O Miguel era muito feliz no casamento, mas às vezes tinha uma grande necessidade de se evadir umas horas do sossego do Lar doce lar quando a mãe da sua Sara lhes invadia os aposentos com o malfadado hábito do chazinho que amiúde se prolongava até ao jantar.
A Dona Ludovina chegava nas suas vestes negras da recente viuvez, com o passo estugado e olhos de falcão, prescrutadores de qualquer eventual desarmonia entre o casal. Que não existia; não existia até à sua chegada: era precisamente o seu assomar à soleira que deixava o Miguel desconfortável e desejoso de se pôr a andar dali para fora e só regressar quando a Dona Ludovina arrumava o pano da louça e se dispunha a regressar à sua casa dois quarteirões acima para ver a novela da noite.
Claro que a essa hora a Sara já estava de ouvidos cheios:
- Que necessidade tens tu, Miguel, de ir para a taberna gastar dinheiro em cerveja, quando podias ficar a tomar chá e a conversar comigo e com a minha mãe?
O Miguel suspirava e recordava o que havia confidenciado, melindrado, ainda há pouquinho a um Joaquim atrás do balcão, que lhe servia a imperial afogueado:
- Feliz foi Adão que não teve sogra
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