Provérbios Provados noutras casas:

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Provérbio da despedida

Adeus, tio Zé. Faço agora o luto que não soube fazer pela Sara. Quando ela morreu, creio que há cerca de dois anos e meio, não consegui fazer nada, sabes, a única coisa em que consegui ser um bocadinho corajosa foi não chorar durante as visitas ao hospital, chegava ao elevador e aí, sim, podia chorar e chorava, mas nunca antes.  Quando ela morreu, apertei a pulseira que me deu e no funeral faltaram-me palavras, fui papagueando as frases religiosas que sabia que ela detestava. Creio que há cerca de dois anos e meio, não soube despedir-me da Sara.
Adeus, tio Zé. Se conhecesse os teus gostos de poetas, ler-te-ia um poema nada previsível como o Fim do Mário de Sá-Carneiro, tenho um pressentimento de que havias de detestar essa má escolha. A Sara detestaria que te papagueasse qualquer frase religiosa, e elegeria algo mais do teu agrado, ler-te-ia fumando pois a memória que guardo é essa, sempre nos conheci a ti e a ela e a mim assim, envoltos numa nuvem de fumo a conversar.

- Adeus, mundo, cada vez pior

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