Provérbios Provados noutras casas:

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Provérbio provado ludibriado

Aqui entre nós que ninguém nos ouve, que sabemos falar bem baixinho e somos mestres no sussurro quando é para dizer mal nas costas, esta panelinha tem-nos trazido muitos proveitos, olá se tem! Conseguimos ficar sempre bem vistas porque somos capazes de mentir com cara de santas e aquela expressão ausente que é apanágio da sonsice. E se mentimos bem, senhores, que carreiras no teatro se perderam, um desperdício autêntico!

Mentimos para nos safarmos da repreensão que acaba por ir melindrar noutra direcção. Mentimos também para que se iludam sobre as nossas escassas competências e nos atribuam o mérito de que não somos dignas. Enfim, mentimos com a maior cara de pau que conseguimos arranjar pois já nos habituámos a mentir. É-nos até mais fácil nunca dizer a verdade: a verdade às vezes aleija e traz sempre consequências. De tanto a escamotear, já nem a descobrimos no meio de tantas camadas, preferindo assim o conluio e a peta descarada.

Noutro dia, até a chefe, habitualmente pouco concentrada na linguagem corporal alheia, nos apanhou em falta. Foi um dia de juízo, mas lá nos desembaraçámos de uma maior suspeição. Estamos a ficar relaxadas, é o que é!: de tanto envergar o mesmo fato, já não somos as mesmas pessoas. Damos por nós a desconhecer a própria essência e percebemos que não apenas mentimos aos outros mas, o que é mais grave, a ilusão faz agora parte das personagens que criámos.

Os dentes começaram a cair-nos entretanto um por um. E só quando já não nos restar osso nas gengivas é que havemos de convocar a época em que, ainda na posse de todos os molares, sisos, insisivos e caninos, gostávamos de fazer dos outros parvos.


- Mentir com quantos dentes se tem na boca 

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