Escrever o que não acontece
É a tarefa da poesia
E aos nossos olhos aparece
O que era e apenas fingia
Ter tal nível de abstração
É habitar um plano diferente
É ter os pés longe do chão
É ter sóis e estrelas na mente
É nunca dizer nunca a jurar
Nem fazer dos outros julgamentos
Saber que se pode conformar
Mas prescindir desses momentos
Quem acha que a vida de poeta
Não leva a estrada nenhuma
Desconhece que há uma meta
Que está coberta de caruma
A escrita é então vendaval
Que destapa o que se esconde
Que pode ser residual
Não saber como nem onde
Com um grão está de papo cheio
Já que um verso que começa
É um jogo deixado a meio
Que recuperou uma peça
Dizer que o poeta é louco
Não abona a seu favor
Mas tudo lhe sabe a pouco
Pois cria com todo o fervor
Há quem tenha a sensação
Que o poeta é ave rara
Ter antes dor no coração
Do que ter vergonha na cara
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