Provérbios Provados noutras casas:

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Provérbio provado rimado - MDLXXV

És a rainha do boato 
Que entoas ao desbarato 
Pedindo ao interlocutor 
Que não seja teu delator 

Com grande mistério intentas 
A fé naquilo que inventas 
E ao construir cada enredo 
Tu rogas que fique em segredo 

Imploras grande discrição 
E vais repetindo essa acção 
Para cada rumor revelar 
A quem se disponha a escutar 

Por não conseguires ser discreta 
A questão já não é secreta 
E corre então em paralelo 
Tal segredo de polichinelo 




Provérbio provado rimado - MDLXXIV

Tu desejas protagonismo 
Por causa do teu narcisismo 
E não sentes qualquer empatia 
Por quem te faz companhia 

Sabes provocar tanta dor 
A quem está ao teu redor 
Mas não te crês responsável 
Por essa aflição evitável 

Manipulas a realidade 
Com imensa facilidade 
E os factos vais distorcer 
Quando isso te convier 

Os restantes intervenientes 
Até se sentem impotentes 
Chegando mesmo a duvidar 
Do seu modo de avaliar 

Usas um disfarce de charme 
Esperando que o povo desarme 
Em público és tão amistosa 
E em privado és impiedosa 

Tu projectas cada tua falha 
Por medo ou coisa que o valha 
Mas também por insegurança 
Punes quem te dá confiança 

Mais pareces não ter consciência 
Ou sequer um pingo de decência 
Já que tu nunca és a culpada 
Foste sempre influenciada 

Persegues toda a nova presa 
Que ao reagir com surpresa 
Logo é excluída muito à toa 
Cuidando que é má pessoa 

És tão hábil a assim descartar 
Quem não te andar a adular
Vais embora sem qualquer aviso 
Considerando que não é preciso 

E para além da manipulação 
Também tens a forte obsessão 
Do controlo sem descaramento 
Como se sempre teu o momento 

Ser muito perfeita simulas 
Enquanto os outros anulas 
E agindo segundo o teu esquema 
Tu jamais serás o problema 

Esse modo de ser vergonhoso 
É um círculo tão vicioso 
E só quem não te conhecer 
É que te compra sem ver 








quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Provérbio provado rimado - MDLXXIII

Eu supus que te ias embora 
Bem mais tarde do que agora 
Quando um bom substituto 
Comprovasse algum atributo 

Mas antes do que era esperado 
Foste sem mais despachado 
Por causa de tanto enrolares 
E a minha vida empatares 

Tão fartinha de cada finta 
Eu dispensei-te com pinta 
E se não soasse o alarme 
Seguirias a enganar-me

Dito isto estarei disponível 
Para quem tornar acessível 
O caminho para o seu coração 
Sem entrar em contradição 

Do que sente não guarde segredo 
De se dar tenha nenhum medo 
Que seja assim de ti o oposto 
Depois de rei morto rei posto 

Esperando que o rei vindouro 
Surja então coberto de ouro 
O seguinte é sempre melhor 
Para desbaratar o amor 


domingo, 12 de outubro de 2025

Provérbio provado esperando de lado

 

Fomos ganhando o hábito da desconfiança a cada nova estação de partida. Levamos o peito passo a passo mais encolhido. Quando chegamos é já de braços fechados, atentos no assinalar de outros também cruzados. Braços que não se prestam à troca porque são, a toda a nova recepção, cada vez menos soltos, menos livres.

Assim acossados, a tendência é para que ultrapassemos os acontecimentos certos de que prescindimos das evidências. Já vamos preparados, aliás, para interceptar o fingimento e representar um papel que não desejamos no teatro social. Com os dez dedos fora de cena e, com sorte, um naipe parcelado dentro das mangas. Preparados para o passou-bem frouxo, nunca para um embate de frente. Nas circunstâncias mais típicas acautelamos o boato dançando ao ritmo das cadeiras que vagam. Mas não conseguimos evitar a suspeição, isso não. Colocamos sempre alguma reserva nas intenções alheias, prontos a revelar mais uma camada de mentira por detrás da que se nos afigura mais evidente. É de facto curioso que raramente escolhamos acreditar nos outros humanos.

Quantas vezes se falou bem de nós nas costas? Certamente quase tantas como aquelas em que se falou mal. No entanto, não estamos à espera que as pessoas que nos rodeiam se reúnam para conspirar a nosso favor, imaginamos imediatamente um tribunal cujo veredicto nos prejudicará.

Seríamos mais livres, menos reféns da suspeita, se descruzássemos os braços e oferecêssemos hipóteses aos tendões. Um dos grandes problemas da comunicação, e da falta dela, é afinal neuro-esquelético: não aprendemos a ginástica da entrega por nos apresentarmos


- De braços cruzados

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Provérbio provado rimado - MDLXXII

Se achas que me falta esperteza 
Podes logo abraçar a certeza 
Que não a tenho suficiente 
Para discutir com a gente 

Se ademais te pareço cansado 
É do peso em excesso levado 
Que aguentar a burrice alheia 
É tarefa exaustiva e tão feia 

Se crês que ninguém me adora 
Podes ir desde já porta fora 
Porque eu não pedi audição 
Para ter amigos de feição 

Se de mim me julgas tão cheio 
Raramente os outros premeio 
É melhor ser como um balão 
Do que ser vazio por opção 

Se pensas que me penso melhor 
Do que a multidão em redor 
Obrigado por me dares o aviso 
Embora num contexto impreciso 

Se argumentas que um dia mudei 
Pois no mesmo lugar não fiquei 
O problema de ser sempre igual 
Não é meu mas sim teu afinal 

Se às vezes te pareço quieto 
Indiferente ou até circunspecto 
É que estar calado eu prefiro 
Com as minhas escolhas não firo 

Se adiantas que sou perdedor 
Não pedi para ser vencedor 
Não vou convencer-te de nada 
Ou ceder-te a vida emprestada 

Se por fim até se te afiguro 
Que não levo em conta o futuro 
É porque se calhar eu só levo 
Mais a sério aquilo que escrevo 

Se opinas que vais a algum lado 
Estás decerto muito equivocado 
A tua opinião não me interessa 
Eu só dou valor ao que peça 

Por isso poupa lá a energia 
Para o que te seja mais valia 
Lamento pela pouca atenção 
Fala aí com a minha mão