Quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto
Pelo caminho nem é mau
Aceitar alguns conselhos
Mas andas de esgalha pau
Tens pressa nesses joelhos
Mal é a lebre corrida
Está o serviço acabado
E a medalha repartida
Torna-te injustiçado
Doravante até madrugas
Para no trilho praticar
Só que vêm dez tartarugas
O teu pódio cobiçar
Trabalha a resistência
No futuro há novas metas
Devagar e com persistência
Essas tarefas completas
Ter uma maior rapidez
Não significa chegar
Em primeiro de cada vez
Para na ribalta brilhar
Água mole em pedra dura
Tanto dá até que encharca
Tanto bate até que fura
E na fonte deixa marca
Um gesto de paciência
O que a água branda faz
Erosão é essa ciência
Também o vento é capaz
Nunca te mostra o caminho
Aquilo que desejas ver
E nessa senda sozinho
Aguardas a morte aparecer
É tudo tão provisório
É tudo tão de fugida
E nesse modo aleatório
Crês que cumpres a vida
Preferes estar isolado
Com um semblante tristonho
Ficas do mundo apartado
Por o achares enfadonho
Nessa solidão constante
Não dás nadinha de ti
Até que alguém de rompante
Por acaso te encontra aqui
Faz-te uma grande festa
No meio de abraços e gritos
E toda a conversa se presta
A um arraial de aflitos
Sem saber o que fazer
Adoptas então fingimento
E em vez de desaparecer
Engoles esse momento
As confidências aturas
São mil e um os relatos
E no fim já farto lá juras
Lavar as mãos como Pilatos
Pior do que um esperto calado
É um parvo ser desbocado
Quanto mais atenção lhe prestarem
Maior risco é de se enganarem
Porque esse parvinho está cheio
Da própria razão inventada
Não escuta conselho alheio
Assim nunca aprende nada
É um parvo que é tão convencido
Está sempre armado em esperto
Logo torna-se aborrecido
Ter tal criatura por perto
