Ai que me tarda o anjo da guarda que não me guarda
Que já tem à guarda tantos sapatos perdidos pelos caminhos
Tantas malas que não se penduraram nos armários
E cabides que não encontraram a silhueta regulamentada
O anjo que não guarda não pode ser da guarda
Ou é um anjo pedante e ambicioso
Convencido que mais guarda do que guarda
O anjo virou-me as costas com um cabide na mão
Todavia continuei a vê-lo de frente para mim
Porque os anjos não têm realmente costas
É por isso que desconhecem a hipocrisia
Tudo o que deles se diz não tem esconderijo
Tudo aceitam ainda que não guardem efectivamente
As costas de quem implora palmadinhas e compaixão
Os anjos não têm costas mas sentem o vento por detrás
Nessas alturas procuram refúgio nas montanhas que há nas nuvens
A auréola é a única coisa terrena e sem significado
Uma vaidade mal-disfarçada tal como um diploma
Que as pessoas penduram nas paredes das casas
E nos cabides onde se penduram
Os anjos não têm costas nem sexo
Por isso há homens que são como anjos
Há anjos que são como homens
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