O Sérgio Ferreira era compreensivo com os sentimentos alheios e incapaz de ferir quem quer que fosse. Aparentemente tímido e vulnerável, e de certa maneira passivo, era muito atento aos pormenores do ambiente que o rodeava e possuia o dom da reconciliação. No entanto, tinha uma certa tendência para substimar as suas capacidades intelectuais e profissionais.
Em suma, o Sérgio era o que vulgarmente se costuma chamar solteiro e bom rapaz. Reparem que disse um bom rapaz e não um belo rapaz, pois na verdade o Sérgio não era nenhum Apolo. Assim sendo, também não almejava nenhuma Valquíria, mas desejava muito encontrar a sua cara metade. Aspirava a uma tranquila vida de casado com uma parceira compatível e compreensiva, estando certo que havia de dar um bom marido. Como era filho único, neto único e sobrinho único, o Sérgio tinha no sotão dois enormes baús a cheirar a naftalina, atulhados de um dispendioso enxoval já fora de moda, à espera de uma esposa prendada.
Só que acabava por se envolver romanticamente com mulheres que não correspondiam aos seus anseios, tendo queda para romances complicados ou inviáveis: a Elsa era casada com um embarcadiço (visitava-a quando o marido andava em alto mar), a Carla tinha um namorado na rua mesmo ao lado (e, descobriu depois, um amante em Alverca) e a Paula era demasiado histriónica para apresentar à família Ferreira (gostava da pinga e bebia aos dois cálices de cada vez).
O Sérgio tinha uma tia solteirona que aparentemente havia folgado bastante na sua juventude, perdendo assim vários bons partidos. Em certa véspera de Natal, estando todos à mesa, e reparando no seu olhar cabisbaixo, a tia Emília disparou-lhe a seguinte máxima:
- Ó meu sobrinho adorado, longe de mim querer cortar-te as pernas, mas presta atenção ao que esta velha tia te vai dizer:
- Antes que cases, vê o que fazes
terça-feira, 2 de janeiro de 2018
Provérbio solteirão
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário