Provérbios Provados noutras casas:

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Provérbio citado (ASSIS)

«
Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contracção cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem…
E caem! – Folhas misérrimas do meu cipreste, heis de cair, como quaisquer outras belas e vistosas; e, se eu tivesse olhos, dar-vos-ia uma lágrima de saudade. Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar… (…)»

In Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis


P.S. – Post livre de preconceitos de citação, e quiçá acrescentando o início do capítulo seguinte – para provar que nem tudo é provérbio:
«
Talvez suprima o capítulo anterior; entre outros motivos, há aí nas últimas linhas, uma frase muito parecida com despropósito, e eu não quero dar pasto à crítica do futuro.
(…)»

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