desdém 
E uma expressão contrafeita 

Falta-lhe a humildade 
O afecto pelo semelhante 
E a sua realidade 
Não se espelha no semblante 

Provérbio provado rimado - DCCIX

A quem pretende isolar-me
Respondo com pouco charme
E mesmo assim muito só
Dispenso bem qualquer dó

Pois pena tem a galinha
De quem dela se avizinha
Sem ter um bico afiado
Que pode sair magoado

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Provérbio provado rimado - DCCVIII

Rastejam no ninho de víboras
Tantas serpentes carnívoras
Que se alimentam das presas
Por qualquer razão indefesas

Lá o lema é ostracizar
Quem como elas não silvar
E quem tenha vértebra forte
Que dificilmente se entorte

Já se sabe que as serpentes
A abocanhar estão contentes
São um venenoso animal
Que não tem coluna vertebral

Sem qualquer verticalidade
Só demonstra ambiguidade
A serpente rasteja disforme
Às torpezas actua conforme

Depois de se alimentarem
E as vítimas mastigarem
As víboras ficam cansadas
De tanta malícia enjoadas

É melhor que a língua não mordam
Ou umas das outras discordam
Provam do seu próprio veneno
Para as presas perdem terreno

O ninho todas querem reger
Não hesitam pois em moer
Com as mandíbulas de fora
Tenham ou não assessora

A rainha é uma cascavel
Que cumpre um feio papel
Gosta de dividir para reinar
E sói mais confusão lançar

Provérbio provado rimado - DCCVII

O mar está deveras bravo
Aguardo a maré vaza que tarda
Enquanto uma rima alinhavo
Por instantes baixo a guarda

Sempre a olhar por cima do ombro
É como ando ultimamente
A cada dia novo assombro
E desânimo consequentemente

Não aprovo a desconfiança
Porém é como agora me sinto
Amanhã volverá a esperança
Nela creio sabendo que minto

Provérbio provado rimado - DCCVI

É uma criatura macabra
Enxertada em corno de cabra
O feitio é tão mau que dói
De ninguém ela se condói

Ela só rosna não fala
Hostiliza toda a sala
Nem tão pouco sabe pedir
Mais parece que está a cuspir

Desconhece um obrigada
Tem ar de quem oferece porrada
Só lhe falta a mão na anca
Para apregoar peixe na banca

Que má sorte ter de privar
Com tal fulaninha lidar
Pelas costas era bom vê-la
Pôr um ponto final na querela

Mas contudo não há fim à vista
Há que suportar tal artista
Dava jeito saber até quando
Depende de quem está no comando

Provérbio provado rimado - DCCV

Entro muda e saio calada
Da boca não me arrancam nada
Só estou disponível para os meus
Os outros é olá e adeus

Se queres aos meus pertencer
Não precisas de fortuna ter
Só um coração abundante
Que se comove a todo o instante

Deverás ter grandes os braços
Que se demorem em abraços
E uma boca sem poupança
Onde habitem laivos de criança

Como vês muito não peço
Embora seja só o começo
Hei-de querer autenticidade
Que rima com sinceridade

Se tu mesmo sempre fores
Podes partilhar tuas dores
Aqui me terás por inteiro
Um humano assim verdadeiro

Cada vez menos faço fretes
E já não enfio barretes
Embora o silêncio me custe
É preferível ao embuste

Provérbio provado rimado - DCCIV

Que falem à vontade de mim
Mas não comem do meu pudim
Está guardado para quem merece
E mesmo longe não me esquece

Para quem por mim tem apreço
E não duvida que o mereço
Para quem a palavra amizade
Não profere com leviandade

Quem sabe com que linhas me coso
Só pode ser para mim amistoso
Ser sincero quando é preciso
Se perco de repente o juízo

Puxar-me as orelhas às vezes
E dizer-me não te menosprezes
Saber que me deve abraçar
Quando rio para não chorar

Provérbio provado rimado - DCCIII

Um provérbio me soprou
Uma verdade tão sábia
Que não é isenta de lábia
No meu espírito pousou

Fiz as pazes com o erro temido
Que como pessoa eu cometo
Afinal não assim tão abjecto
Desde que não seja repetido

Caminhando de encontro à velhice
Submersa no vil quotidiano
Perdoo-me que errar é humano
Só persistir no erro é burrice

Provérbio provado rimado - DCCII

O Tozé é um pouco trombudo
Não lhe é fácil o sorriso
Também é atento contudo
Mostra os dentes quando é preciso

Ele gosta de se acautelar
Já que não aprecia surpresas
Imprevistos costuma evitar
Fazendo uso das suas certezas

Raramente ele é surpreendido
Para não se lamentar depois
Acredita que homem prevenido
É tão forte que vale por dois

Provérbio provado rimado - DCCI

Travar guerras consecutivas
Sem nenhuma glória e em vão
São situações coercivas
Que impõem ao fraco a razão

Dele pode não rezar a História
Nestes casos tão envergonhada
Que não enaltece a memória
Dos que batem em retirada

Provérbio provado rimado - DCC

Eu não sou de ninguém disse ela
Num soneto a poeta Florbela
Por se crer dos demais diferente
Estava sempre apartada da gente

Quem me quiser há-de ser luz
Do sol que o calor produz
Mais ou menos ela assim dizia
Mergulhada na sua poesia

Quem me quiser há-de ser voz
Do pequeno insecto veloz
Um amor tão pleno ansiava
Para ver se assim se salvava

Ter outro e outro num momento
Uma força viva em movimento
Mas sabia não haver tal homem
A não ser o que os versos consomem

Amou demasiado o irmão
Por quem fez das tripas coração
Foi um amor assaz proibido
Que para ela fazia sentido

Tantos nomes feios lhe chamaram
Com o dote de louca a brindaram
Que um dia lhes fez a vontade
Deixando a vida pela metade

Foi assim que a Florbela Espanca
Viu na morte uma pomba branca
Que traria a paz ansiada
À sua vida amargurada

Provérbio provado rimado - DCXCIX

Tenho na guelra muito sangue
Reajo quando me ofendem
Não se espantem que me zangue
Se a perna à socapa me estendem

Dirão que tenho mau génio
Que sou muito intempestiva
Mas falta-me o oxigénio
Se lido com gente esquiva

Muito tempo eu não aguento
Malvadezas e maus tratos
Perco logo o discernimento
E ponho limpinhos os pratos

Provérbio provado rimado - DCXCVIII

Cada um é como cada qual
E tem a sorte que merece
No entanto por mais que tropece
A sorte não é proporcional

Um erro e nova tentativa
Mais sorte não significam
Mas porém a vida dignificam
Tornam-na mais combativa

Provérbio provado perguntado - II

Está tudo bem(?) é normalmente uma pergunta de retórica que se segue a um Bom dia. Não é que quem pergunte tenha verdadeiro interesse na resposta. É uma muleta social que todos, autómatos do quotidiano, repetimos a quem connosco se cruza. É pela inflexão da voz e eventual sorriso que se consegue separar o trigo - os que querem realmente saber se está tudo bem - do joio - a quem se responde maquinalmente Está tudo bem, obrigada.

- Separar o trigo do joio

Provérbio provado rimado - DCXCVII

Que era fácil não disse ninguém
Esta vida de adulto tão dura
O que é fácil é ficar-se aquém
Desalinhar na formatura

Tantas regras tantos é suposto
Que põem a cabeça à roda
Tanto acto feito a contragosto
Tão difícil é a vida toda

Enfrentar muitas dificuldades
Põe uma pessoa em frangalhos
São tantas as adversidades
É o cabo dos trabalhos

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Provérbio provado rimado - DCXCVI

Lá no fundo tens medo suspeito
Talvez uma fraqueza secreta
Por isso não me guardas no peito
Já encheste a tua camioneta

Porque afinal eu sou muita areia
Não sabes o que fazer comigo
Ficas doido de cabeça cheia
E corres a esconder-te do perigo

Provérbio provado rimado - DCXCV

Juízes fazem vista grossa
À alienação parental
Cada um para dentro coça
Como se isso fosse normal

As crianças andam aos tombos
Como se peças de xadrez
Algumas com marcas nos lombos
Das instituições às mercês

Que futuro irão elas ter
Se cedo trilham este caminho?
Delas ninguém quer saber
Nem sequer lhes empresta carinho

É urgente aligeirar
Os processos de adopção
Para quem está disposto a amar
Lhes poder deitar uma mão