Entrava no máximo de carruagens que conseguia varrer no mais curto espaço de tempo, só evitava as horas de ponta. Era escusado: quanto mais apertados iam os passageiros menos para ele olhavam. Maldizia para dentro a era digital: os ecrãs eram a melhor desculpa para evitarem encará-lo.
Nas paragens era muitas vezes empurrado de vários lados, depois de ter fechado os olhos durante um percurso em que a composição se tornava mais veloz. A velocidade tinha o condão de lhe acordar na memória o girar da roleta e das slot machines de uma forma que o atordoava.
No início, quando começou a mendigar, ficava envergonhado não sabendo como se dirigir às pessoas. Não tinha a certeza se o famoso estribilho Façam o favor de me auxiliar! dava ou não resultado... Mas cedo descobriu o seu próprio pregão que, estranhamente, lhe granjeava alguma simpatia alheia. Havia até algumas viagens em que arrecadava mais moedas, se cantasse o provérbio como se um refrão.
- Quem gasta mais do que tem, a pedir vem
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