Provérbios Provados noutras casas:

sábado, 30 de agosto de 2025

Provérbio provado rimado - MDLV

Os olhos nunca precisam 
De legendas a acompanhar 
Pois as duas pupilas avisam 
O que eles têm para revelar 

E para saber o que a gente 
Tem receio de confessar 
É só olhar bem de frente 
Para tudo lhe adivinhar 



domingo, 24 de agosto de 2025

Provérbio provado rimado - MDLIV

A notícia chegou de repente 
Revestida de algum nevoeiro 
Quando um poeta descontente 
Se apanhou sem dinheiro 

Apareceu uma data de gente 
A oferecer condolências 
Na missa de corpo presente 
Para encobrir consciências 

E logo ele que detestava 
Eufemismos e coisas fofinhas 
Nunca em vida imaginava 
Tal chorrilho de ladainhas 

Não só partiu mas finou-se
E não faleceu mas morreu 
Acabou-se o que não era doce 
Quando assim desapareceu 

Agora tem nova morada 
Na quinta das tabuletas 
Que tão pouco é visitada 
Pelos vivos amigos poetas 


sábado, 23 de agosto de 2025

Provérbio provado rimado - MDLIII

Ter a menos um parafuso 
Faz de ti deveras maluco 
E também um pouco caduco 
Deixa quem te rodeia confuso 

Nessa peça havia tino 
Não sabes como a perdeste 
Por andares sempre a leste 
Não controlas o teu destino 

Não te enquadras naqueles padrões 
Que são considerados normais 
Como tu haverá outros mais 
Que não mandam nas emoções 


quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Provérbio provado rimado - MDLII

Que o pão exista a rodos 
Na vida de comunidade 
E a dádiva toque a todos 
No que é a generosidade 

O acesso ao forno é aberto 
Livre para qualquer pessoa 
E para quem esteja por perto 
Que queira o pão e a broa 

O cenário em si é tão belo 
Desperta bons sentimentos 
Para que exista em paralelo 
A divisão dos rendimentos

E que haja boa saudinha 
O forno não pare de cozer 
Que o pão que é da vizinha 
O compadre o possa comer


quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Provérbio provado rimado - MDLI

Andavas pela estrada velha 
Bebendo a vida em tragos 
Perseguindo a vã centelha 
Que ofuscava os afagos 

Em vendo que não conseguias 
Tornar-te num ser egoísta 
Gastavas-te em arritmias 
Que trouxessem essa conquista 

Ignoravas o já percorrido 
Apagando de vez o passado 
Por causa de teres fingido 
Estar com outros preocupado 

Não olhavas sequer a paisagem 
Por te pôres a caminho dormente 
Só pensando no fim da viagem 
Desprezavas o resto da gente 

Até rias dos esforços alheios 
Observando de forma picuinhas 
Com que réguas e com que meios 
Os outros suavam as estopinhas 

(Ilustração: Sérgio Neves)


segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Provérbio provado rimado - MDL

Tu ficas à espera num canto 
E ainda reages com espanto 
Cada vez que te faço um convite 
Que qualquer outro admite 

É vergonha ou timidez 
Ou é apenas estupidez?
Eu não consigo perceber 
Porque te queres esconder 

Não vou tirar-te um pedaço 
Se um dia te der um abraço 
Mas deixas-me atrapalhada 
E eu perco logo a pedalada 

Quando me dizes Cá estamos 
Percebo que já não vamos 
Sair para a cidade grande 
Com muita pena Alexandre 

Que falta de entusiasmo 
Ou um pouco de sarcasmo 
Tu preferes ficar na tua 
Do que ir comigo prá rua 

Tão velho antes da hora 
Estás sempre a ir embora 
E então já não sou capaz
De te ver sempre por trás 


Provérbio provado rimado - MDXLIX

Se vens para aqui chatear 
Grito logo Vai-te catar 
Fazendo entretanto a aposta 
Que te vais sem dar resposta 


Provérbio provado rimado - MDXLVIII

Tu não és flor que se cheire 
E és uma gaja perigosa 
Talvez te falte um alqueire 
Também és muito invejosa 

Se alguém te cheira a flor 
Experimenta algum arrepio 
Já que é um terrível odor 
Que exala do teu feitio 

O teu caule é muito direito
Então tem que se lhe diga
Pois isso para mim é defeito 
Não podes ser minha amiga 


quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Provérbio provado rimado - MDXLVII

O Júlio arrasta a asa 
A qualquer rabo de saias 
Escolhendo as suas cobaias 
Fica a melgar e não baza

Não chega a ser muito chato 
Pois finge-se tão distraído 
Mostrando o lado divertido 
Com um humor abstracto 

E apesar deste desapego 
O Júlio é um cortejador 
Que espera levar a melhor 
Para o seu alimento do ego 


Provérbio provado rimado - MDXLVI

O Roberto é muito invejoso 
Além de ser mau e manhoso 
Está sempre a olhar em redor 
Para ver quem tem naco maior 

Se o invejado até se esforçou 
Só há a inveja que sobrou 
Mas se os bens provêm do ar 
O Roberto vai mais invejar 

Inclusive usa do insulto 
Parecendo assim pouco adulto 
Sem obter nenhuma vantagem 
Vai sair-lhe cara a viagem 

Porém ele nunca confessa 
E até a bondade professa 
Ele nega ter tal sentimento 
Que mira com lentes de aumento 

Coisa vergonhosa e tão vil 
A inveja está-lhe no perfil 
Não engana ninguém o Roberto 
Quando imagina que é esperto 

Às vezes anda acabrunhado 
Traz na boca um gosto salgado 
Por não suportar a felicidade
Nem à volta da própria cidade 

Mas se topa alguém infeliz 
Vai depressa meter o nariz 
Lastimando tanto o invejado 
Que até quase se sente estimado 

É pior do que o ódio a inveja 
Mais suja naquilo que deseja 
É cadela que morde e não come 
Pois jamais vai matar essa fome 


terça-feira, 5 de agosto de 2025

Provérbio provado rimado - MDXLV

O Arnaldo era magrinho 
E também bastante baixinho 
Era um tipo muito azarado 
Que jamais conseguia fiado 

Ninguém a sério o levava 
Com a sua presença diferente 
E o Arnaldo assim desprezava 
Por ser só dez réis de gente 



Provérbio provado rimado - MDXLIV

Estão seis gatos pingados 
Naquele café às moscas 
Os seis já estão entornados 
Exibem maneiras toscas 

Ah se fosse eu o gerente 
Do velho esbalecimento 
Havia de ficar descontente 
Com o vergonhoso momento 

Depois eu teria um tal gesto 
Que lhes mostrasse a rua 
Dentro não sobrava resto 
Nem pingo de falcatrua 


Provérbio provado rimado - MDXLIII

Quando algo se precipita 
No sentido de dar errado 
Deixa muita gente aflita 
Ou somente em desagrado 

É certo que há confusão 
Que causa grande surpresa 
Mais parece que um furacão 
Se abateu fazendo limpeza 

Mas também pode ser ironia 
Exagero de uma gravidade 
Afirmar com categoria 
Caiu o Carmo e a Trindade 


Provérbio provado rimado - MDXLII

Meter a praça do Rossio 
Naquela Betesga tão estreita 
É mais do que um desafio 
É uma tarefa suspeita 

Pois se a praça é gigante 
E a outra é só uma ruela 
Seria até caso importante 
Conseguir-lhe uma aduela 

É coisa decerto inglória 
Insistir nesta actividade
Mas é dito de memória 
E ficou para a posteridade 


segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Provérbio provado rimado - MDXLI

A pesca tem a sua ciência 
Há que juntar-lhe o isco aqui 
E uma dose de paciência 
Que o peixe já já vem aí 

E no fim dessa vã pescaria 
Valeu tanto a pena o esforço 
Que suplanta qualquer magia 
De ter só no isco reforço 


Provérbio provado rimado - MDXL

O amor é tal qual uma luz 
Que não deixa que a vida escureça 
E também é um tipo de cruz 
Que se leva como uma promessa 

Mas nem tudo aquilo que se ama 
Se deseja em igual proporção 
Que o desejo termina na cama 
E o amor espera continuação 

O amor pode e deve crescer 
E alimenta-se de cada beijo 
Mas a posse só faz esmorecer 
É a sepultura do desejo 


Provérbio provado rimado - MDXXXIX

Quando alguém o troco merece 
E os ânimos estão exaltados 
Na verdade o que apetece 
É operá-los acalorados 

Mas agir assim por impulso 
Não exibe a melhor atitude 
Pois é comportamento avulso 
Que nadinha deve à virtude 

Ideal é esperar que arrefeçam 
Que acalmem muito devagar 
Até que os ofensores esqueçam 
Quem fizeram prejudicar 

E nessa aparente temperança 
Que é próxima do calafrio 
Pode-lhe seguir-se a vingança 
É um prato que se serve frio 


Provérbio provado rimado - MDXXXVIII

Se soubesses o quanto te adoro 
Há mais de um bom par de anos 
Não és meu contudo não choro 
Não teço essa teia de enganos 

O que faço aos vários anseios 
Que ocupam o corpo e a mente?
Vou dispô-los em copos cheios 
Cada um numa cesta diferente 

Quando surgem desejos novos 
Eu não sei bem o que sentir 
Aprendi a separar os ovos 
As gemas das claras dividir 

É assim que escuso de lidar 
Com a questão mais central 
Pretendo o problema espalhar 
Pelas terras do maralhal 

Junto o útil ao agradável 
Dando vazão às mãos-cheias 
Vou da forma mais respeitável 
Dividir o mal pelas aldeias