Provérbios Provados noutras casas:

terça-feira, 14 de maio de 2019

Provérbio provado aprisionado

O companheiro de cela ainda ressonava no seu catre. Com uma série de movimentos hesitantes, pouco animados, conseguiu levantar-se e foi até à estreita janela ver o sol nascer quadrado. O mundo oferecia outro quente começo de dia. O pedaço de rua que se via estava vazio, como se durante a noite uma praga houvesse varrido toda a população e somente os tivesse deixado, aos dois condenados, a sorver a última réstia de vida.
Mais tarde viria o capelão para a derradeira confissão; o companheiro continuava encolhido lá no seu canto sem abrir os olhos. Ele limitou-se a prescindir monossilabicamente dos serviços religiosos, passando o resto do dia em passos tão largos quanto a cela lhe permitia, passos decididos, sem remorsos. Aqui e ali, alguns passos hesitantes, de auto comiseração, de quase arrependimento, passos de ses e porquês.
Nisto se passou o dia. Já o sol caminhava para Oeste, vieram conceder-lhes uma ceia final. O outro habitante do exíguo espaço finalmente animou-se:

- Comamos e bebamos porque amanhã morreremos

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