Provérbios Provados noutras casas:

sexta-feira, 18 de março de 2011

Provérbio da Graça

O meu bairro é lindo, tem miradouros e casas coloridas nas ruas em subida. Dum lado vê-se o rio, do outro as outras colinas da cidade e também o rio: o rio está por toda a parte.
O meu bairro é lindo, não fossem as pessoas que o estragam. Quando saio de manhã mil olhos, velhas que aparecem por encanto com urgências de lixo à porta – bom dia, menina! – a ver se saio sozinha, como vou vestida – bom trabalho, menina!
Quando saio de manhã mil olhos, sinto-os nas costas quando viro à esquerda para a paragem do autocarro. Isto aqui uma aldeia, quem dera ser mosca curiosa em voo debicado: ouvir o que dizem as velhas com urgências de lixo à porta quando viro à esquerda por encanto. Em críticas: que espalhafatosa!, ou talvez lamentando-me: uma rapariga tão jovem e a viver sozinha!
Quando volto ao final da tarde, ainda mais é o meu bairro lindo - qualquer miradouro e o rio por toda a parte. No meu bairro pergunto sempre pela Graça, onde está, como passa:
- A Graça está na praça.
A Graça é a minha amiga do bairro, conquistou-me à primeira assim que transpôs minha soleira: sorriso de peixeira, riso fácil e malandrinho; a Graça reserva-me um peixinho, e leva-me legumes, tudo muito fresquinho. É coisa de mais meia menos meia hora, aí aparece de mão na anca para dar um dedinho de conversa:
- Ai, minha querida!, que me sobrou alho francês, faz uma sopinha e o mais o darei à vizinha.
Generosa, a Graça, e sempre tão engraçada nos ditotes:
- Que lá te interessa o que zurra a voz alheia, filhinha... quando o sono chega, a almofada esquece a adivinha.


- Vozes de burro não chegam ao céu

2 comentários:

astronauta disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
astronauta disse...
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