Depois de ter terminado o curso neste rectângulo à beira mar mal plantado, o Bruno inscreveu-se no programa Erasmus e resolveu rumar a terras de Sua Majestade. Por lá permaneceu largos anos, completando o doutoramento em Neurociências, até queimar todas as pestanas. Um belo dia, bateu-lhe uma tal saudade da lusa pátria que decidiu então regressar de vez. Tinha assegurado basto prestígio com as suas doutas investigações, por isso, mal concorreu, logo recebeu a almejada bolsa que lhe permitiria por cá ficar uns anitos. Então, o Bruno teve a bendita ideia de reunir todas as amigas e amigos da sua juventude num grande jantar de convívio que celebrasse o seu retorno a esta nesga de terra debruada de mar. E é aqui que verdadeiramente começa a nossa história...
O repasto deu-se numa fria noite de Janeiro, numa hamburgueria gourmet que o Bruno reservara para o efeito. Tinha um enorme salão onde se puderam acotovelar os 46 comensais (aliás, 44, pois à última hora o Rui e a mulher tinham os miúdos com febre). O Bruno afadigava-se a dar coordenadas pelo telefone aos retardatários, a lamentar os ausentes e a sentar os presentes fazendo as devidas apresentações, já que destes alguns não se conheciam entre si. E é aqui afinal que verdadeiramente começa a nossa história...
A Marta chegou atrasada porque ao Sábado à noite era difícil estacionar naquela zona. O João chegou atrasado porque ao Sábado à noite havia menos carruagens de Metro a circular. Ambos telefonaram ao Bruno informando-o do atraso e quando chegaram, praticamente ao mesmo tempo, acabaram por ficar sentados lado a lado nas duas cadeiras remanescentes (aquelas que estavam guardadas para o Rui e a mulher). Pediram o mesmo hamburguer de cogumelos, a mesma marca de cerveja e o mesmo quindim de côco para sobremesa. Descobriram, já a conversa ia solta, que até habitavam no mesmo bairro, a apenas duas ruas de distância, sem contudo nunca se terem cruzado. Quando o Bruno enfim percebeu que naquele canto da mesa corrida tinha falhado como anfitrião, já não era necessária apresentação: a Marta e o João trocavam números de telefone rindo a bom rir. Tantas coincidências, tantas coisas em comum; aquela já parecia uma relação escrita nas estrelas com tudinho para resultar! Pois, mas havia um pormenor que nem por sombras tinham em comum: a faixa etária. O João tinha mais dezassete anos do que a Marta e a sua filha mais velha distava desta menos anos do que o putativo casalinho entre si. Dezassete anos é muita fruta! Seria o interesse mútuo suficiente para o entendimento ou, pelo contrário, a diferença de idades ditaria um afastamento? Já lá vamos, não é aqui que verdadeiramente termina a nossa história...
Passados uns meses, numa quente noite de Verão, o Bruno entrincheirara-se de novo na portuguesa pachorra e conduzia o carro pelo tráfego caótico de Lisboa em direcção à casa do João que o tinha convidado para jantar. Qual não foi a sua surpresa quando, uma vez lá chegado, se deparou com uma Marta de calções e chinelo no pé alapada no sofá com ares de proprietária. E é aqui afinal que verdadeiramente termina a nossa história... E termina como é habitual com um ditote proverbial:
- O amor não escolhe idades
quarta-feira, 17 de janeiro de 2018
Provérbio provado com final feliz
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