A rainha da noite traz o rei na barriga
Vai pari-lo na rua escura da cidade cinzenta
Todos dirão que vai nú
A fralda do rei é o vento
Vai ser mal criado perto do rio que passa
Malcriado para quem passa no leito do rio
Esfomeado e febril de vida
A rainha mãe tem sede e rouba gotas ao rio
Não há pai para ela
Tão pouco há pai para o filho rei
Com os braços abertos sobre o rio
Morre solteira e a culpa é do outro
Terceiro braço que não teve
As mais altas pontes vigiam as águas
O rei orfão tem o barco mas já não tem a fralda do vento
Cresce de vez quando descobre a flor preta
Assiste do alto das pontes à cidade cinzenta
Quarta feira de cinzas eternas
Já não vai nú o rei
Os fatos feitos de ar ninguém os quis comprar
O rei abre as portas interiores
Quando se quer lembrar da vida na barriga
No princípio a meio do fim
Galga os degraus dois a dois
Come degraus para chegar lá acima ao inferno
Vê a vida a dar um passo atrás
Para logo descer e dar dois à frente
O rei quer sentir a queda do verso
Branco que lhe causa desconforto
Um arrepio percorre a espinha da cidade cinzenta
O rei reina sobre a própria morte
quinta-feira, 18 de janeiro de 2018
Provérbio provado num verso branco - XXI
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário