Provérbios Provados noutras casas:

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Provérbio provado adaptado

Adaptado do Ventoinha

É o final de uma tarde muito quente de Agosto. No escritório, Carlos espreita o relógio: falta uma hora para terminar o expediente. Está sozinho. Os patrões nem lá puseram os pés hoje; imagina-os refastelados numa qualquer espreguiçadeira na sombra de um pinhal. Os reposteiros estão corridos mas mesmo assim o calor penetra pelas paredes tornando mais saturada a atmosfera. A campainha do telefone trina, Carlos atende: Escritório de Advogados Bento, Filho & Associados Limitada boa tarde, mas do outro lado desligam de imediato. Serão os patrões a confirmar a sua presença?, e abana a cabeça não acreditando. Agora é a campainha da porta soando por sua vez. É o amigo Ventoinha. Traz como de costume os cabelos ao ar num reboliço, mesmo num dia como hoje em que não corre uma aragem.
- Acaba lá com isso e vem tomar um café ao Chiado. Quero passar ao Grandela e ver de um presente para uma tia minha...
E pisca-lhe o olho, divertido. Carlos garante que não pode sair já. Mas que ele faça horas, que terá o maior prazer em o acompanhar ao Chiado.
- Tu és muito amedrontado. Então tu crês que os teus patrões te andariam a espiar? Que disparate pegado! Eu sim, ando a ser seguido... mas anda daí à Brasileira que já te conto tudo.
Passam primeiro nos Armazéns do Grandela. Ventoinha vê luvas, chapéus, sombrinhas, meias finas mas nada lhe agrada, a tudo torce o nariz contrariado.
- Gostava de dar algo com mais chique à minha tia. Ela é muito moderna.
E pisca-lhe mais uma vez o olho, com uma gargalhada. Seguem então para a Brasileira a tomar o café. E o Ventoinha começa a soprar a sua história:
- Vês tu aquele indivíduo, à esquina da Bertrand, a espreitar para aqui? (Não olhes agora.) Já não o via há algum tempo e hoje... zás, lá o topei de novo. Tirou a gabardina e rapou o bigode, deve ser do calor.
E realmente lá está um fulano de ar suspeito que os olha. Imagina logo o Ventoinha muito mais metido na política do que parece; é certo que conversam em sussurro muitas vezes contra o regime, mas daí à conspiração vai um longo passo. Pensa que lhe apanharam folhetos, livros ou o apanharam em alguma reunião suspeita, está visto é que o apanharam!
- Tu estás a pensar que é um espião, não é meu pobre Carlos? Mas é alguém acima deles. Eu inventei uma coisa que se chama blog. É um diário do futuro. Tu bates palavras numa máquina de escrever que não faz barulho e, no minuto seguinte, qualquer pessoa no mundo lê na televisão tudo o que escreveste. E isto é uma máquina muito perigosa, claro está! Por isso é que eles andam atrás de mim...
Carlos fica desorientado com a revelação. Pensa que o querido amigo Ventoinha endoidou de vez. Mas ainda lhe pergunta que tipo de coisas escreve nesse ‘bloque’...

- Do bom tudo e do ruim nada

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