Toda a cadeia alimentar é encimada num topo onde se destaca o sumo predador. Tendo assento vitalício, não existe quem consiga capturar esse rei das caçadas que, dessa forma, dispõe de um vasto menu de presas à disposição.
Na savana lidera o leão e no mar manda o tubarão. Qualquer ecossistema possui as suas hierarquias. Mesmo aqueles habitats onde a mão humana veio corromper a natureza colocando plantas e animais ao serviço do homem. E há tantos exemplos: hortas, pomares, vinhas, estábulos, chiqueiros, galinheiros...
Sim, os galinheiros. Esses lugares mal-cheirosos onde chusmas de fêmeas competem pela atenção de um só macho, o galo. Espécime esse que apresenta no cocoruto uma crista com o formato de uma coroa. Dúvidas houvesse sobre a sua supremacia e seriam logo desfeitas em se topando tal rubro adereço.
Mal raia um vislumbre de aurora, o galo dá os dias santos. Também canta nos dias laicos, com um canto não diferenciador. Afinal, no galinheiro não há dias de festa.
As poedeiras despertam assim em modo de alerta. Deve ser uma canseira disputar a preferência do macho e uma angústia verificar que se é consecutivamente preterida em relação às restantes fêmeas. Que o galo, como o próprio nome indica, gala. Existissem mais horas em cada dia e mais galaria, o libertino.
O quotidiano no galinheiro não se afigura simples para as galinhas de postura, embora possam produzir ovos independentemente da figura masculina da espécie. No entanto, a presença do macho é indispensável para aumentar o número de aves e apenas os ovos fecundados, denominados galados, geram pintainhos.
É nesse preciso momento que a galinha eleita recolhe ao ninho onde irá chocar os ovos. As outras, ciumentas, percebem imediatamente o que se encontra fazendo, pois a galinha no choco permanece longos períodos no ninho emitindo um cocorocó constante e, quando se desloca, traz as penas e as asas semi-abertas, movendo-se mais devagar. Habitualmente não se arreda de perto do ninho e, se o faz, vira constantemente o pescoço naquela direcção, sempre atenta e a postos para um salto de socorro.
Também nos humanos, grávidas e genitoras se comportam de modo semelhante. Nem toda a galinha será mãe, mas qualquer mãe será galinha.
- A galinha onde tem os ovos tem os olhos