Não dês comida à tristeza
Nem lhe guardes lugar à mesa
Que ela é tão viciante
Torna-se o teu comandante
Faz sim o gesto contrário
No teu pedaço agrário
Lança cuidada semente
Que cresça bem reluzente
Cultiva a felicidade
Na tua propriedade
Entrega-te à criação
Com dupla satisfação
Verás como crescerá
E lindos frutos dará
Por isso se queres alegria
Já sabes semeia e cria
quarta-feira, 25 de setembro de 2019
Provérbio provado rimado - DCLXXII
A Eva estava sozinha
Mas afinal medo não tinha
Não precisava de Adão
Que lhe enchesse o coração
Quando não esperava um dia
Surgiu-lhe uma companhia
Caído de paraquedas
No meio das alamedas
Não era nenhum aviador
Era somente um professor
Que quis ser seu namorado
Num momento tão inesperado
A Eva um bocado pensou
Mas depois logo aceitou
Que na vida há que arriscar
Se o amor nos vem contemplar
Mas afinal medo não tinha
Não precisava de Adão
Que lhe enchesse o coração
Quando não esperava um dia
Surgiu-lhe uma companhia
Caído de paraquedas
No meio das alamedas
Não era nenhum aviador
Era somente um professor
Que quis ser seu namorado
Num momento tão inesperado
A Eva um bocado pensou
Mas depois logo aceitou
Que na vida há que arriscar
Se o amor nos vem contemplar
Provérbio solitário - III
A Liliana vivera sempre no meio da multidão. Como era filha única, tivera a todo o momento necessidade de companhia para brincar em criança e, já em adulta, fugia de estar sozinha como o diabo da cruz. Era muito sociável, gregária por natureza, e pelava-se de medo da solidão.
Ironia do destino, após várias relações fracassadas, dera por si a viver só no seu apartamento muito bem organizado, arrumado e asseado na grande cidade. Liliana tinha sempre música a tocar ou a televisão a transmitir notícias ou programas de qualidade mais ou menos duvidosa. O que era preciso era disfarçar o silêncio e não deixar que os pensamentos falassem mais alto.
Liliana tinha um vasto grupo de amigos de longa data que contactava com regularidade a somar a um sem número de amizades circunstanciais com que também dialogava a espaços quando as mais antigas se cansavam da sua permanente necessidade de atenção. Ela intuía quando tinha esgotado a paciência do interlocutor, já que o mais das vezes aquele não tinha sequer coragem para lhe dizer abertamente que estava a ser maçadora. Metia a viola no saco e escolhia a próxima vítima que enchia de convites para jantar, cinemas e planos de futuras viagens, tudo fazendo para estar presente e lhe ser prestável, tornando-se assim necessária. Mas já se sabe o que se diz (e diz-se tanto no mundo laboral!): ninguém é insubstituível e Liliana também não o era. Às tantas, aparecia alguém mais interessante, com mais predicados ou simplesmente menos chata e ela era posta de lado sem dizer água vai.
Liliana ficava para morrer: levava essas rejeições muito a peito e eram rudes golpes na sua auto estima. E se era assim com as amizades não correspondidas, o cenário em tudo se assemelhava quando se tratava de amores. A Liliana estava farta de tentativas goradas e já nem o sexo fortuito lhe interessava: embora pudesse ser momentaneamente satisfatório, deixava-lhe uma sensação de vazio no dia seguinte. Via-se de novo só e depois era um dia de juízo para contrariar essa espiral descendente de pensamentos negativos.
- A solidão é péssima conselheira
Ironia do destino, após várias relações fracassadas, dera por si a viver só no seu apartamento muito bem organizado, arrumado e asseado na grande cidade. Liliana tinha sempre música a tocar ou a televisão a transmitir notícias ou programas de qualidade mais ou menos duvidosa. O que era preciso era disfarçar o silêncio e não deixar que os pensamentos falassem mais alto.
Liliana tinha um vasto grupo de amigos de longa data que contactava com regularidade a somar a um sem número de amizades circunstanciais com que também dialogava a espaços quando as mais antigas se cansavam da sua permanente necessidade de atenção. Ela intuía quando tinha esgotado a paciência do interlocutor, já que o mais das vezes aquele não tinha sequer coragem para lhe dizer abertamente que estava a ser maçadora. Metia a viola no saco e escolhia a próxima vítima que enchia de convites para jantar, cinemas e planos de futuras viagens, tudo fazendo para estar presente e lhe ser prestável, tornando-se assim necessária. Mas já se sabe o que se diz (e diz-se tanto no mundo laboral!): ninguém é insubstituível e Liliana também não o era. Às tantas, aparecia alguém mais interessante, com mais predicados ou simplesmente menos chata e ela era posta de lado sem dizer água vai.
Liliana ficava para morrer: levava essas rejeições muito a peito e eram rudes golpes na sua auto estima. E se era assim com as amizades não correspondidas, o cenário em tudo se assemelhava quando se tratava de amores. A Liliana estava farta de tentativas goradas e já nem o sexo fortuito lhe interessava: embora pudesse ser momentaneamente satisfatório, deixava-lhe uma sensação de vazio no dia seguinte. Via-se de novo só e depois era um dia de juízo para contrariar essa espiral descendente de pensamentos negativos.
- A solidão é péssima conselheira
sexta-feira, 20 de setembro de 2019
Provérbio provado rimado - DCLXX
Os meus versos despontam ligeiros
Querem ser sempre os primeiros
A cair no papel redondos
São disparados em estrondos
Os meus versos saem a granel
E são despejados no papel
Sem que tenha grande reflexão
Por isso são sem pretensão
Faço versos em poucos minutos
Parecem uns maduros frutos
Que da árvore querem tombar
Para engolir sem mastigar
Faço versos com muitos ditados
Populares e tão engraçados
Se alguns se aproveitam no fim
Não tenho a certeza enfim
Mas no meio de tal produção
Já se nota bem a minha mão
Pela palha se conhece a espiga
Fazer versos é paixão antiga
Querem ser sempre os primeiros
A cair no papel redondos
São disparados em estrondos
Os meus versos saem a granel
E são despejados no papel
Sem que tenha grande reflexão
Por isso são sem pretensão
Faço versos em poucos minutos
Parecem uns maduros frutos
Que da árvore querem tombar
Para engolir sem mastigar
Faço versos com muitos ditados
Populares e tão engraçados
Se alguns se aproveitam no fim
Não tenho a certeza enfim
Mas no meio de tal produção
Já se nota bem a minha mão
Pela palha se conhece a espiga
Fazer versos é paixão antiga
Provérbio provado rimado - DCLXIX
A Filipa é boa pessoa
Mas menos do que apregoa
Tem alterações de humor
Reage mal ao dissabor
Não se consegue perceber
Quando é dia de desenvolver
Uma conversa mais comprida
Ou se será de fugida
Se a Filipa aparece cuidado
Com um ar meio tresloucado
E uma expressão muito tosca
É sinal de que está com a mosca
Mas menos do que apregoa
Tem alterações de humor
Reage mal ao dissabor
Não se consegue perceber
Quando é dia de desenvolver
Uma conversa mais comprida
Ou se será de fugida
Se a Filipa aparece cuidado
Com um ar meio tresloucado
E uma expressão muito tosca
É sinal de que está com a mosca
Provérbio provado num verso branco - LXII
Porca miséria
A ignorância é a mãe da miséria
A indiferença é a mãe da ignorância
A miséria teve avó mas nasceu só
Ninguém lhe estendeu o ABC
Ninguém lhe alimentou a sede de saber que não tinha
Ninguém lhe calçou os sapatos do conhecimento
A miséria viveu sem dúvidas
E se calhar até morreu com os bolsos cheios de prata
A ignorância é a mãe da miséria
A indiferença é a mãe da ignorância
A miséria teve avó mas nasceu só
Ninguém lhe estendeu o ABC
Ninguém lhe alimentou a sede de saber que não tinha
Ninguém lhe calçou os sapatos do conhecimento
A miséria viveu sem dúvidas
E se calhar até morreu com os bolsos cheios de prata
terça-feira, 17 de setembro de 2019
Provérbio provado num verso branco - LXI
ESTOU SEMPRE A ESCREVER VERSOS SOBRE A VIDA
A vida é uma carteirista que nos surpreende de bolsos vazios
Tímida ladra do que não temos
Rouba a imagem que o espelho nos devolve
Não reconhecemos aquela pessoa ali a envelhecer
Que nos fita com estranheza
E só tem o tempo por companhia
A vida não é uma mãe extremosa
Não nos leva ao colo nem nos ensina a andar
É madrasta exigente que não premeia esforços
Quando muito oferece um rebuçado paralítico
Na presença de um desenlace favorável
É esse o máximo influxo a que se dispõe
Uma guloseima responsável por cáries futuras
A vida é um balde que está roto
Apanhamos a merda e ela volta a espalhar-se
Recordando-nos a cada pegada erros passados
Más escolhas que ainda importunam a memória
E o futuro é aquele balde que nunca se enche
Estou sempre a escrever versos sobre a vida
Por ser para mim um tal mistério
Que só em metáforas se revela
A vida é um armário cheio de roupa que não me serve
A vida é uma carteirista que nos surpreende de bolsos vazios
Tímida ladra do que não temos
Rouba a imagem que o espelho nos devolve
Não reconhecemos aquela pessoa ali a envelhecer
Que nos fita com estranheza
E só tem o tempo por companhia
A vida não é uma mãe extremosa
Não nos leva ao colo nem nos ensina a andar
É madrasta exigente que não premeia esforços
Quando muito oferece um rebuçado paralítico
Na presença de um desenlace favorável
É esse o máximo influxo a que se dispõe
Uma guloseima responsável por cáries futuras
A vida é um balde que está roto
Apanhamos a merda e ela volta a espalhar-se
Recordando-nos a cada pegada erros passados
Más escolhas que ainda importunam a memória
E o futuro é aquele balde que nunca se enche
Estou sempre a escrever versos sobre a vida
Por ser para mim um tal mistério
Que só em metáforas se revela
A vida é um armário cheio de roupa que não me serve
domingo, 15 de setembro de 2019
Provérbio provado rimado - DCLXVIII
Uma vez fui à televisão
Participar num concurso
Foi um momento de emoção
Portei-me bem no decurso
O apresentador era o Malato
Havia uma enorme cadeira
Que subia com aparato
Não era pois brincadeira
Respondi a quarenta questões
De temas de cultura geral
Avançando sem hesitações
Até chegar lá à final
Apesar de bem sucedida
Tinha um nervosismo gigante
Mas fiquei muito agradecida
À minha memória de elefante
Participar num concurso
Foi um momento de emoção
Portei-me bem no decurso
O apresentador era o Malato
Havia uma enorme cadeira
Que subia com aparato
Não era pois brincadeira
Respondi a quarenta questões
De temas de cultura geral
Avançando sem hesitações
Até chegar lá à final
Apesar de bem sucedida
Tinha um nervosismo gigante
Mas fiquei muito agradecida
À minha memória de elefante
Provérbio provado rimado - DCLXVII
O Rui é um misantropo
Desconfia da humanidade
É assim desde cachopo
Falta-lhe espontaneidade
Quando lhe fazem um convite
O Rui recusa prontamente
Provenha ele da elite
Ou até de um indigente
Gosta de estar em casa sozinho
De dar passeios pelos bosques
E se acaso encontra um vizinho
Diz logo vou dar de frosques
Desconfia da humanidade
É assim desde cachopo
Falta-lhe espontaneidade
Quando lhe fazem um convite
O Rui recusa prontamente
Provenha ele da elite
Ou até de um indigente
Gosta de estar em casa sozinho
De dar passeios pelos bosques
E se acaso encontra um vizinho
Diz logo vou dar de frosques
Provérbio provado num verso branco - LX
Ter opinião é como andar à procura do sol
Num dia de contar carneiros nas nuvens
A língua carece de certezas
Os olhos duvidam dos ângulos rectos
Os dedos descobrem que a matéria é inútil
Tudo o que se pensa e se sente
É uma mentira que aprendeu a andar
O que ontem era hesitação
Hoje é funeral e amanhã transformação
Boca que diz não também diz sim
Num dia de contar carneiros nas nuvens
A língua carece de certezas
Os olhos duvidam dos ângulos rectos
Os dedos descobrem que a matéria é inútil
Tudo o que se pensa e se sente
É uma mentira que aprendeu a andar
O que ontem era hesitação
Hoje é funeral e amanhã transformação
Boca que diz não também diz sim
Provérbio provado rimado - DCLXVI
Seja sincero e clemente
Bonzinho e diligente
Olhe bem pelos demais
Trate todos como iguais
Não precisa ser o tolo
Que se traz a tiracolo
Basta-lhe ter a noção
Da pureza de intenção
Bons frutos irá colher
No caminho que fizer
Queira o bem e faça o bem
Que o resto a seguir vem
Bonzinho e diligente
Olhe bem pelos demais
Trate todos como iguais
Não precisa ser o tolo
Que se traz a tiracolo
Basta-lhe ter a noção
Da pureza de intenção
Bons frutos irá colher
No caminho que fizer
Queira o bem e faça o bem
Que o resto a seguir vem
Provérbio provado num verso branco - LIX
A vida não é uma lotaria
Não é o tiro inteiro no escuro
Ela escolhe-se e escolhe-nos
Temos uma palavra a dizer
Tropeçamos e reerguemo-nos
A lotaria não contempla a vontade: apenas a sorte
E a vontade tem pernas compridas para descobrir os caminhos
A viola quer-se na mão do tocador
Não é o tiro inteiro no escuro
Ela escolhe-se e escolhe-nos
Temos uma palavra a dizer
Tropeçamos e reerguemo-nos
A lotaria não contempla a vontade: apenas a sorte
E a vontade tem pernas compridas para descobrir os caminhos
A viola quer-se na mão do tocador
sábado, 14 de setembro de 2019
Provérbio provado rimado - DCLXV
Quando ajudas as demais almas
Podes esperar retribuição
Uma mão lava a outra mão
E as duas batem palmas
Podes esperar retribuição
Uma mão lava a outra mão
E as duas batem palmas
Provérbio provado rimado - DCLXIV
Tu atenta neste ditado
Se és homem ponderado
Ao fazeres uma promessa
As tuas intenções confessa
Pois se voltares atrás
Um bom mentiroso serás
Já que a palavra dada
Tem de ser palavra honrada
Se és homem ponderado
Ao fazeres uma promessa
As tuas intenções confessa
Pois se voltares atrás
Um bom mentiroso serás
Já que a palavra dada
Tem de ser palavra honrada
Provérbio provado rimado - DCLXIII
O preconceito sem razão
Que julga de antemão
É coisa das mais gravosas
Arrogantes e perigosas
Pois ter preconcebidas
Ideias mal reunidas
Sem corpo e a cuspo coladas
Por dogmas alimentadas
É triste e pouco eloquente
De bons argumentos carente
Estúpido e até com maldade
Usar só do cérebro metade
Tão comum o vão preconceito
Da sociedade um defeito
Repetido sem fundamento
É da violência alimento
Prejudica as minorias
É austero e tem manias
Elitista também sabe ser
Tem-no quem se nega a aprender
Os que são ruins e mesquinhos
Não suspeitam que velhos caminhos
Não abrem senão portas novas
Não são necessárias mais provas
Há que o preconceito despir
Todo o homem vivo permitir
Que ocupe cá o seu lugar
Sua estrada vá desbravar
Que julga de antemão
É coisa das mais gravosas
Arrogantes e perigosas
Pois ter preconcebidas
Ideias mal reunidas
Sem corpo e a cuspo coladas
Por dogmas alimentadas
É triste e pouco eloquente
De bons argumentos carente
Estúpido e até com maldade
Usar só do cérebro metade
Tão comum o vão preconceito
Da sociedade um defeito
Repetido sem fundamento
É da violência alimento
Prejudica as minorias
É austero e tem manias
Elitista também sabe ser
Tem-no quem se nega a aprender
Os que são ruins e mesquinhos
Não suspeitam que velhos caminhos
Não abrem senão portas novas
Não são necessárias mais provas
Há que o preconceito despir
Todo o homem vivo permitir
Que ocupe cá o seu lugar
Sua estrada vá desbravar
Provérbio provado rimado - DCLXII
A minha dentada tem dente
Não deixo ninguém indiferente
Quieto ou impassível
Comigo tudo é possível
Até dez eu nunca conto
Ponho meio mundo tonto
Com tendência ao exagero
Paninhos quentes não quero
Espontânea e muito sincera
Por vezes pareço uma fera
Sou bruta e pouco trafulha
Digo toma lá e embrulha
Não deixo ninguém indiferente
Quieto ou impassível
Comigo tudo é possível
Até dez eu nunca conto
Ponho meio mundo tonto
Com tendência ao exagero
Paninhos quentes não quero
Espontânea e muito sincera
Por vezes pareço uma fera
Sou bruta e pouco trafulha
Digo toma lá e embrulha
Provérbio provado rimado - DCLXI
Por cima da palavra um tecido
Que seja alvo puro imaculado
Que a proteja dos olhos um bocado
Até ser um tempo esquecido
Ao lado da palavra à direita
Um braço bem forte e à esquerda
Outro igual que represente a perda
Dos vocábulos com que ela é feita
No fundo da palavra um baú
Uma paz perdida uma zanga
Uma carta guardada na manga
Um cheiro antigo um verso cru
Que seja alvo puro imaculado
Que a proteja dos olhos um bocado
Até ser um tempo esquecido
Ao lado da palavra à direita
Um braço bem forte e à esquerda
Outro igual que represente a perda
Dos vocábulos com que ela é feita
No fundo da palavra um baú
Uma paz perdida uma zanga
Uma carta guardada na manga
Um cheiro antigo um verso cru
segunda-feira, 9 de setembro de 2019
Provérbio provado rimado - DCLX
De mês sem érre é petisco
É dos pobres o marisco
Para comer com a bejeca
Que a garganta já está seca
Diz que sofrem um pouquinho
Quando vão para o tachinho
Pois são cozinhados vivos
E debatem-se esquivos
Por isso há quem desdenhe
E contra isso se empenhe
Além disso acham nojento
Que tal sirva de alimento
Por mim sou toda a favor
Já que adoro o sabor
Não penso que é crueldade
Há que haver honestidade
Em criança eu cantava
Enquanto os bichos apanhava
Ai caracol caracol
Põe os pauzinhos ao sol
É dos pobres o marisco
Para comer com a bejeca
Que a garganta já está seca
Diz que sofrem um pouquinho
Quando vão para o tachinho
Pois são cozinhados vivos
E debatem-se esquivos
Por isso há quem desdenhe
E contra isso se empenhe
Além disso acham nojento
Que tal sirva de alimento
Por mim sou toda a favor
Já que adoro o sabor
Não penso que é crueldade
Há que haver honestidade
Em criança eu cantava
Enquanto os bichos apanhava
Ai caracol caracol
Põe os pauzinhos ao sol
Provérbio provado rimado - DCLIX
Dias úteis é o que lhes chamam
Não percebo qual a utilidade
De estar com os que não me gramam
Privada de ar e liberdade
Dias úteis sem opinião
Num cabide pendurada
Repetindo até à exaustão
Gestos que valem pouco ou nada
Dias úteis como um animal
Às vezes lento como um cágado
À espera de um dia informal
Enfim nunca mais é sábado
Não percebo qual a utilidade
De estar com os que não me gramam
Privada de ar e liberdade
Dias úteis sem opinião
Num cabide pendurada
Repetindo até à exaustão
Gestos que valem pouco ou nada
Dias úteis como um animal
Às vezes lento como um cágado
À espera de um dia informal
Enfim nunca mais é sábado
Provérbio provado rimado - DCLVIII
Dele se conta uma história
Que faz na Bíblia memória
Seu amigo Cristo entregou
Depois envergonhado o beijou
De quem falamos sabeis?
É de apóstolos não de reis
Consultai os Evangelhos
E vereis Judas de joelhos
A seguir talvez tenha fugido
Lacrimoso e arrependido
Empreendeu dura viagem
Foi para longínqua paragem
Lá onde ele as botas perdeu
Chega a ser mais longe que o céu
Pelo visto o cu também ficou
Tão distante não mais se encontrou
(Ilustração: Junkhead)
Que faz na Bíblia memória
Seu amigo Cristo entregou
Depois envergonhado o beijou
De quem falamos sabeis?
É de apóstolos não de reis
Consultai os Evangelhos
E vereis Judas de joelhos
A seguir talvez tenha fugido
Lacrimoso e arrependido
Empreendeu dura viagem
Foi para longínqua paragem
Lá onde ele as botas perdeu
Chega a ser mais longe que o céu
Pelo visto o cu também ficou
Tão distante não mais se encontrou
(Ilustração: Junkhead)
Provérbio provado rimado - DCLVII
Para o dia bem começar
O Joaquim vai à taberna
Direito quando vai a entrar
A sair já troca a perna
Vai o mata bicho tomar
Que não é coisa moderna
Fica com a fala a arrastar
Até troca a língua materna
O Joaquim vai à taberna
Direito quando vai a entrar
A sair já troca a perna
Vai o mata bicho tomar
Que não é coisa moderna
Fica com a fala a arrastar
Até troca a língua materna
domingo, 8 de setembro de 2019
Provérbio provado rimado - DCLVI
Quem nasceu para sardinha
Nunca chega a tubarão
Fica no cardume à pinha
Não avança para a acção
Quem nasceu para lagartixa
Nunca chega a jacaré
Dá por perdida uma rixa
Entra sempre pé ante pé
Nunca chega a tubarão
Fica no cardume à pinha
Não avança para a acção
Quem nasceu para lagartixa
Nunca chega a jacaré
Dá por perdida uma rixa
Entra sempre pé ante pé
Provérbio provado rimado - DCLV
Há uma estátua na Madeira
De um jogador afamado
Não está lá por brincadeira
Pois ele é bem medalhado
Mas parece que o artista
Que trabalhou o tal busto
Deixou uma vaga pista
Só se reconhece a custo
Quem a tal estátua encara
Não reconhece a olho nu
Já que nela o desenho da cara
É do outro a imagem do cu
De um jogador afamado
Não está lá por brincadeira
Pois ele é bem medalhado
Mas parece que o artista
Que trabalhou o tal busto
Deixou uma vaga pista
Só se reconhece a custo
Quem a tal estátua encara
Não reconhece a olho nu
Já que nela o desenho da cara
É do outro a imagem do cu
Provérbio provado rimado - DCLIV
Tu pertences à tribo dos fúteis
Que prestigiam as aparências
Envergam ambições inúteis
A disfarçar incompetências
Segue o teu rumo ligeiro
Não venhas aqui para o meu lado
Queres sempre chegar em primeiro
Mas eu já estou bem vacinado
Que prestigiam as aparências
Envergam ambições inúteis
A disfarçar incompetências
Segue o teu rumo ligeiro
Não venhas aqui para o meu lado
Queres sempre chegar em primeiro
Mas eu já estou bem vacinado
sábado, 7 de setembro de 2019
Provérbio provado num verso branco - LVIII
Se eu fosse um livro
Já tinha tantas páginas escritas
Coloridas de memórias e vidas
Algumas bafientas carcomidas
Tantas ainda por preencher
Capa dura resistente a tombos
Seria um livro como outros naquela estante
Mas um que as pessoas quereriam folhear
Soprando entre as páginas para as soltar
Da rugosidade que deixam as lágrimas ao secar
Na lombada do livro que era eu
Constaria a informação habitual
O nome que me deram e fiz meu
E um título que levasse à viagem de descoberta
Que se desdobrava por entre capítulos
Título de maiúsculas onde se lia assim:
Vida de andar nas nuvens
Já tinha tantas páginas escritas
Coloridas de memórias e vidas
Algumas bafientas carcomidas
Tantas ainda por preencher
Capa dura resistente a tombos
Seria um livro como outros naquela estante
Mas um que as pessoas quereriam folhear
Soprando entre as páginas para as soltar
Da rugosidade que deixam as lágrimas ao secar
Na lombada do livro que era eu
Constaria a informação habitual
O nome que me deram e fiz meu
E um título que levasse à viagem de descoberta
Que se desdobrava por entre capítulos
Título de maiúsculas onde se lia assim:
Vida de andar nas nuvens
sexta-feira, 6 de setembro de 2019
Provérbio provado rimado - DCLIII
Se de elogios és escravo
Queres que te gabem a bravura
Começa a dar uma no cravo
E dá outra na ferradura
Queres que te gabem a bravura
Começa a dar uma no cravo
E dá outra na ferradura
Provérbio provado rimado - DCLII
Estás no século vinte e um
Não precisas viver escondido
Nos dias de hoje qualquer um
Com o sexo é bem destemido
Se a tua sexualidade
Não seguir o vulgar padrão
Que é pasto da banalidade
E assegura a procriação
Não tenhas medo do medo
Nem faças figura de otário
Cria o teu próprio enredo
Vai lá sai mas é do armário
Se ficares depois baralhado
A pensar nos comos e porquês
Não temas não serás julgado
Entra no armário outra vez
Não precisas viver escondido
Nos dias de hoje qualquer um
Com o sexo é bem destemido
Se a tua sexualidade
Não seguir o vulgar padrão
Que é pasto da banalidade
E assegura a procriação
Não tenhas medo do medo
Nem faças figura de otário
Cria o teu próprio enredo
Vai lá sai mas é do armário
Se ficares depois baralhado
A pensar nos comos e porquês
Não temas não serás julgado
Entra no armário outra vez
Provérbio provado conversado - II
A Georgina vivia no seu mundinho do quero, posso, faço e aconteço. Argumentativa e persuasiva, ilustrava com exemplos cada sua sentença. Tinha sempre uma citação de cor - fosse de um autor de renome, de um personagem televisivo ou até extraída de uma conversa ouvida no café nessa manhã -, vira sempre in loco as ocorrências que procurava comprovar com os dois olhinhos georgianos que a terra haveria de comer.
A Georgina falava que se desunhava, como está bem de ver, e normalmente tinha quem a escutasse, pois não era de ficar em casa a falar com as paredes. Muito activa, a sua condição de desempregada não a deixava esmorecer. Enviava currículos a torto e a direito e frequentava inúmeros cursos inúteis cujos horários se chegavam inclusive a sobrepor. Nas lojas nas repartições e escolas - algumas duvidosas -, Georgina entabulava conversa com toda a gente desde o porteiro ao máximo doutor sem pausas nem vergonha. Todo o santo dia tagarelava e assim se dava por contente.
Até que um dia uma gripe fulminante num Inverno mais aparatoso a venceu. Caiu à cama e não mais piou. Nenhum dos seus ocasionais interlocutores a foi visitar para dar dois dedos de conversa e Georgina foi definhando com uma enorme fraqueza.
- Falar, falar, não enche barriga
A Georgina falava que se desunhava, como está bem de ver, e normalmente tinha quem a escutasse, pois não era de ficar em casa a falar com as paredes. Muito activa, a sua condição de desempregada não a deixava esmorecer. Enviava currículos a torto e a direito e frequentava inúmeros cursos inúteis cujos horários se chegavam inclusive a sobrepor. Nas lojas nas repartições e escolas - algumas duvidosas -, Georgina entabulava conversa com toda a gente desde o porteiro ao máximo doutor sem pausas nem vergonha. Todo o santo dia tagarelava e assim se dava por contente.
Até que um dia uma gripe fulminante num Inverno mais aparatoso a venceu. Caiu à cama e não mais piou. Nenhum dos seus ocasionais interlocutores a foi visitar para dar dois dedos de conversa e Georgina foi definhando com uma enorme fraqueza.
- Falar, falar, não enche barriga
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