Provérbios Provados noutras casas:

terça-feira, 27 de junho de 2023

Provérbio provado rimado - MLXXI

Cada vez que te telefono

Ainda mais me decepciono

Não me escutas com atenção

Só interessa a tua situação


E se até percebes por acaso

O meu tempo de antena a prazo 

Como estou então tentas saber

Para me tentares entender


Mas eu já te conheço no fundo

Só é importante o teu mundo

Finges ter reciprocidade

Por fazer parte da amizade


Em teoria queres ajudar

Mas escusas de te maçar

Cala os teus conselhos amiga

Que palavras não enchem barriga



Provérbio provado rimado - MLXX

Abrir-se a caixa de Pandora

Foi de todos os males origem

Curiosa e enganadora

Resultado talvez de vertigem


Num só impulso destapou

Doenças guerra e mentira

Apenas a esperança guardou

Com promessa eterna existira


Como os mitos este também

De compreensão difícil se acha

A culpada é Pandora porém

Por ter mexido na caixa



Provérbio provado rimado - MLXIX

O Pessoa é o meu modelo

E por certo também o Aleixo

Das minhas rimas a martelo

Que revelam algum desleixo


Almejo a simplicidade

Um verso que seja ritmado

Que se leia com facilidade

E não se torne complicado


Que lhe encontre cada um

Qualquer coisa que faça sentido

Ou encontre objectivo nenhum

E prepare um desmentido


Se a martelo saem poemas

À força e sem dever ser

Sobretudo é por falta de temas

E por vos querer entreter



sábado, 24 de junho de 2023

Provérbio provado rimado - MLXVIII

O Alex é um argentino
Que parece ser bom menino
Mas não lhe conheço as manias 
Que me podem dar alergias 

Todavia estou optimista
Em relação a este artista
Na guitarra é talentoso
E mostra ser atencioso 

Ele preza a simplicidade 
Que incorpora na realidade
Afasta o que é complicado
Para isso lhe basta o passado

Porém só quando conhecer
O que tem para me oferecer
Me poderei pronunciar
Se ele então me agradar 

Só que existe outra variável
Que eu lhe seja também agradável
Para tal não posso esconder
Características do meu ser

Entrego assim ao acaso
Com mais ou menos atraso
Com paciência e sem pressa
A precipitação não interessa 

Eu não sou desconfiada
Porque já não espero nada
O que meu tiver de ser
À minha mão há-de vir ter 


Provérbio provado rimado - MLXVII

Vê bem que ter tudo não podes

Quando ao prejuízo acodes

Haverá sempre consequências

Por causa das interferências


Só nos romances há justiça

No demais é coisa postiça

Para pôr na fotografia

Com lata e muita ousadia


Dos rios até às fronteiras

Louvam-se as boas maneiras

Mas contudo é um mundo avaro

Onde todo o elogio é raro


É para que nunca te estiques

E que convencido não fiques

Os limites estão à tua volta

Rodeiam-te como uma escolta


Necessário é que dês valor

A tudo o que é indolor

Mas valoriza realmente

O que obtiveste à tangente 


Quando falha a expectativa

Fica-te pela alternativa

Já que neste mundo mesquinho

Se há para pão não há para vinho



sexta-feira, 23 de junho de 2023

Provérbio provado rimado - MLXVI

Quando algo é do caneco

Se diz também do caraças

Que não se esconda num beco

Que se difunda pelas praças


Ainda uma grande malha

Se usa bastante dizer

Quando coisa boa nos calha

Sem que estejamos a prever


Este tipo de interjeição

Profere-se com emoção

Um sinal de entusiasmo

Para lutar contra o marasmo



Provérbio provado rimado - MLXV

Aguenta-te ao batente

Com o teu melhor ar contente

Aguenta-te assim com esta

Mesmo que vejas que não presta 


Se forçoso ao pé coxinho

Aguenta a bronca de mansinho

Aguenta também a bomboca 

Sem carregar pela boca


Aguenta-te nas canetas

Ganhar sempre não prometas

Aguenta ai os cavalos

Sem que pises outros calos


Aguenta o barco no mar

Para que possa navegar

Aguenta firme a barra

Com coragem e com garra


Aproveito e dou-te um aviso

Suportar imenso é preciso

Tanto há a considerar

No que terás de aguentar



Provérbio provado rimado - MLXIV

Há coisas inusitadas

Que surgem desenquadradas

Quando menos estou à espera

É quando o acaso supera


Por isso já nada me admira

Face ao que antes assumira

Até posso ver sem pasmar

Um elefante a pedalar


Nem o sobrolho levanto

Vestindo um ar de espanto

E aqui te deixo um conselho

Que vale até seres mais velho


Nunca estarás preparado

Para o que te deixa pasmado

Do que vires e do que não vires

Já sabes não te admires



Provérbio provado dissimulado

O trabalho novo não lhe estava a correr nada bem. Tinha a sensação de que se queriam ver livres dele rapidamente. Seria apenas mera impressão ou haveria mesmo uma conspiração embrionária contra a sua pessoa que se estava a revelar non grata?

No anterior emprego a sua opinião era considerada, os seus conhecimentos tinham valor e as suas propostas eram levadas em conta. Mas aqui neste local sentia-se correr continuamente atrás do prejuízo: dava por si a ter de repetir muitas tarefas e a corrigir procedimentos anteriores e apercebia-se incapaz e até incompetente.

Por isso, começou a levantar cada vez menos dúvidas para que não o tomassem por estupido. Operava cegamente e sem certezas. Os seus erros acabavam todos por ser detectados: se não era pelo chefe, era pelos que ambicionavam lá chegar. Quando o chamavam à atenção, corava como um tomate maduro e metia os pés pelas mãos. Titubeava desculpas, ficcionava dificuldades no cumprimento dos processos.

O pior é que nesta era moderna, em que os computadores são um Grande Irmão de olho vigilante, tudo o que fazia maquinalmente ficava registado pelas máquinas. E assim, com a boca na botija, apanhado a inventar, ainda se enterrava mais.


- Nada é mais fácil do que mentir e mais difícil do que mentir bem 

Provérbio provado rimado - MLXIII

Quando tudo só se repete

E a sequência não promete

É assim que a rotina se instala

A sua lei é a da bala


Porque há que fazer cumprir

O que nos querem atribuir

Mas não somos máquinas brutas

Também temos ideias astutas


A contínua repetição

Dá cabo da inspiração

Convém ir variando

Outras coisas intercalando


Apostar em mais diversidade

Que à vida traz qualidade

Despertar em si mesmo a surpresa

Isso vale mais que a riqueza 


É forma de crescer aliás

De diversificar ser capaz

Nem comer sempre galinha

Nem sempre engraxar a rainha



Provérbio provado rimado - MLXII

Deitar pedras preciosas 

Em qualquer pocilga habitada

Por alminhas invejosas

É tarefa malograda


Discursar em línguas mortas

É perda de tempo tamanha

Fecham+se na mesma as portas

De quem não cai na patramha


Estar sempre a ajuizar

Os comportamentos alheios

Pode acordar um pesar

E sentimentos tão feios


Cerrar os lábios de vez

Evitando assim o sarcasmo

Que sopa de mel não se fez

Para a boca de todo o asno 



Provérbio provado rimado - MLXI

Aprecio aquelas pessoas

Que têm cara de quem vive

Cheias de intenções boas

E bom coração inclusive


As que tendo a achar atraentes

Podem ser menos bonitas

E têm posturas diferentes

Sejam ou não eruditas


Têm uma forma de estar

Assim um certo charme lento

Que eu não soi bem explicar

Mas que me provoca contento


Já se sabe que a beleza

Nos olhos de quem a vê está

Depende também com certeza

Da importância que se lhe dá


Por isso despertar a atração

E haver quem disso se gaba

Faz lembrar aquela afirmação

A beleza depressa se acaba



quinta-feira, 22 de junho de 2023

Provérbio provado num verso branco - CXII

É no meio do pecado que se encontra a virtude
Quanto mais daquele mais desta
Que as coisas vivas tendem sempre para o caos
Mas por tropeçarem no último degrau
Impedem que venha a morte durante o sonho

Nem só o desacerto do mar tão diverso
Nem apenas o chão seguro logo confiável
Aquele que desperta para a versatilidade das marés
Encontra água no deserto e pérolas dentro das conchas 
Pode engolir sem mastigar sem receio de amargor
Embora tamanha confiança lhe faça evitar os extremos 

Existe uma receita não escrita e porventura saborosa
Que petmite que se incorporem ingredientes menos populares
Reino terreno dos céus para hedonistas e laxistas
Preguiçosos procrastinadores e fauna quejanda
O melhor tempero continua a ser uma pitada de equilíbrio
Nem tanto puxar que arrebente a corda
Nem tão bom que o papem as moscas 



Provérbio provado santificado -II

Mal se entrava pela porta principal, surgiam as inúmeras fileiras de bancos corridos que ladeavam a nave. Mas mal se reparava neste pormenor, já que era a talha dourada do altar que verdadeiramente impressionava no seu reluzir. E, fosse um verdadeiro dia de sol, nem se dava pela bruma repentina da entrada, parecendo o altar brilhar tanto como o esplêndido astro lá de fora. Tinham valido bem a pena todos os peditórios e quermesses!
O padre, nas suas homilias monocórdicas, apelava às dádivas dos paroquianos. A Igreja dava assim com coerência o exemplo: quem quer ensinar a dar esmola, tem de aprender primeiro a esmolar.
Apetaltadp então e altar, havia que vestir de forma apropriada o padroeiro para a procissão que se avizinhava. Infelizmente, zurzia o pároco, não seria possível emgalanar todos os santos candidatos ao desfile no andor. Assim, neste ano, o Santo Expedito não sairia na procissão para conceder maior destaque a São João Batista, mais popular na povoação.
Quem não se sente não é filho de boa gente. Santo Expedito, o santo das causas urgentes, sentindo-se preterido, amuou e absteve-se de orações e de exercer a sua influência na maior ou menor rapidez dos pedidos dos crentes.
Por sua vez, o alfaiate emcarregue dos paramentos de São João Batista, agastado por a Igreja lhe retardar mais ainda o pagamento do que a Câmara Municipal, não terminou de costurar o fato do santo que era a estrela da companhia.
Chegado o dia da procissão, o que valeu ao andor foi o animal que habitualmente se alapava no colo do padroeiro ser um ovino vivo, o que distraiu as gentes da falta de tecido. Foi assim que não se inaugurou a expressão "São João vai nu", graças a Deus!


- Não se deve despir um santo para vestir outro 

quarta-feira, 21 de junho de 2023

Provérbio provado rimado - MLX

Um objecto sem importância

Nem sequer é tigela inteira

Arrasa toda a ganância

De lhe dar valor à primeira


Também a ideia vulgar

Que tem o seu quê de singela

Ninguém a vai valorizar

Dirão que é de meia tigela


Tudo a que falta arrojo

E é pouco original

Até é capaz de dar nojo

Ter o rótulo de banal


A balança das prioridades

Tal como são entendidas

Tem particularidades

E dois pesos e duas medidas


Pois todos tomam partido

De acordo com o seu umbigo

Mesmo que não faça sentido

E até prejudique um amigo



Provérbio provado rimado - MLIX

Este ditado popular
Aplica-se precisamente
Quando é de desconfiar
Como vive alguma gente 

As dúvidas vão surgindo 
Sobre certas vidas faustosas
As riquezas vão exibindo 
Almejando ser poderosas 

Mas além dos seus rendimentos
Estão constantemente a expender
Passam o tempo em eventos
Não se pode compreender

Que haja certos cidadãos 
Que não tendo onde cair mortos
Queiram dar a sensação 
De ter imensos confortos 

Gabando-se de riquezas 
De que o povo desconfia
Dá azo a incertezas 
Da sua genealogia 

Pois quem cabritos vende
E afinal cabras não tem
Enganar os tolos prertende 
Que de algum lado lhe vem 

Terá às cabras roubado
Será que alguém lhas deu?
O caso está mal explicado 
No fim ninguém percebeu 



Provérbio provado num verso branco - CXI

Viver é como meter uma lança em África


Os velhos têm a memória para lá da fita métrica
Em que se contam os tracinhos como anos bem medidos
De acontecimentos de escolhas de erros
De um viver que se foi tentando repetir

Os velhos são orgulhosos por terem conseguido
Empreender tarefa tão árdua e espinhosa
Que fez tropeçar na incerteza a cada atacador 
Enfrentar constantes inimigos desconhecidos 
E também os conhecidos de dentro da pele

Não vale a pena brincar aos labirintos com os velhos
Eles têm bem a consciência do fim da expedição 
A necessidade de afirmação cessou de gritar
O princípio parece-lhes agora uma ironia:
Quando mais tiveram de se exibir destemidos
Valorosos indivíduos esbanjando coragem
Foi precisamente quando menos sabiam

Assim a juventude se revestiu de hipocrisia
E a velhice deixa um travo de mau hálito
Fatigados vão abandonando a bagagem
Já nem as dificuldades são troféus
A vida foi difícil e foi difícil aprender a viver 



Provérbio provado rimado - MLVIII

A paciência na espera
Molda a nossa existência 
As vezes tanto exaspera
Se nos falta a paciência 

Não há senão que aguentar
Em esforço e a sorrir 
Decerto é bom esperar
Mas também o é conseguir 

Esperando que não desaponte
O que em cada um extravasa 
Tanto vai o cântaro à fonte
Que um dia lá deixa a asa



Provérbio provado rimado - MLVII

O conflito de lateralidade
Revela a minha incapacidade
Por não saber um mapa ler
Mais certo é que me vá perder 

Sou a pior despistada
Ando sempre despassarada 
Nunca comi os caminhos atino
Esse é o meu pobre destino 

Quando algo está combinado
Para ir ter a algum lado 
Por certo dá confusão
A falta de orientação 

Quando um dia me encontrar
É motivo para celebrar 
Por saber qual é o Norte
Sem confiar só na sorte

E se a.mão mais evidente 
Não se revelar competente 
Sei que quando a direita cansa
É logo a esquerda que avança 


Provérbio provado rimado - MLVI

Aprender a estar sozinho
Não é um fácil caminho
Está-se desde criança
Em grupo por segurança

Na família e na escola
O que a alguém mais assola
É poder não ter ouvidos 
Dos seus entes queridos

Depois em certa idade
Encara-se a realidade 
De que qualquer companhia 
Nem sempre o ser preenchia 

Deixa-se de desejar
O rebanho acompanhar 
Mais firmes são as ideias 
Menos conforme as alheias

O silêncio tem mais valor
Já não é confrangedor
Com mais certezas contudo 
Ficar como um peixe mudo