Provérbios Provados noutras casas:

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Provérbio Provado em Capítulos - IV

Assegurado que estava o futuro noivado entre primos, o tio Fragata chamou a si a tarefa de investigar os predicados do Mendes, que tinha por hábito conduzir-se irregularmente pelos eixos da concelhia, passando sem remorsos das juntas de freguesia para os mais afastados montes.
Foi dar com ele numa tarde quente, alapado na carripana à sombra, suado, desgostoso: vinha da Biblioteca Municipal. Fizera a derradeira tentativa de vender as colecções caras, obras de referência luxuosamente encadernadas; mas aquela casa tão pouco convidativa, este calor e parece que chovia lá dentro, sabe?, o empregado também invernoso e a velhota num canto junto ao catálogo manual, como uma peça da decoração, tricotando as fichas numa reza de “ponto espaço traço espaço”. Se penso naquele arquivo a acumular mofo por cima do mercado de peixe, provisório desde o tempo da Maria Castanha, dá-me cá um desgosto… Suado, desgostoso, o Mendes murmurava: acho que tenho de mudar de ramo, estabelecer-me com um negócio em loja, uma papelaria, cadernos, carimbos, cautelas, uns livros e enciclopédias, claro está! E posso ter uma loja perto da retrosaria da Belinha, posso cumprimentá-la todos os dias, respeitando o seu noivado, claro está!
Ao tio Fragata deu-lhe pena do Mendes, adivinhando um futuro promissor para este homem possuído de amor. Quase comovido, pesou as virtudes dos futuros esponsais de sua afilhada e foi quando a balança lhe pendeu mais para o cheiro do dinheiro dos carimbos do Mendes que da azeitona do primo Manel. Deixa lá, até ao lavar dos cestos é vindima, e quando nos debruçarmos à vinha já és tu o noivo da prima Belinha. Descansa que eu falo com o compadre Marmeleiro:


- Um bom conselheiro alumia como um candeeiro

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