Provérbios Provados noutras casas:

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Provérbio provado rimado - MCC

Quando a mudança da hora
Abraça um equinócio
É Verão ou Inverno agora
Começa um tempo de ócio

A estação intermédia
Tornou-se obsoleta
O que para uns é tragédia
É para outros uma treta

O clima é independente 
Alheio às preferências
De progressão suficiente
E não engloba tendências

Mas toma sempre tão conta
Das conversas com receio 
Por ser uma opção de monta
Traz cheirinho de recreio

Seja de varanda a varanda
Ou dentro de um elevador
O tempo é quem mais manda
Faça muito frio ou calor 

A meteorologia anteveu
Um tipo qualquer de tormento 
Mas hoje até nem choveu
E assim só sopra o vento

Alguns minutos de prosa
Souberam chouriços encher
Nessa ocasião vagarosa
Na qual apetecia esconder 

Na falta de um tema qualquer 
Que de vergonha é capaz 
Todos sabem discorrer
Sobre o tempo que faz 



Provérbio provado rimado - MCXCIX

De repente fez-se luz

E apareceu um clarão

Essa gaja não me seduz

No que põe em cada intenção


Tem tamanha necessidade

De aparecer bem vista

Na sua mediocridade

É a invejar especialista


Para que se possa sentir

Consigo mesma satisfeita

Ninguém pode sobressair

Só ela é assim perfeita


É crente que há solidez

Na imagem que construiu

Mas só vejo estupidez

Porque nem tal assumiu


Esta luz que me ilumina

Nela a nudez destapou

A fulana nem imagina

Que nunca me enganou


Apesar de tanto aparecer

Como boazinha e beata

Não me consegue convencer

De que é pessoa cordata 



Provérbio provado num verso branco - CXXX

A perna esquerda de mão dada

Assumindo a direita com mal disfarçada vaidade

Cada braço de imediato um abraço

Argumentos que poupam energia sem qualquer cansaço

Ou necessidade de aprovação


Muito lógico e lúcido enquanto coisa que sabe ser

Desde que não se torne efectivamente nessa coisa


Apenas uma única lâmpada não pode iluminar 

A casa que cada um habita 

Onde aprende como se dedica a ser 

Porque ninguém é uma ilha


O que em si caminha para a solidão

Só ilha se chama por viver rodeada de mar



 

sábado, 21 de outubro de 2023

Provérbio provado rimado - MCXCVIII

Podem chamar-me maluca

Podem especular à vontade

E achar que levo peruca 

Quando me desloco à cidade


Podem não parar de falar

Do que uso e do que ingiro

Até enfim alguém se cansar

De imaginar o que prefiro 


É a fantasia tão vasta 

Que roça até a adivinha

Se serei uma moça casta

Ou se não durmo sozinha


É triste que seja assim

Tão forte tal opinião

Por isso quem fala de mim

Ou tem inveja ou paixão 




sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Provérbio provado rimado - MCXCVII

Escrever o que não acontece

É a tarefa da poesia

E aos nossos olhos aparece

O que era e apenas fingia


Ter tal nível de abstração

É habitar um plano diferente

É ter os pés longe do chão

É ter sóis e estrelas na mente


É nunca dizer nunca a jurar

Nem fazer dos outros julgamentos 

Saber que se pode conformar

Mas prescindir desses momentos


Quem acha que a vida de poeta

Não leva a estrada nenhuma

Desconhece que há uma meta

Que está coberta de caruma


A escrita é então vendaval

Que destapa o que se esconde

Que pode ser residual 

Não saber como nem onde


Com um grão está de papo cheio

Já que um verso que começa

É um jogo deixado a meio

Que recuperou uma peça


Dizer que o poeta é louco

Não abona a seu favor

Mas tudo lhe sabe a pouco

Pois cria com todo o fervor


Há quem tenha a sensação

Que o poeta é ave rara

Ter antes dor no coração

Do que ter vergonha na cara 




quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Provérbio provado rimado - MCXCVI

Fora de órbita estás

Distante da realidade

E nem sequer és capaz

De ver qual é a verdade


Verdade só vês a tua

Tão cego ao que te rodeia

E quando andas na rua

Temes a mirada alheia


Por estares assim tresloucado

Tens mesmo de te tratar 

Pode ser que medicado

Tu pares de delirar




quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Provérbio provado silenciado

Todas as conversas são uma troca de palavras e silêncios. A seguir a umas vêm outros. Começam com um segundo de pausa numa inspiração para avaliação e terminam também em silêncio, numa expiração qual espasmo conformado.
O silêncio possui a síndrome do irmão do meio, já que se recolhe de imediato quando surge a confrontação para dar lugar às frases que competem entre si. Não gosta de tomar partidos, ao passo que a palavra está sempre a escolher um lado, podendo atravessar variadas barricadas.
Ao contrário do comummente aceite, o silêncio não está coberto de omnisciência, apesar de qualquer burro calado ser por sábio tomado. Tem, sim, a divina característica da omnipresença, uma vez que qualquer discurso é entrecortado por silêncios e essas pausas também têm a sua leitura.
Assim, o silêncio sobrevive da sua própria ausência, assemelhando-se a um catraio impaciente: só está bem onde não está.
E, sempre que há uma permuta de ideias mais acalorada, as palavras não se detêm, saiem de rajada sem premeditação nem noção de consequência. Acontece também o oponente saltar para um plano paralelo de surdez aos argumentos alheios; nesses momentos, tentar dialogar é como teimar ensinar a Avé-Maria a uma avestruz: é um esforço debalde. Aqui ganha validade a máxima:

- O silêncio é a melhor resposta 

Provérbio provado rimado - MCXCV

És um velho do Restelo

Sempre que levantas cabelo

Passas a vida a agourar

O futuro que há-de chegar


Nada para ti tem mistério

Levas tudo muito a sério

Desconheces uma gargalhada

Com a boca escancarada


Se cismas ficas maníaco

Também és hipocondríaco

Cada dorzinha é martírio 

Queixa-te menos Porfírio


Só não te dão importância

Pois esqueces que a ignorância

É a mãe de toda a doença

Que crês ser tua pertença



Provérbio provado rimado - MCXCIV

Quando se trata de abraços

Todo o momento é urgente

Enrola-te nos meus braços

Para fazermos diferente


Prolonguemos essa urgência

Num abraço demorado

Que pode ter consequência

E acabar num linguado


Quando o abraço termina

Desces mais para baixo

Sinto-me qual gelatina

E sossego logo o facho