Provérbio provado rimado - MDXII

É uma expressão muito antiga 

Que também é nome de cantiga 

E que é usada para se prever 

Qualquer confusão de temer 

Quando há um grande alvoroço 

Sem que para tal haja esforço 

É como os pardais ao barulho 

Cada um com o seu arrulho 

Voando ao redor do ninho 

Cuidam das crias com carinho 

Chilreando de tal maneira 

Em cima de qualquer palmeira

Então o estridente Rebeubéu 

Resulta num grande escarcéu 

À volta do ninho os pardais 

Ocupam todos os beirais 

Também existe uma gente 

Que desses pardais é parente 

E parece até quase piada 

Pois falam sem dizer nada

(Imagem: saco de pano à venda na Tiracolo)

Provérbio provado rimado - MDXI

Mal entra o azar a sorte sai 

A sorte sai se entra o azar 

Por vezes é questão de um ai 

E assim sempre irão alternar 

Vais recebê-lo de fronte lavada 

Quando o azar o teu olho encara 

E então fica a coisa remediada 

Se à má sorte fizeres boa cara 

Provérbio provado rimado - MDX

O Nuno é bem destemido 

E é um nadinha perverso 

Contudo está tão disperso 

Como um coito interrompido 

Fica assim a meia haste 

Sem saber depois como agir 

E tão pouco como digerir 

Até que nada lhe baste 

No final ninguém o atura 

Pois o Nuno nunca é consiso 

O discurso jamais é preciso 

Só consegue borrar a pintura 

Provérbio provado rimado - MDXIX

Toda a amizade e a gratidão 

Nada podem contra a ambição 

Que aspira só ao grande ideal 

De se sentir um ser especial 

Provérbio provado rimado - MDXVIII

Não precisa de ser principesca 

Quero sombra e água fresca 

Pois com este calor de rachar 

Eu sinto-me toda a abafar 

À sombra estão quarenta graus 

Secam espinhas de carapaus 

É um tal calor de ananases 

Que com o frio faço as pazes 

Provérbio provado num verso branco - CLII

Pote de ouro no fim do arco-íris 

Não é a ambição que faz um homem infeliz 

As aspirações não tornam menos puras as intenções 

Mas se tais ânsias o devoram de fora para dentro 

O homem não é apenas infeliz no tempo que vive 

Esse homem está sozinho com a sua sofreguidão 

Não é a ambição que transforma o ser 

Ter sede não significa que se irá morrer de sede 

Mas uma vez ciente da existência do horizonte 

O mesmo homem anseia por mais futuro 

Esse homem pretende descobrir o limite da infinitude 

Provérbio provado num verso branco - CLI

Quando uma história está perto 

Do seu final e posterior repetição 

Estão calejados todos os calcanhares 

Muito inchados quaisquer tornozelos 

Os joelhos encontram-se mais 

E mais vezes latejam em separado 

As articulações reflectem as dores:

Toda a dor física que de repente 

Ganha voz e a voz que ganha 

Aquela dor de dentro tão individual 

A dor de dentro que todos sentimos 

Essa dor e todos tão parecidos afinal 

Nunca paramos de caminhar 

Por isso este último verso não é 

- Nem por sombras pode ser -

O fim da história 

A finalidade de um percurso 

Nunca é o seu fim 

Provérbio provado rimado - MDXVII

É por careceres de empatia 

Que não mostras simpatia 

Deixa de parte a arrogância 

Que quase parece ignorância 

Tu tens falta de capacidade 

Para conhecer a humildade 

Portanto crês-te o maior 

Da tua terra e em redor 

És um escritor fracassado 

Mas achas-te muito dotado 

E por seres assim elitista 

Terás de baixar essa crista

Provérbio provado rimado - MDXVI

Eu cá não sou de intrigas 

Mas espero que estejas alerta 

Porque como somos amigas 

Desejo-te a mente aberta 

Ele nem sequer é marido 

E já é assim controlador 

Parece que está possuído 

Ao invés de sentir amor 

É apenas teu namorado 

Imagina só se mais fosse 

Deverá ser pois alertado 

Ou vê o que é bom prá tosse 

Provérbio provado rimado - MDXV

Fazes uma bela figura 

De almanaque ilustrado 

Porque em qualquer altura 

Queres armar-te em letrado 

Tens a mania que sabes 

De tudo e mais um pouco 

Até que um dia acabes 

Por parecer meio louco 

Por passares às disciplinas

Com uma média fenomenal 

Então cada frase terminas 

Com um et cetera e tal