- Não se preocupe, Avó Joaquim. A maquilhagem sai facilmente com água, é só para não aparecer a brilhar na televisão....
Que simpática menina - pensou o Joaquim, enquanto outra menina entrava pela porta. Já não tão menina, confirmou num segundo e terceiro olhares.
- Esta é a Vera Santos, Avô Joaquim, a apresentadora do nosso programa.
- Muito gosto, menina Vera! Onde quer que me ponha?
- Vai sentar-se naquele cantinho e, quando eu for falar consigo, a câmara aproxima-se de si. Não tem de fazer mais nada. Veja só se se põe a entrelaçar a verga enquanto falamos... Dá um ar muito pitoresco e familiar.
A apresentadora conferia a toda aquela azáfama uma atmosfera de facilidade.
Depois de entrevistar um aprendiz de feiticeiro que lançara uma dezena de livros de auto-ajuda, Vera Santos virou-se na direcção do cesteiro. E, muito bem disposta, demasiado interessada na sua pessoa e actividades, lancou-lhe uma série de perguntas que de tão estudadas quase pareciam improviso.
Então o Avô Joaquim contou a sua história. O avô ensinara ao pai que, por sua vez, lhe ensinara em gaiato. Agora já ninguém queria aprender a entrançar, os jovens só queriam telemóveis... No entanto, os netos tinham-lhe criado uma conta nas redes sociais onde exibia os seus belos trabalhos.
Não, não fora o seu emprego principal. O Avô Joaquim fora camionista e mais tarde taxista. Mas sempre tivera aquele gosto e nos momentos de folga fazia o dito gosto ao dedo.
E aproveitou para contar a uma surpreendida Vera que havia realizado cem cestos para que servissem de candeeiros num restaurante finório do Norte.
- Então, e conte lá, como arranjou tempo para fazer cem cestos, Avô Joaquim? - inquiriu Vera Santos.
- Cesteiro que faz um cesto faz um cento se lhe derem verga e tempo
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