Provérbios Provados noutras casas:

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Provérbio escolar

Tinha dez anos quando entrei para o ciclo preparatório. Cheguei à nova escola pela primeira vez muito assustada; ia sozinha (os meus pais não puderam acompanhar-me pois estavam a trabalhar) e tudo me amedrontava: um sem número de pavilhões, uma turma cheia de caras novas, um ror de disciplinas e um professor diferente para cada uma delas. Em tudo o oposto da minha antiga escola primária, onde a minha sala ficava num anexo pequenino, com colegas amistosos e a acolhedora presença do professor João, sempre cordato, e que me tinha ensinado tantas lições: de Português, Matemática, Meio Físico e Social, História de Portugal e da Vida.
Na nova escola haviam muitos intervalos, sendo um deles dedicado à merenda. A minha mãe nem sempre tinha tempo de me preparar algo para levar e nessas alturas ia ao bar do polivalente (tinha uma carteira nova onde punha as moedas que os pais me iam dando).
Foi então que descobri o quiosque da Dona Maria; chamo-lhe assim pois o seu verdadeiro nome sumiu-se-me da memória. O quiosque ficava do outro lado da estrada em frente à escola. Como não era permitido sair nos intervalos, os pedidos eram gritados muito alto do lado de cá para a Dona Maria, que depois os transportava até à rede, fazendo-os passar por baixo desta, recolhendo o respectivo dinheiro e aproveitando a viagem para trazer o troco de outro aluno.
Recordo-me muito bem das sandes do quiosque (as carcaças eram sempre fresquinhas e muito saborosas), e com particular saudade das sandes de rissol: coisa nunca vista e que se tornou então para mim um pitéu muito apreciado que ainda hoje gosto, principalmente se vier acompanhado por uma folhinha de alface.
As idas e vindas da Dona Maria eram uma comédia, desde os pedidos trocados por causa do barulho dos carros até às suas corridinhas pela estrada fora da passadeira, já que os intervalos eram curtos e nesses poucos minutos se fazia o seu negócio.
Mas de uma coisa a simpática senhora fazia questão no meio daquela confusão: que, quando gritavam os pedidos, os alunos pedissem sempre se faz favor.

- Quem dá o pão dá educação

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