Quando Jorge alcançou finalmente o último degrau, o seu coração pulsava de uma forma estranha. Cada vez lhe era mais penoso subir escadas, até mesmo aqueles três pequenos lances que o separavam do rés-do-chão, ficava sempre com palpitações. Todavia, o médico afirmara-lhe não haver nada de organicamente errado, nenhum tipo de lesão patológica.
- O seu coração, Sr. Jorge, é exactamente igual a um coração normal, apenas um pouco mais desenvolvido talvez, por causa da vida extenuante que o senhor tem levado.
Assim que ouviu o doutor, o Jorge não ficou mais tranquilizado. Vida extenuante?; não sentia que se cansava demasiado no trabalho ou nos seus outros desempenhos quotidianos. Teria o médico a ideia de que todos os humanos se atapetavam de tarefas até não mais poder e se esfalfavam irremediavelmente até ao enfarte?
Não obstante, encaixou o puxão de orelhas do circunspecto doutor, anuiu nas futuras dieta sem sal e cessação tabágica e saiu do consultório com uma chusma de exames prescritos debaixo do braço que efectuaria sem pressa.
Do balcão, a menina da secretaria chamou-o:
- São 50€, aqui tem o seu recibo. Deseja marcar uma nova consulta, Sr. Jorge Mendes?
Que não, respondeu Jorge, pensando para os seus botões: por mais cinquenta euros, ele inventa-me mas é uma nova doença! E saiu porta fora, acendendo um cigarro.
- Contas com Jorge e Jorge na rua
quarta-feira, 2 de setembro de 2020
Provérbio provado no consultório - II
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