Em casa do Diabo mais velho
É que está o centro do aparelho
Coordena as profundas do Inferno
Onde iremos arder no fogo eterno
Comanda as desgraças do Purgatório
Tal qual médico num consultório
E até espreita quem segue para o céu
Mas aí suspeito não hei-de ir eu
quinta-feira, 29 de agosto de 2019
Provérbio provado rimado - DCL
Que corra o ano lá como for
Haja em Agosto e Setembro calor
E este ano fez jus ao ditado
O mês de Julho foi envergonhado
Aí vêm os dias mais curtos de Outono
Que deixam as pessoas com sono
Em breve haverá mais ruas vazias
De noite as temperaturas são frias
A neblina cobre as manhãs num manto
Os pés arrefecem para nosso espanto
Ainda há poucochinho era Verão
O Inverno não tarda que depressão
Há que ir buscar os casacos guardados
Escondidos nos armários fechados
Vamos em lamento mas é preciso
Pois lá fora está um grande grizo
Haja em Agosto e Setembro calor
E este ano fez jus ao ditado
O mês de Julho foi envergonhado
Aí vêm os dias mais curtos de Outono
Que deixam as pessoas com sono
Em breve haverá mais ruas vazias
De noite as temperaturas são frias
A neblina cobre as manhãs num manto
Os pés arrefecem para nosso espanto
Ainda há poucochinho era Verão
O Inverno não tarda que depressão
Há que ir buscar os casacos guardados
Escondidos nos armários fechados
Vamos em lamento mas é preciso
Pois lá fora está um grande grizo
Provérbio provado rimado - DCXLIX
Estás a grasnar e não ouço nada
Entra a cem e sai a duzentos
Das tuas palavras já estou vacinada
Porque conheço de cor teus intentos
No fim das contas queres que te gabe
Isso estou já careca de saber
Não serei a única que o sabe
Mas sou quem escolhes aborrecer
Olha que hoje estou com humor de cão
E não me apetecem conversas toscas
Não venhas cá pedir-me opinião
Que te mando mas é encher de moscas
Entra a cem e sai a duzentos
Das tuas palavras já estou vacinada
Porque conheço de cor teus intentos
No fim das contas queres que te gabe
Isso estou já careca de saber
Não serei a única que o sabe
Mas sou quem escolhes aborrecer
Olha que hoje estou com humor de cão
E não me apetecem conversas toscas
Não venhas cá pedir-me opinião
Que te mando mas é encher de moscas
Provérbio provado rimado - DCXLVIII
Os namorados são sempre lindos
Mas todos os maridos são feios
Não se quebram os votos infindos
Aparecem estranhos receios
Pouco tempo após o casamento
As esposas põem-se a imaginar
A calvície com constrangimento
E a pança que vai engordar
Vão olhando para a aliança
Lembrando o tempo de solteiras
Engolindo em seco a mudança
Com saudade das maluqueiras
Mas lá recuperarando o tino
Prescrutando o horizonte
Sorrindo de longe ao destino
Muita água irá debaixo da ponte
Mas todos os maridos são feios
Não se quebram os votos infindos
Aparecem estranhos receios
Pouco tempo após o casamento
As esposas põem-se a imaginar
A calvície com constrangimento
E a pança que vai engordar
Vão olhando para a aliança
Lembrando o tempo de solteiras
Engolindo em seco a mudança
Com saudade das maluqueiras
Mas lá recuperarando o tino
Prescrutando o horizonte
Sorrindo de longe ao destino
Muita água irá debaixo da ponte
Provérbio provado rimado - DCXLVII
A ave destaca-se pelo canto
E a mulher pelo seu encanto
Versos assim escrevia o Manel
Em guardanapos de café de papel
Acreditava que a sua métrica
Aliada aos sons da fonética
Tornavam as suas rimas especiais
Mesmo completamente originais
Mas o Manel para a gaveta escrevia
Fazia do estrelato uma vida arredia
Achava-se artista incompreendido
Por ser de classismos destituído
Por isso desprezava as elites
Os seus desmandos e seus apetites
E continuava nas rimas naíves
Com um desvelo próprio de ourives
Às vezes o Manel lá rematava
Quando a conversa não lhe interessava
Que quem tem saúde e liberdade
É muito rico e não o sabe
E a mulher pelo seu encanto
Versos assim escrevia o Manel
Em guardanapos de café de papel
Acreditava que a sua métrica
Aliada aos sons da fonética
Tornavam as suas rimas especiais
Mesmo completamente originais
Mas o Manel para a gaveta escrevia
Fazia do estrelato uma vida arredia
Achava-se artista incompreendido
Por ser de classismos destituído
Por isso desprezava as elites
Os seus desmandos e seus apetites
E continuava nas rimas naíves
Com um desvelo próprio de ourives
Às vezes o Manel lá rematava
Quando a conversa não lhe interessava
Que quem tem saúde e liberdade
É muito rico e não o sabe
Provérbio provado rimado - DCXLVI
É como em mortos bater
Insistir no que já findou
Coisa que se esborrachou
Fogo que já não sabe arder
Nunca um perde no final
Sem que vá o outro ganhar
Mesmo se separando um par
Quando se pensava especial
Insistir no que já findou
Coisa que se esborrachou
Fogo que já não sabe arder
Nunca um perde no final
Sem que vá o outro ganhar
Mesmo se separando um par
Quando se pensava especial
Provérbio provado rimado - DCXLV
A arma do invejoso é a intriga
É gente que se finge de amiga
Que passa entre os pingos da chuva
E que dá bofetada com luva
Se a luva é branca isso não interessa
Que o invejoso é uma bela peça
Nunca vibra com os sucessos alheios
Sentir-se inferior são os seus receios
Até expele fumo quando o invejado
Passa pelos dias bem preparado
E quer a sua cabeça numa bandeja
Porque está todo roidinho de inveja
É gente que se finge de amiga
Que passa entre os pingos da chuva
E que dá bofetada com luva
Se a luva é branca isso não interessa
Que o invejoso é uma bela peça
Nunca vibra com os sucessos alheios
Sentir-se inferior são os seus receios
Até expele fumo quando o invejado
Passa pelos dias bem preparado
E quer a sua cabeça numa bandeja
Porque está todo roidinho de inveja
quarta-feira, 28 de agosto de 2019
Provérbio provado rimado - DCXLIV
Não ponhas no fogo a mão
Sem luvas e cegamente
Verás que além de quente
Mudarás de opinião
Tal nível de confiança
Tão gratuito e elevado
Vê-se que é exagerado
Tiveste muita esperança
Porque a gente desilude
Trai-nos até o pensamento
Resta-te o arrependimento
De precipitada atitude
Sem luvas e cegamente
Verás que além de quente
Mudarás de opinião
Tal nível de confiança
Tão gratuito e elevado
Vê-se que é exagerado
Tiveste muita esperança
Porque a gente desilude
Trai-nos até o pensamento
Resta-te o arrependimento
De precipitada atitude
Provérbio provado num verso branco - LVII
Há sempre dois lados para cada história
Na mesma conversa o que remete a sentença
E o destinatário que a recolhe
Nos seus ouvidos mais ou menos atentos
Há também dois sentires para o mesmo cenário
Tome-se por exemplo um destes fins de tarde que se têm posto
Cada um recebe a nostalgia da hora
Conforme os olhos que lhe deita
Na mesma conversa o que remete a sentença
E o destinatário que a recolhe
Nos seus ouvidos mais ou menos atentos
Há também dois sentires para o mesmo cenário
Tome-se por exemplo um destes fins de tarde que se têm posto
Cada um recebe a nostalgia da hora
Conforme os olhos que lhe deita
Provérbio provado rimado - DCXLIII
Na bicicleta é muito engraçado
O animal que puxa ir sentado
As costas direitas a dar aos pedais
Assim vai ele até longe demais
Vai as várias mudanças intercalando
Conforme o terreno em que vai pedalando
Gosta de uma trupe jeitosa juntar
Para ser mais agradável o passear
O grupo da bicla segue juntinho
Para não se perder no caminho
Vai conversando e é barulhento
Mas a pedalar não perde o alento
O uso do dopping é sempre suspeito
Eles levam sempre muito ar no peito
Todos animados nos seus fatos completos
São um bocado passados dos carretos
O animal que puxa ir sentado
As costas direitas a dar aos pedais
Assim vai ele até longe demais
Vai as várias mudanças intercalando
Conforme o terreno em que vai pedalando
Gosta de uma trupe jeitosa juntar
Para ser mais agradável o passear
O grupo da bicla segue juntinho
Para não se perder no caminho
Vai conversando e é barulhento
Mas a pedalar não perde o alento
O uso do dopping é sempre suspeito
Eles levam sempre muito ar no peito
Todos animados nos seus fatos completos
São um bocado passados dos carretos
Provérbio provado rimado - DCXLII
A praia é sinónimo de liberdade
De vida ao ar livre e de à vontade
É tão bom estar com os pés na areia
Desde que não toquem em toalha alheia
É agradável no mar mergulhar
Molhar a cabeça faz arrepiar
Depois ir para a toalha secar ao sol
Acompanhar os raios como um girassol
Calção na mochila e chinelo no pé
Um top de alças e mais um boné
É a indumentária suficiente
Para encher a praia de gente
O monokini é essencial
Para quem aprecia o fio dental
Mas nem todas podem fazer topless
Algumas há a quem não favorece
Cuidado com as peles que são mais branquinhas
Têm tendência a ficar tostadinhas
Se não se quiser que o dia dê raia
Convém levar o creme para a praia
De vida ao ar livre e de à vontade
É tão bom estar com os pés na areia
Desde que não toquem em toalha alheia
É agradável no mar mergulhar
Molhar a cabeça faz arrepiar
Depois ir para a toalha secar ao sol
Acompanhar os raios como um girassol
Calção na mochila e chinelo no pé
Um top de alças e mais um boné
É a indumentária suficiente
Para encher a praia de gente
O monokini é essencial
Para quem aprecia o fio dental
Mas nem todas podem fazer topless
Algumas há a quem não favorece
Cuidado com as peles que são mais branquinhas
Têm tendência a ficar tostadinhas
Se não se quiser que o dia dê raia
Convém levar o creme para a praia
Provérbio provado rimado - DCXLI
Nevoeiro no Inverno ou no Verão
Não vai exibir o Dom Sebastião
Era apelidado de O Desejado
Havia de trazer Portugal almejado
Deixemos ficar o rei a dormir
Lá para os lados de Alcácer-Quibir
Larguemos os mortos no sono profundo
Pois terminou o seu papel no mundo
Um dia Portugal foi nação importante
Mas já não o é e isso é flagrante
Não reacendamos antigos ensejos
Sonhos de reconquista impossíveis desejos
Quisemos tomar tudo de uma vez
A História nos pode explicar os porquês
Houve tanto ouro sangue e intriga
Tivemos mais olhos que barriga
Não vale a pena engordar saudosismos
Que são pasto fértil para nacionalismos
Mas ter orgulho não faz mal a ninguém
Estimar este lar a nossa Terra Mãe
(Ilustração: Rui Louraço
www.instagram.com/condecascais)
Não vai exibir o Dom Sebastião
Era apelidado de O Desejado
Havia de trazer Portugal almejado
Deixemos ficar o rei a dormir
Lá para os lados de Alcácer-Quibir
Larguemos os mortos no sono profundo
Pois terminou o seu papel no mundo
Um dia Portugal foi nação importante
Mas já não o é e isso é flagrante
Não reacendamos antigos ensejos
Sonhos de reconquista impossíveis desejos
Quisemos tomar tudo de uma vez
A História nos pode explicar os porquês
Houve tanto ouro sangue e intriga
Tivemos mais olhos que barriga
Não vale a pena engordar saudosismos
Que são pasto fértil para nacionalismos
Mas ter orgulho não faz mal a ninguém
Estimar este lar a nossa Terra Mãe
(Ilustração: Rui Louraço
www.instagram.com/condecascais)
Provérbio provado rimado - DCXL
Dinheiro falso de petróleo
É negócio de Monopólio
Comprar bairros e hotéis erguer
Não parar de enriquecer
É um jogo de puro engano
Que vira mana contra mano
Nas crianças cria ilusões
De serem adultos patrões
Ali à volta do tabuleiro
Se vê a relação com o dinheiro
Uns estão desejosos de guardar
Outros há que só querem gastar
Acabam por abrir falência
A brincar mas com decadência
O avarento parece tacanho
Mas no poupar é que está o ganho
É negócio de Monopólio
Comprar bairros e hotéis erguer
Não parar de enriquecer
É um jogo de puro engano
Que vira mana contra mano
Nas crianças cria ilusões
De serem adultos patrões
Ali à volta do tabuleiro
Se vê a relação com o dinheiro
Uns estão desejosos de guardar
Outros há que só querem gastar
Acabam por abrir falência
A brincar mas com decadência
O avarento parece tacanho
Mas no poupar é que está o ganho
Provérbio provado rimado - DCXXXIX
A navegação para ser boa
Não pode ir de vento em proa
Se o barco vai de vento em popa
Significa que a sorte lhe topa
Que corre de feição a maré
Nada vai de marcha a ré
São certinhas as coordenadas
Directas às verdades sonhadas
Não pode ir de vento em proa
Se o barco vai de vento em popa
Significa que a sorte lhe topa
Que corre de feição a maré
Nada vai de marcha a ré
São certinhas as coordenadas
Directas às verdades sonhadas
Provérbio provado rimado - DCXXXVIII
Já ninguém usa as Páginas Amarelas
Só para embrulhar castanhas com elas
Nem ninguém põe um vinil a girar
Que não seja um DJ num live set num bar
Há tantas coisas que estão demodé
Mas paciência o futuro é o que é
Digo futuro e não digo presente
Porque é tão veloz o tempo da gente
Passa tão a correr que nos atropela
Nos faz duvidar que a vida é bela
Não temos noção do torpor do instante
O tempo fugaz nos turva o semblante
Nestas filosofias às vezes pensamos
Quando de cabeça baixa andamos
Levantá-la é o que há a fazer
E deixarmos de mágoas viver
Olhar com coragem cada nova meta
Relembrar o que disse o poeta
Que no final tudo vale a pena
Quando a alma não é pequena
Só para embrulhar castanhas com elas
Nem ninguém põe um vinil a girar
Que não seja um DJ num live set num bar
Há tantas coisas que estão demodé
Mas paciência o futuro é o que é
Digo futuro e não digo presente
Porque é tão veloz o tempo da gente
Passa tão a correr que nos atropela
Nos faz duvidar que a vida é bela
Não temos noção do torpor do instante
O tempo fugaz nos turva o semblante
Nestas filosofias às vezes pensamos
Quando de cabeça baixa andamos
Levantá-la é o que há a fazer
E deixarmos de mágoas viver
Olhar com coragem cada nova meta
Relembrar o que disse o poeta
Que no final tudo vale a pena
Quando a alma não é pequena
Provérbio provado rimado - DCXXXVII
Eu cá não sei bem narrar como foi
Parece que um homem marrou num boi
Tal como uma vez foi morder num cão
Em vez de o guiar pela trela com a mão
Acontecem pois estas coisas estranhas
Que até parecem mentiras tamanhas
A mim contaram-me que nada vi
Não foi sequer uma história que li
Como os fenómenos do Entroncamento
Parecem factos sem discernimento
Legumes raros e abóboras gigantes
E mais que uma tromba nos elefantes
Sei que isto aparenta ser tudo inventado
Mas já deu na TV e está registado
Por isso não digam que estou a dar tanga
Que não é caso para termos zanga
(Ilustração: Junkhead)
Parece que um homem marrou num boi
Tal como uma vez foi morder num cão
Em vez de o guiar pela trela com a mão
Acontecem pois estas coisas estranhas
Que até parecem mentiras tamanhas
A mim contaram-me que nada vi
Não foi sequer uma história que li
Como os fenómenos do Entroncamento
Parecem factos sem discernimento
Legumes raros e abóboras gigantes
E mais que uma tromba nos elefantes
Sei que isto aparenta ser tudo inventado
Mas já deu na TV e está registado
Por isso não digam que estou a dar tanga
Que não é caso para termos zanga
(Ilustração: Junkhead)
Provérbio provado rimado - DCXXXVI
Vá façam uma fila
Que a côdea não chega
Há cá tanto tolinho
Que a malta não sossega
Vamos ver com calminha
O que se pode arranjar
O pão dos maluquinhos
Já não vai sobrar
Não há pão para malucos
Porque os pães são poucos
E os malucos são muitos
Esta é terra de loucos
Se houvesse para todos
Um mau sinal seria
Pois que os ajuizados
Eram uma minoria
Que a côdea não chega
Há cá tanto tolinho
Que a malta não sossega
Vamos ver com calminha
O que se pode arranjar
O pão dos maluquinhos
Já não vai sobrar
Não há pão para malucos
Porque os pães são poucos
E os malucos são muitos
Esta é terra de loucos
Se houvesse para todos
Um mau sinal seria
Pois que os ajuizados
Eram uma minoria
Provérbio provado rimado - DCXXXV
Não deve existir maior resignação
Que aturar o que não tem solução
Pois é sabido que o que não tem remédio
Está remediado e finda num tédio
Que se há-de fazer a cada novo dia?
É aguentar sem nenhuma agonia
Quem o consegue sempre com sorriso
É mais sabedor e tem o que é preciso
Não vale a pena andar mal disposto
Como se todos lhe dessem desgosto
Ter permanente fechada a feição
E sem vivacidade a sua expressão
Assim parece que lhe devem todos
E não lhe pagam dinheiro a rodos
Que nunca resolveu atritos antigos
Porque está com cara de poucos amigos
Que aturar o que não tem solução
Pois é sabido que o que não tem remédio
Está remediado e finda num tédio
Que se há-de fazer a cada novo dia?
É aguentar sem nenhuma agonia
Quem o consegue sempre com sorriso
É mais sabedor e tem o que é preciso
Não vale a pena andar mal disposto
Como se todos lhe dessem desgosto
Ter permanente fechada a feição
E sem vivacidade a sua expressão
Assim parece que lhe devem todos
E não lhe pagam dinheiro a rodos
Que nunca resolveu atritos antigos
Porque está com cara de poucos amigos
sexta-feira, 23 de agosto de 2019
Provérbio provado rimado - DCXXXIV
Meu amor sou tão imperfeita
Não sei como gostas de mim
Tantas vezes tão pouco escorreita
Tenho pena de só ser assim
Chegaste-me à vida tarde
Com mimos e pezinhos de lã
Tão afável sem fazer alarde
Quase pareces minha mamã
Mas também quando é preciso
Algumas verdades me dizes
És honesto e pouco conciso
Quero em ti criar raízes
Espero que fiquemos juntinhos
Nos bons e também nos maus dias
Desde agora até sermos velhinhos
Para partilharmos alegrias
Não sei como gostas de mim
Tantas vezes tão pouco escorreita
Tenho pena de só ser assim
Chegaste-me à vida tarde
Com mimos e pezinhos de lã
Tão afável sem fazer alarde
Quase pareces minha mamã
Mas também quando é preciso
Algumas verdades me dizes
És honesto e pouco conciso
Quero em ti criar raízes
Espero que fiquemos juntinhos
Nos bons e também nos maus dias
Desde agora até sermos velhinhos
Para partilharmos alegrias
Provérbio provado rimado - DCXXXIII
Se é cara eu vou por aqui
Se é coroa irei por ali
Que há duas hipóteses na vida
Optar é o ponto de partida
Nunca se sabe de antemão
Qual será a melhor direcção
Só depois do caminho escolhido
É que o enredo é garantido
Se é coroa irei por ali
Que há duas hipóteses na vida
Optar é o ponto de partida
Nunca se sabe de antemão
Qual será a melhor direcção
Só depois do caminho escolhido
É que o enredo é garantido
Provérbio provado rimado - DCXXXIII
Tu tens uma língua de trapos
Quando as tuas sentenças cagas
Um dia fazem-te em farrapos
Prepara-te que até te apagas
Quando as tuas sentenças cagas
Um dia fazem-te em farrapos
Prepara-te que até te apagas
Provérbio provado rimado - DCXXXI
Quiseste passar-me a perna
Em plena Avenida de Berna
Vender-me mosca por abelha
Só porque te deu na telha
Mas eu não fui na cantiga
Apesar de ser tua amiga
Teus actos não irei esquecer
Um dia irás te arrepender
Em plena Avenida de Berna
Vender-me mosca por abelha
Só porque te deu na telha
Mas eu não fui na cantiga
Apesar de ser tua amiga
Teus actos não irei esquecer
Um dia irás te arrepender
Provérbio provado num verso branco - LVI
A dor de corno dá os melhores poemas
A culpa e a angústia também
Os bons poemas não retratam bons momentos
Há sempre uma dor tingida no sangue dos versos
Aquela tendência para a mágoa sem encanto
De um passado amarfanhado pelo remorso
O poeta é complexo porque é pessoa
Pode rir-se quando lhe dizem que se leva demasiado a sério
Não sabe se veste mal o seu verso veloz
Lido e tão só incompreendido
O que permanece do que escreve é só o que não soube dizer
No atacar do poema sempre triste
Os melhores poemas são cuspidos
Os versos são a saliva do poeta
(Ilustração: Junkhead)
A culpa e a angústia também
Os bons poemas não retratam bons momentos
Há sempre uma dor tingida no sangue dos versos
Aquela tendência para a mágoa sem encanto
De um passado amarfanhado pelo remorso
O poeta é complexo porque é pessoa
Pode rir-se quando lhe dizem que se leva demasiado a sério
Não sabe se veste mal o seu verso veloz
Lido e tão só incompreendido
O que permanece do que escreve é só o que não soube dizer
No atacar do poema sempre triste
Os melhores poemas são cuspidos
Os versos são a saliva do poeta
(Ilustração: Junkhead)
Provérbio provado rimado - DCXXX
O Zé não bate bem da mona
Fica toda a noite acordado
Que é para ver se ressona
É um bocado retardado
Arrota alto e bom som
Dá peidos ao pé das pessoas
Não percebe que é de mau tom
Que essas não são coisas boas
Já lhe tentaram explicar
Com bastante indulgência
Mas o Zé não se quer ralar
Haja santa paciência!
Fica toda a noite acordado
Que é para ver se ressona
É um bocado retardado
Arrota alto e bom som
Dá peidos ao pé das pessoas
Não percebe que é de mau tom
Que essas não são coisas boas
Já lhe tentaram explicar
Com bastante indulgência
Mas o Zé não se quer ralar
Haja santa paciência!
Provérbio provado rimado - DCXXIX
Os provérbios dão-te lições
Sobre a vida e as suas questões
Como esta que aqui te vou dar
É de borla não tens de pagar
Não te basta seres bom rapaz
Para te darem o Nobel da paz
Convém que sejas ponderado
Sensato e pouco estouvado
Se em silêncio permaneceres
É melhor do que muito disseres
Tenta falar pouco e bem
E ter-te-ão por alguém
Sobre a vida e as suas questões
Como esta que aqui te vou dar
É de borla não tens de pagar
Não te basta seres bom rapaz
Para te darem o Nobel da paz
Convém que sejas ponderado
Sensato e pouco estouvado
Se em silêncio permaneceres
É melhor do que muito disseres
Tenta falar pouco e bem
E ter-te-ão por alguém
quinta-feira, 22 de agosto de 2019
Provérbio provado rimado - DCXXVIII
Uma faca de dois legumes
Dizia um ex futebolista
Que tinha os maus costumes
De falar como se um protista
Com apenas um cromossoma
Num núcleo vazio a nadar
A maltratar o idioma
E a gramática a pontapear
Felizmente na bola acertava
Mesmo se estava de ressaca
E até uns golitos marcava
Mas era de dois gumes a faca
Não sei se chegou a aprender
Enquanto morfava uma febra
Alguém o tentou esclarecer
Mas quem sai aos seus não é de Genebra
Dizia um ex futebolista
Que tinha os maus costumes
De falar como se um protista
Com apenas um cromossoma
Num núcleo vazio a nadar
A maltratar o idioma
E a gramática a pontapear
Felizmente na bola acertava
Mesmo se estava de ressaca
E até uns golitos marcava
Mas era de dois gumes a faca
Não sei se chegou a aprender
Enquanto morfava uma febra
Alguém o tentou esclarecer
Mas quem sai aos seus não é de Genebra
Provérbio provado rimado - DCXXVII
No mundo há cada evidência
Que não precisa de ciência
Entra pelos olhos dentro
É da questão o centro
É como homem nu despir
Já sei que se estão a rir
Pois não há necessidade
De fazer tal actividade
Então quando botam discurso
E fazem figuras de urso
A explicar coisas cristalinas
Como se difíceis disciplinas
Não quero parecer indelicada
Mas às tantas já não ouço nada
Digo pois e vou acenando
E de lá continuam explanando
Que não precisa de ciência
Entra pelos olhos dentro
É da questão o centro
É como homem nu despir
Já sei que se estão a rir
Pois não há necessidade
De fazer tal actividade
Então quando botam discurso
E fazem figuras de urso
A explicar coisas cristalinas
Como se difíceis disciplinas
Não quero parecer indelicada
Mas às tantas já não ouço nada
Digo pois e vou acenando
E de lá continuam explanando
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