Provérbios Provados noutras casas:

sábado, 19 de setembro de 2020

Provérbio familiar - IV

Foi a grande responsável por esta minha paixão por provérbios e expressões idiomáticas. Não foi a única, pois todo o clã parental, tanto o ramo materno como o paterno, usa e abusa de ditos e ditotes, convocando por sua vez memórias da infância mais profunda: é assim que se vai construíndo o património linguístico de uma família, neste caso a minha. 
Mas, dizia, a principal causadora desta minha tendência para gostar de ditados populares foi a minha saudosa avó materna Maria do Carmo. A avó tinha o cabelo curto alvo e era magra com as pernas muito fininhas - uns canivetes, como ela costumava dizer. Não era particularmente terna fora do círculo familiar, pois a sua candura estava toda virada para os seus que defendia com unhas e dentes. Eu era a sua temperamental neta mais nova, mas nunca deixei de ser a Guidinha a quem devotava um amor incondicional. 
A avó teria hoje 102 anos, se ainda vivesse, e continuaria decerto a usar as famosas expressões que só da sua boca escutei. Eram tantas e tão diversas que se torna impossível estar a enumerá-las... 
Como determinado anexim que nunca ouvi a mais ninguém, às vezes ela dizia: Ó filha, faz-te de novas!, locução que me convidava a fazer-me de desentendida ou de parva; frase essa que era acompanhada de um trejeito muito singular e um dedo à frente da boca imitando silêncio. Amiúde dou por mim pensando, face a determinadas situações na minha vida: Guidinha, faz-te de novas! 
Outra expressão de que a avó gostava imenso, e que repetia bastamente a seguir a uma verdade para si evidente, abrindo muito os dois olhinhos que a idade tratara de encolher, era esta:

- É tão verdade como dois e dois serem quatro 

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