Oh,
isso… Já
lá vão mais de dez anos ou mais…
E
antes já tinha deambulado por muitas profissões: fui estafeta,
choffeur de turismo, barmen. Mas nessa altura substituía uma baixa
de parto numa recepção mal iluminada.
Não,
não me esqueço do dia em que primeiro a vi; chegou esbaforida com o
cabelo louro desgrenhado. Tinha
olhos claros grandes e tristes, que contrastavam com a alegria e
rapidez dos gestos. Apresentou-se-me
com um sorriso caloroso, e perguntou pelo “patrão”.
Foi
assim, sem mais perguntas, que me habituei a conduzi-la através dos
corredores que levavam ao escritório do director. Ansiava,
ansioso, numa espera de vê-la, e ela vinha
muitas vezes, às vezes todos os dias; algumas
tiritava de frio, mas fazia alergia às mantas e aos chás quentes,
outras pedia um copo de água, que depois não bebia porque estava
fresca demais. Quanto
mais caprichosa, flutuante e rabugenta
se encontrava, mais eu a amava. Perdidamente, platonicamente.
Não,
nunca me questionei qual o grau de intimidade com o director: por
mim, tanto podiam ser família como amantes. Preferia imaginá-la
livre, completamente livre, e isso ela era: completamente livre,
era-lhe sanguíneo. O momento que vivia era o momento em que vivia.
Tive muitas vezes vontade de
-
Hoje está linda
mas
não era preciso. Eu sabia que ela sabia.
Passado
o tempo estipulado, e depois de algumas visitas com a bebé dormindo
no ovo, a recepcionista voltou ao seu lugar e eu fui dispensado.
Assim.
Não,
não me despedi dela. Não
aguentaria o pesar nos seus olhos claros
grandes e tristes. Não
lhe deixei nada. Eu
sabia que ela sabia.
-
Não há último adeus, senão aquele que se não diz
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