Provérbios Provados noutras casas:

quarta-feira, 31 de maio de 2023

Provérbio provado rimado - MLV

O remorso é complicado

Quando se pensa no passado

Para se poder ultrapassar

Preciso é exorcisar 


A lei do eterno retorno

Já causa bastante transtorno

Tratando de cada parcela 

Como se não houvesse mazela 


Se te sentes deprimido

Pensando no tempo perdido 

Não andes mais à procura

Que o tempo tudo cura 



Provérbio provado rimado -MLIV

A Tânia é muito exigente
Para escolher namorado
Desdenha de toda a gente
Ninguém lhe está destinado

No fundo a Tânia boicota
O futuro das relações
Considerando um idota
Quem lhe mostra as emoções

Tem de atingir um tal nível
Que mostre desprendimento
Mas sem tornar impossível
À Tânia algum contento

Uma porção de desprezo
É o segredo afinal 
E sendo um acto coeso 
De bom começo é sinal

A Tânia tem um padrão 
Difícil de perceber
Que apenas vem dar razão 
A quem a quer proteger

Devia a guarda baixar
Para permitir a entrada
De quem não se enquadrar
À partida nessa empreitada

E então já surpreendida
Abraçaria a supresa
Que é tão parte da vida 
Se não se jogar à defesa 




quinta-feira, 25 de maio de 2023

Provérbio provado rimado - MLIII

O João tem cabelo grisalho
Porque já não é um pirralho 
É um homem de meia idade
Que aparenta maturidade

Revela uma forma de estar
Que muito é de se apreciar
Pois parece de si seguro 
Sem ter o semblante duro 

As palavras que ele profere 
São parte do que lhe confere
Uma postura assertiva
Que não é porém agressiva 

Transmite imensa paz
Por não ser um homem voraz
Sabendo que pode tardar
O que tem de um dia acordar

Assim o João não tem pressa
De esperar pelo que lhe interessa 
Não usa da vã picardia
Que lhe podia dar primazia 

Uma coisa lhe posso dizer
Sem receio de me arrepender 
A espera não vem substituir 
O que é bom depois conseguir 


Provérbio provado rimado - MLII

Dor de corno e dor de burro

São duas dores diferentes

A primeira cheira ao esturro

Das traições inconsequentes


A segunda refere-se ao asno

Conhecido pela teimosa

Se lhe dá uma espécie de espasmo

Que não é parente da azia


Uma dor do tipo muscular

É ao que a expressão alude 

Que é bem capaz de deixar 

Uma pessoa sem saúde 


Dobrada sobre a barriga 

Tenta aí dor de burro aguentar

Embora haja quem lhe diga

Que depressa há-de passar 




Provérbio provado rimado - MLI

A sorte que a cada um calha
É tão inconstante que falha 
E o seu caminho é incerto
Se não tem o destino por perto 

Cada qual crê ter direito
A essa tal sorte de jeito
Mas com frequência esquece 
Sorte é o que não se merece 


quarta-feira, 24 de maio de 2023

Provérbio provado rimado - ML

Ela veio de terra estrangeira
Mas cedo aprendeu a maneira
De nesta aqui se salientar 
Não interessa se alguém pisar

Ela acha pois bem normal
Que na esfera profissional
Se lance com força a escada
Que leva à promoção desejada 

Enquanto isso não acontece
Apanha tudo o que aparece
Para a competência exibir
De ser capaz de dirigir

Mas tem muito que percorrer
Para a chefe poder ascender
Pois é demasiado exigente
O que causa stress na gente

Lá no fundo tem a mania
Que é melhor do que a maioria 
Além disso é muito mimada
Não podendo ser contrariada

Trata-me com condescendência
Porém tento ter paciência 
Faço por lhe dar um desconto
Para assim evitar o confronto 

Se um dia estou mal disposta
Irá descobrir que não gosta
Que eu tenha um argumento 
Mas lhe diga que não o comento 

Com ela o desprezo é melhor
E ainda lhe faço um favor
Que fique cheia de certezas 
Que são para mim miudezas 

Ficamos assim conversadas
São diferentes as nossas estradas 
Eu não quero ninguém convencer
De que sei como se proceder 

Que leve ela a bicicleta 
Que lhe parecer mais correcta
Estou ciente do meu lugar 
E prefiro sempre ir que mandar 



Provérbio provado rimado - MXLIX

A estrutura molecular
De um vidro é espectacular 
É assim uma malha em rede 
Que parece uma parede

Apesar de ser muito estável 
Contudo não é inquebrável
Se se parte qualquer ligação
Fica todo em cacos no chão 

Como o vidro é a confiança
É tão frágil como a faiança
E por isso se se quebrar 
Não há mais volta a dar 


Provérbio provado jamais atacado

Jurou de si para si, com toda a solenidade de que foi capaz, não mais tornar a sofrer por amor. Desta última vez fora deveras complicado, deparando-se com uma tremenda dificuldade em engolir o abandono, sentindo-se imensamente amargurado durante um tempo prolongado e com uma auto-estima tão microscópica que parecera ter-se dissolvido nas partículas do ar que o sufocava. Porque durante um largo período não pôde sequer encher os pulmões de ar até ao fim, tal era no peito a ansiedade. E até a sua passada, outrora enérgica e ritmada, se transformara num arrastar lento, pois os joelhos eram agora inseguros e os pés haviam perdido a firmeza.

No meio deste sofrimento prolongado, ainda fora obrigado a escutar da boca da mulher que o deixara que o par de meses decorridos era mais do que suficiente para a digestão da rejeição. Ela propunha até que se estabelecesse entre ambos uma relação com contornos amigáveis. Ele, porém, ficou furioso com tal atitude que, a seu ver, era mais condescendente do que apaziguadora, podendo dessa forma verificar que nela não restava nenhuma réstia do anterior apego que crera verdadeiro. Mandou-a à merda com todas as letras, lamentando não ter o alfabeto mais algumas para lhe lançar. Ela virou-lhe então as costas em paz com a sua consciência: pois se ele não queria fazer as vezes de amigo, que mais podia ela propôr? Curiosamente, ele ficou aliviado com tal desfecho: não mais teria de olhar para a cara da amada, entregando a memória das suas feições ao esquecimento até quase se esfumar. O difícil trabalho da saudade faria o resto.

Deu-se então o referido momento de negaça ao destino, o minuto em que jurou que jamais sofreria por causa de mais alguma mulher. De onde desenterrou tão férrea vontade não se sabe, tendo nesse instante inspirado uma tal golfada de ar que lhe revigorou os alvéolos mais remotos. Para não mais se deixar atingir pela seta de Cupido, estabeleceu uma regra de defesa extrema: não permitir que nenhuma fêmea se aproximasse. Mas cedo percebeu, à medida que ia recuperando a auto-estima, que era uma forma pouco eficaz de se proteger, uma vez que deixava o coração livre para novo fracasso. Tratou então dê se inscrever numa aplicação de encontros, dando assim espaço ao órgão que palpita - e demais órgãos palpitantes - para bater em muitas e variadas direcções, dispersando a atenção. Sim, estava certo de que esta era a melhor defesa...


- A melhor defesa é o ataque 


Provérbio provado rimado - MXLVIII

O engenho é aguçado

Em face da necessidade

De algo ver terminado

Que está só pela metade


Se a iniciativa falhou

E por certo a motivação

A necessidade afirmou

Que se faça a evolução


Novas capacidades revela

Fortalece a vontade interna

Que a necessidade é janela

E às vezes também é lanterna


Abre cada nova viagem 

Que se pode logo iniciar 

E ainda tem a vantagem

De fazer o lobo saltar




Provérbio provado num verso branco - CXI

A amizade é o amor mais robusto

No que nela prescinde de egoísmo e possessão

Sobrevive com base em fundações seguras

E não carece de andaimes que lhe limitem o edifício


Quem não conhece por não saber ou não conseguir

Essa entrega verdadeiramente desinteressada

Talvez não possa assim dedicar ao amor

O que de mais amizade com frequência lhe falta:

Não querer mudar o outro de acordo com o seu chão


É por isso que é uma soma sempre possível

Muitos e novos amigos são mesmo bem-vindos

Porque a quantidade na amizade não é devassidão


E se repetidos erros amorosos vierem comprometer

Uma certa ideia que se tinha do paraíso

É bom ter amigos nem que seja no inferno



 

Provérbio provado num verso branco - CX

Fomos engrossando de palavras os dicionários

Inventando sinónimos para não as deixar sozinhas

A braços com a sobrevivência das definições


Todavia entre aqueles que falam a mesma língua

Existe igual número de línguas diferentes

Porque as palavras antigas vestem roupas novas

No que em cada um se esconde ou exibe evolução 


Por isso tantas vezes parece que não estamos a comunicar

Mas sim realmente a  tentar traduzir com esforço 

Já que um compatriota pode ser mais estrangeiro 

Do que outrém que dicionários diversos herdou 


O que em cada alguém se sabe revelar 

É o que delimita essa linguagem tão individual 

Que até nos arrojados acaba por ser discreta 

No que sentimos do que somos existe o íntimo lugar da incerteza 

Para além do tecido maior onde nos camuflamos

Cada um sabe as linhas com que se cose 



Provérbio provado rimado - MXLVII

Doravante vou estar quietinha

Para o meu coração resguardar

Cada vez mais certa na minha

Apesar do que então se passar


Mormente o que me enfada

É a falta de consideração

Que me deixa tão desconfiada

Incapaz de antever solução 


O pior é que alguém sempre leva

Com o meu sinal de descrença

Não sabendo que há em reserva

Um bocado da minha indiferença


Com a pele cada vez mais grossa

Que se torna uma carapaça

Chego assim até a fazer troça

De quem por mim se engraça


É verdade que é muito injusto

Por mais boa vontade que tragam

Só os receberei muito a custo

Pois por uns há outros que pagam



Provérbio provado rimado - MXLVI

Num restaurante finório

Paga-se é a experiência 

No menu já é notório

Que ali mora a competência


A descrição de cada prato

Quase parece poesia

Que se antecipa de facto

Adequada à burguesia


Mas os preços lá não estão

Para que ninguém se assuste

Só quando chega a refeição

Se descobre o grande embuste


E até pode bem saber

Mas de tal forma é frequente

Que o papo não vai encher

Não dá para a cova de um dente 



Provérbio provado rimado - MXLV

Enquanto temos presente

Certo dado adquirido

Não damos suficiente

Sentimos que nos é devido


Porém quando algo perdemos

Se não estivermos à espera

Recuperá-lo queremos

Que regresse à nossa esfera


De repente descobrimos

Que não lhe demos valor

É já tarde quando abrimos

Os braços num estertor


Digo com alguma mágoa

Do difícil que é estimar

Só se dá valor à água

Depois de a fonte secar



Provérbio provado rimado -MXLIV

Na discussão não progrides

Estás sempre a repisar

Com jeitinho quase agrides

Quem se furta a concordar


És como um disco riscado

Que só sabe redizer

Sem noção de que é pecado

Na mesma tecla bater



Provérbio provado rimado - MXLIII

Custa tanto o mês de Janeiro

Por antes só termos esbanjado

Nos presentes o nosso dinheiro

Apesar de ser de bom grado


É coisa por demais estudada

Que todos já terão aprendido

É um mês como o peixe-espada

Por ser assim chato e comprido



Provérbio provado rimado - MXLII

Se a fruta está madurinha

No pomar já ali ao lado

E não a colhe a vizinha

Por não ter do bicho tratado


Aproveita e vai à chinchada

Que ninguém te fará cobrança

Essa apanha está sempre aprovada 

Pois faz parte da vizinhança




Provérbio provado rimado - MXLI

O sábio sabe calar-se
A sua intervenção dosear
E até uma sua catarse
Decerto nem se faz notar

O silêncio prefere adoptar
Não partilha a sua opinião
E se o chamam a aconselhar
Só o faz com muita contenção

Mas existe um tipo contrário
Que abusa do estardalhaço
E de um modo muito arbitrário
Comporta-se como um palhaço

Pois dispende tal verborreia
Sobre tudo tem o que dizer
Repete qualquer boca alheia
Sem tão pouco primeiro a rever

Não se informa e nunca pesquisa
Não sabendo fundamentar
Sua mente é assim plana e lisa
Não consegue sequer copiar

Entre os dois é fácil distinguir
Que mais vale um sábio calado
Do que o outro sempre a exibir
Ser papagaio mal informado 


Provérbio provado rimado - MXL

Uma ovelha no seu verde prado

Ser multi-tarefa não pode

É preciso um modo alternado

Ou nem o pastor lhe acode


Enquanto ela se põe a balir

Não consegue entretanto comer

E as outras não vão dividir

O que crêem não lhe pertencer


No tempo em que está a berrar

A mais tenra erva lhe comem

E não adianta protestar

Só fará com que logo retomem


Esta cena campestre encerra

Veredicto em qualquer campo verde

Porque quanto mais a ovelha berra

É maior o bocado que perde



terça-feira, 23 de maio de 2023

Provérbio provado rimado - MXXXIX

O Nuno é um exagerado

Se calhar por ser tão sensível

Não se pode brincar um bocado

Acha tudo logo inadmissível


Mas porém está bem enganado

Se crê que dele careço

O Nuno é um empertigado

E muito melhor eu mereço


Se ficar depois atormentado

Por ter reagido a quente

Temos pena já vem atrasado

Pode continuar indiferente


O meu gesto já está calejado

Destas cenas só presenciar

Mas não fica ao passado agarrado

Nem sequer tenta aos peixes pregar


Ainda que tenha desejado 

Despertar temerário um interesse 

Não mendiga nem fica enjeitado

Se perder quem não o merece



Provérbio provado rimado - MXXXVIII

Quando tomas uma decisão

Que sofrer bastante te faz

Logo afastas a repetição

Se o resultado não te apraz


Juras e prometes jamais

Esse risco outra vez repisar

Pois se até os próprios animais

Bem aprendem como se esquivar


Como o gato um dia se escaldou

Com o banho numa bacia

A partir dessa vez evitou

Por ter medo de água fria



sábado, 20 de maio de 2023

Provérbio provado rimado - MXXXVII

És para mim um fantasma
E essa é coisa que pasma
Como mudou de repente
O que me trazia contente 

Não quero saber mais de ti
Pois foi assim que decidi
Desaparece do mapa
Com a tua imagem de capa




Provérbio provado rimado - MXXXVI

Aprendi uma rima no Porto

Que me abstenho de trazer

Pois podia dar para o torto

E depois não me podiam ler


Fica só a tirada no ar

Já que todos sabem do que trata

Não é necessário soletrar

E nem por isso sou ingrata


Apresento esta variação

Que no início é igual

Parecida com a expressão

Como é no original


Não sou deselegante

Digo então que bonito bonito

De repente em qualquer instante

Pode ser a cerveja de litro



Provérbio provado rimado - MXXXV

É normal alguém embandeirar
Quando algo está a começar
Ao princípio tudo é perfeito
Não se encontra qualquer defeito

Mas quando se instala a rotina
Nem sempre por baixo se assina 
Com os dias lentos a passar 
Mais difícil é de se aguentar 

Isto serve a situações várias
Temos reacções bem primárias
Se fosse possível reflexão
Seria talvez outra a reacção

Pensar sempre antes de agir
Impede o erro de surgir
Mas não somos seres ensaiados
A ter actos só premeditados

Ponderar é que era ideal 
Para ter coerência afinal
Num jogo de advertências 
Não sofrer as consequências 

Tão certeira é esta teoria
Tudo seria só harmonia
Para então o erro evitar 
Não agir sem antes pensar 


Provérbio provado rimado - MXXXIV


Quem muito come muito caga
Ainda bem que imposto não paga
Porque cada novo cagalhão
Ficaria assim num dinheirão

Este provérbio é já repetido
Escrevi um de tal forma parecido
As ideias também têm prazo
Deixem lá e não façam caso

Que a vida é pois repetição
Cantamos a mesma canção
Quando em igual circunstância 
Queremos atribuir-lhe importância 

Chegados exaustos ao fim
Decoramos a lição assim 
Ao bisar é o que se pretende
Até o próprio asno aprende 



Provérbio provado rimado -MXXXIII

Sempre que um animal tem dinheiro

Tratam+no por Doutor Animal

Chamam-lhe caro senhor primeiro

Asseguram que não há igual


Desde vénias a vãs mesuras

Fazem tudo para o engraxar

E consideram as suas juras

Coisa boa para se legislar


Ao metal se dá tanto valor

Como se ganhou não interessa

Compra tudo até o amor

Desde que ninguém o impeça


O ouro é uma terra amarela

Que fala uma língua qualquer

E onde começa a falar ela

Todos logo se calam sem querer



Provérbio provado rimado - MXXXII

Tão cheio de ti te achei

Com enorme barriga de rei

Com o teu próprio som deslumbrado

Vi que tens o ego insuflado


De tantas palavras tão certo

Não viste quem estava perto

E perdeste uma oportunidade

De me conheceres de verdade


Subiste a um nível diferente

Conheces até o presidente

Deste país sempre vaidoso

De quem é assim palavroso


Frisaste bem os contactos

Numa profusão de relatos

Não me deixando falar

Limitei-me só a acenar


Imensas ideias expuseste

Ouvir as minhas não quiseste

E apesar de não haver jantar

Para mim foi comer e calar



Provérbio provado rimado - MXXXI

Dizem que uma mente vazia

É a oficina do Diabo

Sem ter o que lhe encha o dia

Não mexe para nada o rabo


Há que ter uma ocupação

Que confira alguma actividade

Para não se ter a sensação 

Que é estéril qualquer vontade


Dedicar assim os pensamentos

Ao que pode ser praticado

Impede vindouros tormentos

De não ter nada terminado






Provérbio provado rimado - MXXX

Não há mesmo dia nenhum

Que não tenha bem algum

Caso seja um dia perdido

Nunca mais ele é preenchido


Por isso convém estar atento

Calar o vulgar lamento

E ver o lado positivo

Seja qual for o motivo


Dar lugar ao optimismo

Sem ter em tal acto cinismo

E olhar o copo meio cheio 

Relativizar o que é feio 


Se possível fazer metade

Do que era toda a vontade

Pois quem é pessimista não faz

Nunca nada do que é capaz



Provérbio provado rimado - MXXIX

Passado é fogueira morta

Há que fechar essa porta

E as cinzas não revolver

Só assim se pode esquecer


E quando houver tentação

De dar largas à recordação 

É verificar que não arde

Que agora já é bem tarde


É deixar ficar lá atrás

O que nem sequer já compraz

E voltar devagar a sorrir

Dias melhor hão-de vir



Provérbio provado rimado - MXXVIII

Estás mesmo cheia de certezas
Dessa água nunca beber
Tens todas as intenções presas
Mas podes-te arrepender

Não jures dessa forma amiga
Pensando que assim não se nota
Que como tu ninguém diga
Não vestirei uma saia rota


Provérbio provado rimado - MXXVII

É sabido que Deus escreve torto

Às vezes por linhas direitas

É então que parece estar morto

Ou ter assim vistas estreitas


Aquela paz não estabelecida

Que se tornou inconstante

É própria de gente distraída

Que decide num rompante


E também a fome que grassa

Um pouco por todo o lado

É sinal de uma vontade lassa

De alguém que não está preocupado


Mas os homens muito convencidos

Que não podem ser mais obreiros

Rezam tão comprometidos

Por alguns países estrangeiros 


É assim que Deus vai passando

Entre os pingos da chuva magrinho

Onipresente é só quando

Não resolve nada sozinho



Provérbio provado fumado

Começou a fumar ainda era praticamente uma criança. E de cada vez que acendia um cigarro despedia-se mais um pouco da infância porque fumar era coisa de gente grande e ele tinha pressa de se fazer valer. Com o hábito tão cedo arraigado, nunca fez por isso esforço para largar o vício: fumou toda a vida como uma chaminé. Já adulto, adoptou depois as cigarrilhas, os charutos e até o cachimbo para assim continuar a crescer: davam-lhe o ar pensativo e distante que queria projectar de si mesmo. Fumar um charuto, por exemplo, era um acto de tal modo solene que se sentia elevar uns degraus em relação aos outros fumadores dos maços tradicionais. Ia experimentando várias marcas diferentes que adquiriam mais ou menos importância conforme o seu estado de espírito: numas vezes escolhia um tabaco mais forte e intenso, noutras porém seleccionava um que fosse mais fraco e não lhe arranhasse a garganta. Nessas experiências, a surpresa não era impossível quando encontrava determinado blend que se lhe adequava tremendamente ao paladar. 
Celibatário por opção, era de igual forma exigente e muito crítico em relação às mulheres às quais decidia conceder atenção. Tinham também de lhe transmitir a mesma sensação de crescimento. De cada vez que se preparava para um novo encontro, revia mentalmente as suas prioridades, reservando no entanto um espacinho para o trabalho do acaso.


- O charuto e a mulher estão no acertar e não no escolher

Provérbio provado rimado - MXXVI

O João é um gajo do Norte
Tem o Porto no coração
E às vezes com alguma sorte
Gosta de usar esta expressão

Vê lá se te axandras rapaz
Não queiras tudo tão à pressa
Pois tu sabes bem que és capaz
De cumprir qualquer promessa

O apressado come cru
Já aprendeste entretanto
E até um homem como tu
Ainda reage com espanto

Deixa o tempo resolver
Não queiras demasiado
E assim até vais esquecer
De teres a mula axandrado



Provérbio provado num verso branco - CIX

A felicidade não é um estado desafiante

É um deixar-se estar morno e comezinho

Espectador em frente à lareira vendo o fogo crepitar

Numa modorra idiota que aquece mas jamais escalda


Só um pouco de infelicidade quiçá de desgraça desperta

Traz uma necessidade de superação e a noção de estrada

Ao corpo todo esticado de veias em alerta

Passam-lhe fomes e sedes ficando seco que nem um carapau

Engordando ao invés a cabeça de mais esperança




Provérbio provado num verso branco - CVIII

Nem sei bem se pergunto ao poema e me responde

Ou se ele me fala primeiro e sou só eu a retorquir

Tudo o que sei é um diálogo intenso e dinâmico

Feito de confissões e do que só pode ser magia

Por permitir assistir ao brotar de um verso e mais um 

E terem esses outros que se lhes sucedem 


Depois no saber quando terminar reside o segredo

Mas eu tão fiel ao que a mão direita vai desenhando

Deixo-a correr tinta sem fronteiras nem contenções silábicas

Sem sinais ortográficos ou preocupações de um sentido

Escrevendo poesia repentista à trouxe-mouxe 

E assim de acordo com o resto da restante vida

O meu verbo é excessivo e longo e acabo sempre cedo demais 



Provérbio provado rimado - MXXV

A Eva é super sonsa

Além de muito complicada

Parece amiga da onça

Se não sai beneficiada


Ela tem estranhas manias

E  é bastante moralista

Se na Eva entretanto confias

Está sempre a lançar-te uma pista 


Porque ela no fundo é que sabe

Como deve ser a humanidade

Quem na sua bitola não cabe

Ela irá restringir a amizade 


Critica tudo e todos

Tem sempre palavra a dizer

Mas tantas opiniões a rodos

Não têm um rasgo a valer


Ela é do mais consensual

Que pelos corredores se passeia

No entanto crê-se original

Mais sábia do que quem a rodeia


Dá-me nervos qualquer esgar

Que da sua face se desprende

E por me estar a ostracizar

Isso ainda mais me ofende


Com toda aquela verdade

Conversar é grande desatino

Ou me calo na realidade

Ou lhe peço que pie mais fino






sexta-feira, 19 de maio de 2023

Provérbio provado rimado - MXXIV

O meu coração é de tia

Divide-se por muitas almas

Por não ter tido a alegria

De ter os meus filhos nas calmas


Nunca foi o momento ideal

Por muitos e certos motivos

Ou não me sentia maternal

Ou tinha parceiros esquivos


Mas no meu coração acolho

Qualquer filho do resto do mundo

Não faço distinção nem escolho

O lugar donde é oriundo


Mas depois como nos adultos

Espero reciprocidade

Se me dirigirem insultos

É difícil criar amizade


Quase sempre muita sorte tenho

Na vida com os mais novos

Seja qual for o tamanho

Espero contentar vários povos 


Se houver ciúmes e manha

Aí não posso fazer nada

Pois nesse caso ninguém ganha

Só me sinto no fim frustrada


Sobrinhos de sangue são três

Mais aqueles que são emprestados

Amo todos todos de uma vez

Não os deixo ficar pendurados


Sobre mim pesa o preconceito

Aos olhos das gentes pecado

Por não ter cumprido o preceito

E para tia assim ter ficado



Provérbio provado rimado - MXXIII

Ter um pai pobre é destino
Mas marido pobre é burrice
Quando é de escolher o menino
Há que ter alguma matreirice

Já eu tesos e forretas
Sempre na rifa me calharam
Embora algumas vedetas
Enfim sua sorte tentaram

Só que o poder e o dinheiro
Nunca me deram tesão
É assim que o meu mealheiro
Não tem sequer um tostão


Provérbio provado rimado - MXXII

Muitos peixes há no oceano
Não fiques no canto a chorar
Em alguma altura do ano
Algum te vai alimentar

Não te lamentes então
Pela oportunidade perdida
Pois algum peixe matulão
Te há-de calhar nesta vida


sábado, 13 de maio de 2023

Provérbio provado rimado - MXXI

A Maria da Aparecida 

Tratava-o como gente crescida 

Ela tinha dez anos mais

Mas parecia que eram iguais 


O miúdo ficou encantado

Todos os dias eram feriado

Ao ver-se alvo de tanta atenção

Daquele belo mulherão


Iam nadar para o rio

Em várias tardes de estio

E ele não perdia a esperança

De beijar a prima da França


Numa noite de lua cheia

Na altura da festa da aldeia

Ela lançou uma armadilha 

Que acendeu nele a partilha


O Ricardo teve muito prazer

Foi data para não esquecer

Confirmando que quanto mais prima

É certo que mais se lhe arrima 





Provérbio provado rimado - MXX

A Rosa casou à primeira

Com um homem milionário

Que a mantinha prisioneira

E além disso era ordinário


Bebia whisky e vinho

Palitava os dentes alto

O casamento sem miminho

Foi um grande sobressalto


Enfim dele se livrou

Quando conheceu o João

Que sua atenção roubou

Por ter um bom coração


Logo ele lhe foi dizendo

Cheio de vergonha e mágoa

Que era pobre não querendo

Alimentá-la a pão e água


Mas a Rosa tão feliz

Do seu amor estava certa

Ficou com ele porque quis

E fez a seguinte descoberta


Mais vale pão e água

Acompanhados de amor

Do que vinho e galinha

Para afogar a dor



Provérbio provado num verso branco - CVII

Enquanto não amanhece e assim se envelhece
Ter na madrugada o corpo-casa 
Compartimentado em áreas de recreio e repouso
Não esquecendo as chamadas áreas comuns
Onde se está mais sozinho em comunhão

Aceitar sem agravo mais uma manhã
Tão branca de descobertas e fosfenos oculares
De palavras que teimam em fazer regressar a madrugada
Porque o medo sabe atravessar várias paredes
E nem sempre foge quando se olha ao espelho

Abrir então de par em par as janelas a fazer entrar a claridade
Dando o peito às balas e os tendões ao equívoco


Provérbio provado rimado - MXIX

Não compres gato por lebre

Nem tão pouco pota por lula

O engano pode até dar febre

Ou no mínimo deixa-te fula 



Provérbio provado rimado -MXVIII

Agora não se pode brincar

Pois alguém certamente se ofende

Mesmo que não queiras apontar

Virá logo quem tudo defende


É uma sociedade asséptica

Do politicamente correcto

Que obedece a uma estética

Que não se promulgou por decreto


Dar uma voz às minorias

Parece-me muito adequado 

Mas levar com contantes manias

De quem sempre se sente visado


Isso já me parece demais

Embora entenda o desconforto

Mas quando há liberdades iguais

A tolerância dá para o torto


O direito a ter opinião

E também sentido de humor

É acalorada discussão

De que ninguém sai vencedor


Já que o que as ideias são mesmo

Nem sempre as acções anuncia

É fácil largar dicas a esmo

Perorando em demasia


O caminho da palavra ao acto

Entre o falar e o fazer

Presta-se a incertezas de facto 

Pois há sempre muito que dizer



Provérbio provado rimado -MXVII

Se tu crês que és bem eterno

Acharás certamente o inferno

De humano te encontrares 

Ao lado de qualquer dos teus pares 


Se te acontecer envelhecer

O fim chegarás a temer

Já que à morte ninguém escapa

Nem o rei nem sequer o papa




Provérbio provado rimado -MXVI

 Ir subindo e descendo a escada

Não estar no mesmo degrau

Porque se assim fico estancada

O processo de viver é mau


É verdade que equilibrada

Mais constante eu vou andando

Mas não tenho um rasgo para nada

Só sei arder em lume brando



Provérbio provado rimado -MXV -

O que nos livros não está
É a vida que te ensinará
Pois cada vez mais experiência
Só aumenta a tua valência

Às vezes só vais aprender
Da pior forma que houver
Dar com os cornos na parede
Cair desamparado sem rede

Encontrar em tudo a lição
Que permita uma evolução
É bem isso que a vida oferece
Mesmo quando assim não parece 

E enquanto andares por cá
Verás que é o melhor que há
Poderes por dentro engrandecer
Aprendendo sempre até morrer


Provérbio provado rimado - MXIV

 Há sempre mais gente a gastar

Do que aqueles que trabalham

Pela reforma iremos esperar

Para ver quantos euros nos calham


Só que o salário não estica

Parecemos viver entre grades

O problema é que a Ordem é rica

Mas porém são pobres os frades




Provérbio provado rimado -MXIII

 Nesta vida há gostos para tudo

Cada um pode e deve escolher

Se prefere ter o rádio mudo

Ou fazer paredes estremecer


O que é afinal o bom gosto?

É coisa assaz discutível

Pois para cada pessoa aposto

O seu é o mais admissível


Pode até firme defendê-lo

Mas está só a o latim gastar

Já que um pé para cada chinelo

É medida que é de louvar


Cada um decide o que prefere

Seja bonitinho ou feio

É por isso que o seu gosto difere

Daqueles que habitam no meio


Mesmo até aqueles que apostam

Que a sua é a escolha mais bela

Sabem que uns só dos olhos gostam

E outros gostam mais da remela



Provérbio provado rimado - MXII

 Sou mesmo sem meias medidas

Ou gosto ou muito detesto

Era preciso ter mais vidas

Para andar morna como o resto


Digo o que me vem à cabeça

Embora até às vezes reflicta

Por pensar que talvez não mereça

Quem ouve tamanha desdita


Fui mudando com o tempo a passar

Já não compro todas as guerras

Às vezes já prefiro calar

Respeitar os costumes das terras


Mesmo quando conceitos defendem

Que não fazem qualquer sentido

Se assim as gentes entendem

Dar tudinho por garantido


A desculpa de ser tradição

Que permite alguns comportamentos

Não devia permitir uma acção

Que tolera emolumentos



Provérbio provado rimado - MXI

 É um prato frio a vingança

Que se come depois da ressaca

Quando já acalmou essa dança

Que decide qual a parte fraca


Não convém então rejubilar

Enquanto não se sai vencedor

Pois o último a gargalhar

É aquele que se ri melhor