Provérbios Provados noutras casas:

sábado, 27 de outubro de 2018

Provérbio provado rimado - CDXXV

Se chegarmos a velhos é bom
A cantar ainda dentro do tom
Que a reforma possamos gozar
Depois duma vida a trabalhar

Voltamos a ser mais criança
Ainda cheiinha de esperança
Que ouvi dizer que a velhice
É a segunda meninice

sábado, 20 de outubro de 2018

Provérbio provado rimado - CDXXIV

Sonhava o cego que via
Assim sonhava o que queria
Viajava p'lo mundo inteiro
Com os bolsos cheios de dinheiro

O seu sonho limites não tinha
Que o cego não era fuinha
Não precisava de cão guia
Passeava de noite e de dia

E quando enfim acordava
Mandava o mundo à fava
Chateado com o que não vê
Esta rima o cego não lê

Provérbio provado rimado - CDXXIII

Vives com as costas quentes
És amigo dos presidentes
Já se vê estás bem protegido
Não precisas que já és crescido

Mas se tu não te acautelas
Podem bem ir-te às canelas
Que há inimigos à espreita
E te vão dizer é bem feita

Provérbio provado rimado - CDXXII

A confiança perdida
É difícil de recuperar
Se te desiludem na vida
Não sabes que mais esperar

Palavras podem ser ofensas
E os silêncios então dizem tudo
As acções essas são propensas
Fazem falar até um mudo

Mas às vezes tu percebes mal
E os teus ouvidos estão sujos
Pois não era ofensa afinal
Que te disseram os ditos cujos

Não há palavra mal dita
Se não for mal entendida
Pode ser ou não erudita
Não ter conta peso e medida

Provérbio provado rimado - CDXXI

O Tiago é um estafermo
Que anda perdido num ermo
Gosta de fazer caminhadas
Percorre tantas estradas

Normalmente vai sozinho
E se aparece alguém ao caminho
Afasta-se dele sem custo
Que é de meter medo ao susto

Provérbio provado rimado - CDXX

Se o apetite me consome
Creio bem poder escolher
E assim lá junto a fome
Com a vontade de comer

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Provérbio provado rimado - CDXIX

Ó Manel come do que tens
E não só do que sonhaste
Pode até custar dois vinténs
Não chores o que gastaste

Faz à família o almoço
Arranja grande a panela
E no meio de tanto alvoroço
Defende que limpa é ela

A malta fica enfartada
Já se sabe depois de comer
Não consegue ficar calada
Cada qual dá o seu parecer

Provérbio provado rimado - CDXVIII

Se te sentas numa esplanada
Onde voam muitos pombos
Perdoa-me lá a tirada
É certo que te cagam nos ombros

Mas o descuido não foi teu
E quase parece enguiço
Eles sobrevoam o céu
Tu deixa lá caga nisso

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Provérbio provado rimado - CDXVII

Ó Maria não sejas alarve
Comer menos não é grave
No prato te alambazaste
Insististe e até vomitaste

Agora vai tomar Compensan
Vais ficar melhor de manhã
Pois eu bem te dizia Maria
Que papas à noite faziam azia

Provérbio provado roubado

A mãe do Evaristo abandonou-o em criança e ao marido e foi para paragens desconhecidas com um amante de circunstância nunca mais dando notícias. Ficaram ambos no casebre em ruínas daquela terriola montanhosa sem uma mão feminina.
O Evaristo apresentou, desde muito novo, uma enorme propensão para a maldade no seu estado puro: um dos seus passatempos favoritos era cegar os cães e gatos sem dono que pela aldeia vagueavam. Também ele vagueava pelas terras circundantes deitando a mão ao que podia, à época em que as pessoas ainda deixavam as chaves nas portas à confiança. O Evaristo não era amigo de ninguém, só do alheio. Os aldeãos bem se queixavam ao pai que apenas encolhia os ombros, meio desinteressado meio triste de não conseguir que o filho encarrilasse.
Ainda decorria a adolescência, eram já somados muitos roubos no currículo e o Evaristo foi bater com os costados no reformatório. Foi a sua escola: lá aprendeu o ofício de bandido encartado e se viciou nas drogas duras que lhe retiraram a expressão doce de menino.
Regressou à aldeia e, no tempo que ao retorno se seguiu, não houve casa que não visitasse. O tio Chico ficou sem o dinheiro amealhado para a reforma do telhado, a Alice sem a televisão e o DVD, o Sr. Fernandes sem os whiskeys de colecção. O Evaristo não era esquisito: tudo o que fosse passível de venda por ele era subtraído. Os habitantes da terra, depois de perdidos alguns dos seus bens, desataram a reforçar as fechaduras. Nunca o António serralheiro tivera tanto trabalho.

- Depois da casa roubada, trancas à porta

sábado, 13 de outubro de 2018

Provérbio provado rimado - CDXVI

É provérbio de adega
Bom p'rá hora da sossega
Seja bom ou mau o comer
É preciso três vezes beber

Mas ter o estômago vazio
É sinal de muito fastio
É melhor qualquer coisa trincar
Não beber antes de almoçar

Provérbio provado rimado - CDXV

Se é erro e já o fizeste
Foi a vida que te fez um teste
E o que remédio não tem
Está remediado porém

Vai em frente não olhes p'ra trás
Que a vida estas provas faz
Não andes sempre arrependido
Já devias ter compreendido

O provérbio mete na cabeça
E monta o lego peça a peça
Para construir teu caminho
Felizmente não estás sozinho

Provérbio provado rimado - CDXIV

Aqui na alegre casinha
Nunca me sinto sozinha
Pois vocês estão desse lado
A ler o meu provérbio provado

Sejam todos muito bem vindos
Já que são amigos tão lindos
Quem aqui chega por bem
Que rime comigo também

Rima pobre ou rima rica
O que interessa é quem cá fica
E os que deixam de gostar
Serão bem vindos ao voltar

Provérbio provado rimado - CDXIII

Não sejas coscuvilheiro
É pecado de cabeleireiro
Dos outros contar a vidinha
É conversa comezinha

Se dás com a língua nos dentes
Até podem julgar que mentes
Tu é que ficas mal visto
Eu de falar contigo desisto

Provérbio provado rimado - CDXII

Nas roupas sê poupadinho
Não precisas de usar linho
Um par de calças de ganga
Usa por cima da tanga

E quando a roupa se descose
Com o velho também fazes pose
Remenda pois o teu pano
Que te dura mais um ano

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Provérbio provado num verso branco - XLV

Pequena sou cada vez que desperto
A cada manhã uma semente
Que pede casca rija para enfrentar o dia
Que perde de si para se dar melhor
Fruto imperfeito que nunca se matura
Saio de mim para poder rejuvenescer
Sem poder para crescer mais 
Eu sempre longe da plenitude
Repito-me que graveto também é lenha

domingo, 7 de outubro de 2018

Provérbio provado rimado - CDXI

Este provérbio é maldoso
Ruim e preconceituoso
Com a lógica não atino
Compara o povo ao canino

Então ele reza assim
E a quadra já chega ao fim
Gente do Sul e cães de caça
É tudo da mesma raça

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Provérbio espanhol

Arminda cruzava a fronteira semanalmente para atestar de gasóleo e de umas tapitas acompanhadas de umas cañitas. Se se deixava por lá anoitecer, regressava constipada de depósito cheio da cerveja gelada com sabor a mijoca mas também muito por culpa do vento fresco que soprava na meseta ibérica.
Num desses sábados, por lá conheceu o Pablo junto aos armazéns Preciados que a desafiou para tapear. Arminda aceitou encantada com os olhos brilhando, há tanto tempo que nenhum homem a convidava para nada! Claro que o Gabriel não contava, era o único professor homem lá na escola e bombardeava todas as colegas com solicitações de cafézinhos enquanto fumava como uma chaminé. O Pablo não; o Pablo tinha um savoir faire matreiro; o Pablo deixava as propostas de envolvimento no ar sem ser demasiado cola; o Pablo olhava-a nos olhos sem desviar os seus; o Pablo, pasme-se!, recitava Lorca a espaços, loquaz, no meio dessas miradas atentas.
Prontinho, tiro e queda, a Arminda passou a ir atestar o depósito mais vezes pois cada vez gastava mais gasóleo de tanto transpor a fronteira. Ele deixava-se ficar por lá, nunca propondo ser ele a deslocar-se à Lusitânia. Ainda assim, a Arminda, loucamente, cegamente, apaixonada, fazia planos a dois e até acreditava num futuro matrimónio, cada vez com o nariz mais congestionado da ventania que penetrava pelos poros do carro enquanto viajava para cá e para lá.
O pedido nunca chegou e o Pablo um dia deu o namoro por concluído, mudando de número de telefone e bloqueando a Arminda nas redes sociais.

- De Espanha nem bom vento nem bom casamento