Provérbios Provados noutras casas:

quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Provérbio cítrico

Eu adorava ir sentar-me no banco de ferro que ficava na orla do bosque. Mas naquele Verão o cenário era triste: o fogo chegara tão perto do nosso jardim que até chamuscara as copas dos carvalhos mais altos. Não pereceram, no entanto, haviam apenas ficado com os cabelos castanhos na estação errada. Não faltava muito para a escola começar de novo e eu tinha saudades das minhas amigas.


Numa dessas tardes de estio, a Camila veio fazer-me uma visita para umas horas de brincadeira. O padrasto dela trazia o tractor atulhado de vasos. Uns maiores outros mais pequenos, serviam de casa temporária para árvores de fruto. Disse-nos então, generoso, antes de se fazer ao caminho:

- Tirem aí uma meia-dúzia de rebentos, meninas. Já têm com o que se entreter hoje. É que estas, além de sombra, dão fruto...

A Camila e eu deitámos mãos à obra entusiasmadas com a ajuda de dois pequenos sachos, o balde velho da praia que perdia água e o regador azul que estava sempre junto à porta das traseiras. Plantámos nas horas seguintes quatro promessas de árvore que chegámos a baptizar no meio de uma grande galhofa.


Três anos mais tarde, a minha amiga mudou-se para uma terra longínqua. Senti muitas saudades no início e escrevia-lhe largas missivas, dando conta ao pormenor do que por cá ia acontecendo. E, claro, novidades das nossas árvores de fruto. 

A Sara Cerejeira que prometia carnudos frutos cor de vinho chegou a dar bonitas flores no Inverno, mas morreu de seca no Verão seguinte. A Ana Oliveira acabou por ser transplantada para o terreno do tio Valério por ser uma árvore que gostava de estar em grupo e, sozinha, renderia tão pouco que nem daria para encher meio baldinho da praia. Quanto ao António Pessegueiro ainda deu uns brotos, mas pêssegos nem vê-los: os melros davam conta dos poucos que tentavam sobreviver nos finos galhos. Só o João Limoeiro se aguentou: nos primeiros anos deu pouquíssimos frutos, todavia lá foi devagar engrossando o tronco e espevitando os ramos.

Terminava as cartas com uma profusão de beijos para toda a família da amiga e sempre o mesmo convite: que a viesse visitar em breve. Iriam ao bosque colher amoras e, de caminho, visitariam o amigo limoeiro. E lá rematava da seguinte forma: já estás mesmo a adivinhar o que beberemos ao lanche, não é, Camila?


- Se a vida te der limões faz limonada 

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