Provérbios Provados noutras casas:

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCLX

Eu tendo ao isolamento 

Se sinto que não encaixo 

Fico então nesse momento 

Sozinha na mó de baixo 


Depois ninguém me atura 

E qualquer convite rejeito 

Sabendo que não é altura 

Para que me ponha a jeito 


Ficar assim solitária 

É tão má ideia afinal 

Logo eu que sou tão gregária 

É uma coisa paradoxal 


De mim própria tenho pena 

Suspeitando que até causo dó 

Para que tenha vida plena 

Terá de subir essa mó 



Provérbio provado rimado - MCCCLIX

Os ricos têm angústias 

Os pobres inquietações 

E se ambos as coleccionam 

Lá terão as suas razões 


Se acordam assim preocupados 

Com a ansiedade em alta 

Não interessa se há abundância 

Ou se ao invés faz falta 


Já que ninguém sabe o dia 

Que amanhã já virá 

E então a futurologia 

É o maior disparate que há 



terça-feira, 29 de outubro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCLVIII

Não preciso de provar nada 
Nem de convencer ninguém 
Farta de ser copiada 
Vou implicar com alguém 

E então saiam da frente 
Que agressiva já me sinto 
Não me quedo indiferente 
Quando um plágio pressinto 

Se a caminho esbarrarem 
Com mais atitudes reles 
O melhor é me agarrarem 
Que senão eu vou-me a eles 


sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCLVII

Pensando que vinhas primeiro 
Deste-te todo por inteiro 
Mas foste mais um pretendente 
Que me deixou indiferente 

Eras tão melga e tão chato 
Mais parecias um carrapato 
Muito cola e com ar infeliz
Eu ficava sem ar no nariz 

Não podia jamais fazer nada 
Sem que fosse por ti questionada 
Em que é que estás a pensar?
Ora em nada em particular 

Era essa permanente questão 
Que me causava repulsão 
Ainda mais porque era precoce 
Imagina então se não fosse 

Creio que sabias afinal 
Tal apego não ser natural 
Por isso estavas preocupado 
Em poder pedir demasiado 

Dei-te então um chega pra lá 
Já que enfim paciência não há 
Aturar-te foi uma desgraça 
Por seres chato como a potassa 


Provérbio provado rimado - MCCCLVI

Se tu costumas mexer 

Apalpando a mercadoria 

Para assim poderes entender 

Se lhe darás primazia 


És como nuestros hermanos 

Quando querem algo constatar 

Podendo até causar danos 

Para ver têm de tocar 


Com os tendões tem cuidado 

E a compreensão sensitiva 

Pois talvez do outro lado 

Exista outra narrativa 


Que repara em quem apanha 

Com o peixe também os anzóis 

E lhe reconhece a manha 

De ver como os espanhóis 



Provérbio provado rimado - MCCCLV

Tu só sabes matar moscas 

Com a parte de trás das costas 

E inventas desculpas toscas 

Pois de trabalhar não gostas 


Passas o dia a roçar 

O cu gordo pelas esquinas 

E os tomates vais coçar 

Numa postura traquinas 


Assim revela-se impossível 

Achar que o teu ser promete 

Que o teu ar é impassível 

Julgas que tudo é um frete 



Provérbio provado rimado - MCCCLIV

Quem ama verdadeiramente 

Aceita o que lhe aparece 

Tal como existe a gente 

Já que toda a gente merece 


Cada um vive nesse lugar 

Que em vida andou construindo 

E de nada adianta negar 

Como o rumo foi evoluindo 


Pois a regra da aceitação 

É fácil e simples no fundo 

Basta ter dentro do coração 

Um despojamento profundo 


Tal como está embrulhado 

Deve receber-se um presente 

Dizem que a cavalo dado 

Não se deve olhar cada dente 



Provérbio provado rimado - MCCCLIII

Tu fala-me tiro a tiro 

De rajada não te percebo 

Que expliques bem eu prefiro 

Do que me limpes o sebo 


Não sejas assim agressivo 

Nem entres logo a matar 

Ou enfim esquecerei o motivo 

Que me faz te considerar 



Provérbio provado rimado - MCCCLII

Galinha que acompanha pato 

Acaba por morrer afogada 

É fácil de entender o facto 

Já que a galinha não nada 


Que a ave se quer rodear 

De outros animais talentosos 

Mas anda a apanhar do ar 

Do que ela são mais jeitosos 


Pois a dita galinha tem fama 

De não ser muito inteligente 

Responde quando alguém chama 

Logo vem piando contente 


Lá no fundo a pobre galinha 

Queria umas asas de jeito 

Mas fica bicando sozinha 

Num cacarejar contrafeito 



Provérbio provado rimado - MCCCLI

A sabedoria que tem 

Não serve a finalidade 

De contribuir com bondade 

Já que trama sempre alguém 


Não sei o que lhe perguntaram 

Nem sei com quem aprendeu 

Mas é certo que não mereceu 

Sabe mais do que lhe ensinaram 



Provérbio provado rimado - MCCCL

Sofreu um enorme calvário 

Num tormento doutrinário 

Levando às costas a cruz 

Tanto aguentou o Jesus 


E a grande dor que sofreu 

Nossa Senhora comoveu 

Pois nem ela naquele momento 

Sonhava um renascimento 


Com ladrões crucificado 

Pelo próprio Pai ignorado 

A fim de servir de lição 

A todo o que é cristão 


Foi preciso chamar um ferreiro 

Que chegou com o cangalheiro 

Para vários pregos apertar 

Não fossem eles se soltar 


O ferreiro que não era crente 

Não ficou no entanto indiferente 

Àquele homem de aura sagrada 

Com tamanho azar na jornada 


E até que surgisse o estertor 

Só para melhorar o humor 

Quis fazer-se de engraçadinho 

Largando um dito comezinho 


Então para quem quis ouvir 

Mandou esta laracha a seguir 

Com pregos Jota Baptista 

Não há Cristo que resista 



quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCXLIX

Tu gostas de bisbilhotar 
Para dar a tua opinião 
Mas costumas exagerar 
E depois não te dão atenção 

Pois não há gente interessada 
Nessa tua cusquice vulgar 
Por teres a postura errada 
De te pores a murmurar 

Insistes em pôr o nariz 
Aonde não és chamado 
Repetindo o que se diz 
Com algo por ti inventado 

Estás sempre assaz desejoso 
De ir meter o bedelho 
E nesse círculo vicioso 
Ignoras qualquer conselho 

Não coloques o bico no ninho 
Para o qual não te convidaram 
Ou serás deixado sozinho 
Por aqueles que te ignoraram 

Mas demoras até perceber 
Que tal atitude é feia 
Então continuas a meter 
A foice em seara alheia 


Provérbio provado rimado - MCCCXLVIII

Logo cedo a tesão do mijo 

Torna qualquer homem rijo 

Se é mito o mijo ou a tesão 

Não importa tal atribuição 


Se nenhum se tornar viável 

Deve ser pouco confortável 

Mas posso apenas imaginar 

Essa tal forma de bem-estar 



Provérbio provado rimado - MCCCXLVII

Normalmente eu sou acessível 

Sou até bastante amigável 

Mas hoje não estou comestível 

Sinto-me de facto intragável 


Acordei com os pés de fora 

Sem vontade nenhuma de amar 

Se calhar é melhor ir-me embora 

Para o ambiente não estragar 


Acho-me muito melancólica 

E não sou flor que se cheire 

Não estou lá muito católica 

É melhor que ninguém se abeire 



terça-feira, 22 de outubro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCXLVI

Essa coisa das companhias 

Tem tanto que se lhe diga 

Porque até tu em alguns dias 

És a tua pior inimiga 


Mas é comumente aceite 

Que aqueles de que te rodeias 

Além de servirem de enfeite 

Influenciam as tuas ideias 


Diz-me com quem é que andas 

Direi o que é que vais ser 

Mesmo se pensas que mandas 

No que te vai acontecer 


É sempre na pior altura 

Decorra o que decorrer 

Quem com porcos se mistura 

Farelos há-de comer 



Provérbio provado rimado - MCCCXLV

O tesouro do avarento 

Não desce para o caixão 

E será no futuro sustento 

De qualquer rei ou ladrão 


Porque ser-se em vida forreta 

Assim tanto não engorda 

E é uma atitude incorreta

Com a qual a gente discorda 


Tão feia é a pessoa sovina 

Que coça para dentro somente 

Só a si própria fascina 

De modo intermitente 


É mão de vaca carnuda 

Que só pensa em amealhar 

Aceitando sempre uma ajuda 

Ainda que não vá precisar 



Provérbio provado rimado - MCCCXLIV

Se a chamas logo de tua 

Quando está a lebre à mão 

Como se vivesses na lua 

Estando bem perto do chão 


Estás a contar com o ovo 

No cu de alguma galinha 

Sempre que um amor novo 

Com estrondo se avizinha 


E ainda estás a colocar 

O carro à frente dos bois 

Por causa de assim desejar 

Vais lamentar-te depois 


Por isso tu tenta gerir 

Melhor essas expectativas 

Ou terás de então concluir 

Quaisquer relações nocivas 



segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Provérbio provado desarrumado

A casa parecia grande, mas era uma ilusão de óptica. O equívoco era facilmente desfeito quando se ia à volta e se via que até era alta, tendo no entanto pouca profundidade. Nela viviam o casal de progenitores, mais cinco filhos e a avó paterna viúva. 

Dos cinco descendentes somente um tinha a modéstia no lugar, os demais viviam como se fossem filhos de milionários, desejando para cada um automóvel topo de gama com colunas stereo. Mas o pai não passava de um empregado por conta de outrem, descontente porque mal pago e mal humorado porque descontente. A mãe, essa, era uma moura de trabalho: começava a limpar e a cozinhar assim que se apeava do leito e só parava depois da cozinha arrumada após a ceia.

Nunca se queixava, a mãe. Mas, secretamente, vivia com um desgosto tremendo por ter parido quatro verbos-de-encher com a mania das grandezas. Ao ser sua empregada, pouco educava os quatro preguiçosos que sempre e só mais trabalho diário sabiam acrescentar. Se nem eram sequer capazes de puxar as orelhas à cama a cada manhã, nem vale a pena descrever o reboliço dos seus aposentos, onde se acumulavam peúgas sem par e cuecas sujas pelo chão. 

O pai não estava para se chatear e fechava os olhos. A avó também os fechava por ter cegado há oito anos. E só a mãe se desesperava internamente com tal falta de arrumação e limpeza. Vinham as estações umas a seguir às outras, o calor e depois o frio e depois o calor, e a mãe não conseguia inculcar nenhum brio dentro daquelas cabeças ociosas.

Nunca se queixava, a mãe. Até que chegou um dia de Outubro, à hora em que os sinos tocavam uma cantiga de finados, e Mafalda, assim se chamava a mãe, embrulhou uma trouxa de roupa - lavada, entenda-se - e desapareceu do mapa. Estava farta de ser criada dos filhos.


- Mais há quem suje a casa do que quem a varra 

Provérbio provado rimado - MCCCXLIII

 Nem ouso pronunciar 

Teu nome em alta voz 

Não vá então agourar 

E causar sofrimento atroz 


Vou desejar ao invés 

Que tudo vá pelo melhor 

Para não sofrer um revés 

No campo minado do amor 


Já que demorei a entender 

Por mais que a sorte reme 

Que aquele que teme sofrer 

Começa a sofrer o que teme 



Provérbio provado rimado - MCCCXLII

 És burro que nem uma porta 

E ainda te pagam por cima 

Mais à tua avó torta 

À cunhada e à prima 


Vivem todinhos à mama 

E a sua procura activa 

É da almofada na cama 

Numa pose reflexiva 


Talvez lhes caiam parentes 

No lodaçal lá de fora 

Fazer trabalhar estas gentes 

É como mandá-los embora 



domingo, 20 de outubro de 2024

Provérbio provado num verso branco - CXLVI

Um pavor constante dos atropelos 

Inevitáveis que a vida acarreta 

Na estrada onde caminho é apenas um nome 

E de onde as regras de circulação 

Se ausentam para despistar a norma 

Que as bases do pavimento carecem de solidez 

E a cada passo se esfolam mais joelhos nus 

Só assim se confirma cada passo 


É um salve-se quem puder 

Alguém me salva se eu quiser?



quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCXLI

Não bebas coisa que não vejas 

Nem assines carta que não leias 

Podem não ser o que desejas 

Não serem iguais às ideias 


Porque um ponto de partida 

Pode descambar em fiasco 

E apanhada desprevenida 

A gente até fica com asco 


Mas também por outro lado 

Acontecem boas surpresas 

E esse acto inesperado 

Deita por terra certezas 


Tal como debaixo dos pés 

Se levantam vários trabalhos 

Também podes obter ao invés 

Sucessos que chegam sem ralhos 


Assim quem menos considera 

Que lhe ofereçam conselhos 

Verá donde menos se espera 

É que saem enfim os coelhos 




sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCXL

Quando não encontrares fora 

Porque dentro é que é o lugar 

Não esperes agenda ou hora 

Não deixes a coisa alquebrar 


A coisa pode não ter nome 

Ou não se conseguir contar 

E ser responsável pela fome 

Que jamais te vai saciar 


Sempre que fizer sentido 

Escutares a voz interior 

Esquece o então prometido 

Agarra esta com fervor 


Não penses que é solitário 

Este para dentro olhar 

De facto até é gregário 

Mais fácil outrem aceitar 


Não és assim tão diferente 

Daquele que te circunda

Que também carrega na mente 

A mesma angústia profunda 


Faz-lhe saber que te importas 

Que seu padecer tu lamentas 

E não lhe feches as portas 

Se a sua casa frequentas 


Dá e pede também atenção 

Que esse cobertor não encolhe 

Mas cuidado com a proporção 

Quem pede depois não escolhe





Provérbio provado rimado - MCCCXXXIX

O Pedro é um pobre coitado 

Que dantes era ignorado 

Até que um dia apostou 

E noutros se pendurou 


É uma criatura cinzenta 

Mas ser colorido ele tenta 

Suplicando um par de amizades 

Que engulam as suas verdades 


É chamado para discursar 

Só lhe falta porém gaguejar 

São lacunas de auto-estima 

E do pouco que o anima 


Chega a noite e está sempre só 

Numa solidão de dar dó 

Com um livro sobre o regaço 

A fazer as vezes de abraço 


Não quero ser maldizente 

Preferia até ser indiferente 

Mas tal tipo de comportamento 

Já foi para mim um tormento 


Pois usar e logo deitar fora 

Enquanto o próprio melhora 

De muito egoísmo é sinal 

Desse ser tão artificial 



Provérbio provado rimado - MCCCXXXVIII

Afinal se há vida ideal 

É parecida com a vida real 

Pois com tanta ida e vinda 

Quem existe está na berlinda 


Os quebrantos depois dos sucessos 

Os avanços e os retrocessos 

Desenham-se no tabuleiro 

Que retrata um ser por inteiro 


A história de cada vivência 

Com maior ou menor resistência 

É então um grande mistério 

Que nunca é levado a sério 


Mesmo quem se crê no direito 

Não alcança o equilíbrio perfeito 

Há um nível de desassossego 

Que só lixa os planos ao ego 


Pois é sempre humana a matriz 

Mesmo que muito forte a raiz 

Há quem seja refém da agonia 

E assim não vislumbre a magia 


Exercendo a própria liberdade 

Pode-se extrapolar à vontade 

Mas mantendo um ou vários sistemas 

Para poder manejar os problemas 


É preciso é manter a calma 

Sendo a paz um casaco da alma 

E assim tudo viver com leveza 

Sem a exigência da certeza 


Praticar esta serenidade 

Não dá pasto a tanta ansiedade 

Que é mestra na vã sabotagem 

Que termina sempre em paragem 


Entregar-se à auto-punição

Por não conseguir dar vazão 

Só que a vida em nada melhora 

Tudo à roda o castigo piora 


Com a maturidade a ajudar 

Para a sabedoria alcançar 

Ignorando os momentos fugazes 

Já que tréguas não se chamam pazes