Provérbios Provados noutras casas:

terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCXCV

Ano novo vida nova 
É o que diz o refrão 
E até chegarmos à cova 
Caímos nessa ilusão 

Pois na verdade o que traz 
É a mesma coisa ainda 
Que o velho não foi capaz 
De dar logo como finda 

Tomamos resoluções 
Que só levam ao engano 
Pois as nossas condições 
Não mudam com o novo ano 

Actores atrapalhados 
Da própria longa-metragem 
Assistimos deslumbrados 
A mais uma vã passagem 


Provérbio provado rimado - MCCCXCIV

Perde qualquer requisito 

Quem tem sede no deserto 

Pode redundar em conflito 

Escondê-la ali por perto 


Se houvesse chuva a sério 

Com ela faria um banquete 

Mas é somente um mistério 

O que essa miragem promete 


Imagine-se a sorte então 

De ter quando a sede apertar 

Alguma torneira à mão 

Que apenas basta rodar 


Pois quem tem sede demais 

Não escolhe a água que bebe 

As fontes são todas iguais 

Em qualquer copo a recebe 




Provérbio provado rimado - MCCCXCIII

A amizade desaparece 

Quando a dúvida aparece 

Logo o elo se põe em causa 

E é necessária uma pausa 


Se o desconforto se instala 

Assim a confiança se abala 

Fica somente um mal estar 

Tão difícil de ultrapassar 


O silêncio tem tanto ruído 

Depois de haver ocorrido 

Algo que a dúvida lançou 

E uma boa amizade estragou 



Provérbio provado rimado - MCCCXCII

O essencial do amor

Não se deve nomear 

Ou este perde o fulgor 

Começa logo a acabar 


Então o lugar mais calado 

É a sua melhor morada 

Para não ficar assustado 

Com as mãos cheias de nada 


A troca mútua da vontade 

Essa que constrói os instantes 

É a terra da intimidade 

Onde habitam os amantes 


A natureza desse afecto 

Não se poderá emendar 

Mesmo que seja incompleto 

Acaba por extravasar 


Desbravar o conceito amoroso 

É igual a não o desbravar 

Pois nem sempre é generoso

Preferindo esconder do que dar 


É coisa tão contraditória 

Isso a que chamam amor 

Porque no fim da história 

Quem foge é vencedor 



segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCXCI

Separar a água do vinho 

É bem mais fácil de fazer 

Do que o falso e mesquinho 

Vir-se a arrepender 


E se por acaso cai nessa 

Não será caso de perigo 

Pois o arrependimento cessa 

Quando esquece o castigo 



Provérbio provado rimado - MCCCXC

Vejam que na realidade 

Somos robôs tal e qual 

E só um quarto da verdade 

Achamos que é substancial 


Parecemos só marionetas 

Por alheias mãos manobradas 

Não valem desculpas ou tretas 

Somos tão bem comportadas 


Bonecos rudes e toscos 

Passamos a vida a fingir 

Os outros são vidros foscos 

À espera de se evadir 


Tantas vezes ficamos perdidos 

Comungando da mesma emoção 

Afinal todos tão parecidos 

Macaquinhos de imitação 



domingo, 29 de dezembro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCLXXXIX

Um amor que não deu certo 

É bom que não fique por perto 

Já viveu e deixou de viver 

Só serve para se escrever 


Por causa do que o medo imagina 

Perdê-lo era a certa sina 

Por causa de se esperar tanto 

Perdê-lo não devia ser espanto 


E quanto maior ele existiu 

Menos facilmente resistiu 

Pois é dito que um grande amor 

Corresponde a grande labor 



Provérbio provado rimado - MCCCLXXXVIII

Quem de couves não entende 
Que vá batatas plantar 
Se com o cultivo pretende 
Um modo de guito ganhar 

Mas se enfim a agricultura 
Não dá para as contas pagar 
Talvez seja uma boa altura 
Para esse ofício parar 

É escolher no sector primário 
Qualquer tarefa que renda 
Não ser jamais perdulário 
Mesmo se riqueza pretenda 

Que à pesca pois se dedique 
De peixe graúdo ou marisco 
Até que enjoado fique 
De tanto anzol tanto isco 

Se nada disto resultar 
Ainda há outras profissões 
Para quem quer trabalhar 
Os que não são mandriões 

Há tantas fábricas de papel 
Também há lojas de tapetes 
Há mercearias a granel 
Há todo o tipo de fretes 

Quer se ganhe à comissão 
Ou aufira ao mês ordenado 
Que não sofra da aflição 
De não ter peixe pescado 


Provérbio provado rimado - MCCCLXXXVII

Transmite um toque de seda 

A língua de quem bajula 

Enquanto a si mesmo se anula 

Nem vê que somente arremeda 


Se o alvo se encontra presente 

Da boca sai-lhe uma flor 

Mas maldiz em todo o esplendor 

Quando este está ausente 


Porque qualquer peta enfeita 

Na boca de quem é mentiroso 

O certo se faz duvidoso 

E até a verdade é suspeita 



Provérbio provado rimado - MCCCLXXXVI

Quando a Rita se apresenta 

O seu valor todo ostenta 

E parece a pessoa melhor 

Que anda aqui em redor 


Que a Rita possui argumentos 

E sabe bem fingir sentimentos 

Põe as gentes no coração 

Para obter uma compensação 


Aos domingos e dias santos 

Deslizando pelos recantos 

Ela papa a hóstia na missa 

Fazendo papel de submissa 


Ela ajuda os pobrezinhos 

Que se crêem menos sozinhos 

E esse acto dá-lhe a ilusão 

Que lhe devem uma obrigação 


Precisa de a tal recorrer 

Para a ruindade esconder 

Para se sentir mais bondosa 

Em se conhecendo horrorosa 


Espera sempre a paga do favor 

Que não é de borla o fervor 

Mas sabe-lhe contudo a pouco 

Por ser santinha do pau oco 



Provérbio provado rimado - MCCCLXXXV

Antes que bata as botas 

Hei-de assumir as derrotas 

Como espinhas na minha garganta 

Sem saber se isso adianta 


Vou cuspi-las uma a uma 

Até não restar mais nenhuma 

Que afinal a minha intenção 

Corrobora essa situação 


E tão perto de me finar 

Já não valerá recuar 

Nem terços à Virgem Maria 

Farão tal hora tardia 


É assim que aceito tranquila 

Ocupando a vez nessa fila 

Onde terminará uma etapa 

Já que à morte ninguém escapa 



Provérbio provado rimado - MCCCLXXXIV

Os excelsos senhores deputados 

Esperam sempre quaisquer ofertas 

E encontram as portas abertas 

Quando são solicitados 


A quem dá uma presa inteira 

Quando muito o presunto devolvem 

Fingindo que assim se envolvem 

Numa posição verdadeira 


Na garagem guardado o triciclo 

Enquanto uma bomba conduzem 

Ideias peregrinas produzem 

Dormitando no hemiciclo 


Quando chega a sua altura 

Assinalam armas e brasões 

E anunciam ordens de razões 

Só assim botam faladura 


Com tal figura de retórica 

Enumeram de dedo estendido 

Com um semblante atrevido 

E uma pose categórica 


De fato engomado e gravata 

Aparentam bom comportamento 

Mas acaba por vir um momento 

Em que arrogam cheios de bravata 


Uma vez encerrado o plenário 

As patacas são distribuídas 

Se terão sido subtraídas 

Todos afirmam o contrário 


Como tontos bonecos procedem 

Com a mão no bolso fechada 

Dando por finda a jornada 

Com até amanhã se despedem 


A eloquência parlamentar 

É uma campainha que se toca 

Sempre que alguém a convoca 

Quando chega a hora de jantar 



sábado, 28 de dezembro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCLXXXIII

Quem pensa apenas com os dedos 

Sente leve o toque da pele 

Por ter na cabeça alguns medos 

Que fazem com que protele 


Deixa logo assim pouco espaço 

Para a fértil imaginação 

Prefere evitar um abraço 

Suspender o aperto de mão 


Tem grave fobia social 

A renúncia é seu apanágio 

Por temer que se torne viral 

A origem de qualquer contágio 


Chega a ter quase saudade

Desse tempo de pandemia 

Então estava mais à vontade 

Com a sua singular mania 


Com tal medo perene e excessivo 

Vive assim dos demais isolado 

Pois estar só é mais positivo 

Do que andar mal acompanhado 



Provérbio provado rimado - MCCCLXXXII

Quem dá um bolo a um cão 

E ao porco pedra preciosa 

Já devia saber de antemão 

Que não ganha por ser generosa


Pois a gente dá pouco valor 

A toda a coisa ofertada 

E prefere pingar em suor 

Que obtê-la de mão beijada 



Provérbio provado rimado - MCCCLXXXI

 Casarás se aparecer um marido 

Mesmo que já não sejas menina 

Deixa estar na loja o vestido 

Não o guardes em naftalina 


Não é para ninguém vergonha 

Ficar parte da vida sem par 

Não julgues que é a peçonha 

Não teres chegado a casar 


Esteja a pêra na pereira 

E não caia nem apodreça 

Como posta na prateleira 

Lá virá quem a mereça 



Provérbio provado rimado - MCCCLXXX

É ultra forreta o Tomás 

Nem no Natal dá presentes 

Ele é de esbanjar incapaz 

Para lá dos gastos correntes 


Teme tanto a velhice e o fim 

E então hipoteca o futuro 

Que do cu lhe não caia assim 

Que na mão está bem seguro 



Provérbio provado rimado - MCCCLXXIX

 A Elisa não dobra o pé 

Tem sempre tanto que fazer 

Não se senta jamais no café 

O seu tempo só sabe encolher 


Ela é uma alminha apressada 

Que não aprecia o momento 

E as horas na sua almofada 

São para a Elisa um tormento 


O tempo que passa a dormir 

É na vida tal desperdício 

Que gostava de o substituir 

Por mais minutos de bulício 


A Elisa por este andar 

Vai ficar velhinha depressa 

Pois é incapaz de abrandar 

À inércia total é avessa 



sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCLXXVIII

Se o que é real não perdoa 

Por certo o amor também não 

E em o fazendo destoa 

Da mais fugaz excitação 


Que esta é apenas vulgar 

Somente desejo e vontade 

Não tem o pendor principal 

De acompanhar na verdade 


Se há na rua a leveza 

De passear de mãos dadas 

Há mais que tesão com certeza 

Há no amor provas dadas 



quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Provérbio provado bem vislumbrado

Desde a infância mais tenra que o Arlindo se gabava de ver muito bem. Tinha uma visão raio-x e argumentava que via as coisas por dentro, afiançando que até vislumbrava para lá dos acontecimentos.

Por isso, onde os restantes não viam nada de nada, já ele tinha mirado tudo e empreendia a viagem de regresso. Inclusive possuía o dom de acertar no futuro: via as situações antes de estas acontecerem, sem nunca lhe entrar areia para os olhos. 

Sim, era escusado tentar lorpear o Arlindo: ele não estava disponível para comer gelados com a testa. Via mais alto do que uma girafa das altas. Com mais clareza do que uma coruja à noite. Com mais limpidez do que um polvo nas profundezas do mar.

Durante a mais vulgar das conversas, o Arlindo parava às vezes muito de repente e cofiava o bigode dizendo: Está-me a vir aqui uma imagem...


- A gente olha e outro é que vê 

Provérbio provado rimado - MCCCLXXVII

Estou a tornar-me carente 

Da tua atenção dependente 

Aguardando uma tua resposta 

Que me torne mais bem disposta 


Tão nociva é esta postura 

Pois não tem local nem altura 

E é forma de alguma pressão 

Por de ti esperar reacção 


Quando um sinal eu terei 

Que valide o que esperei?

Enquanto isso quem espera 

Nesse momento desespera 



Provérbio provado rimado - MCCCLXXVI

Na verdade não pode haver 

Sempre o melhor de dois mundos 

Porque podem então aparecer 

Conflitos internos profundos 


Pode parecer brincadeira 

Ou até uma coisa anormal 

Mas não se pode ter sol na eira 

E chuva também no nabal



segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCLXXV

O meu espaço de repouso 

É o campo de batalha 

Ficar parado não ouso 

Se a energia não falha 


Homem da acção total 

Levo tudo à minha frente 

E penso que isso é normal 

Não percebo alguém diferente 


Sempre a caminho da meta 

Vou em passo acelerado 

É a atitude correcta 

A ambição do soldado 


Tenho receio no fundo 

Apesar que nunca o diga 

Que um dia vá no mundo 

A empurrar com a barriga 



sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCLXXIV

Se não sabes o que é o acaso 

E procuras logo um dicionário 

O melhor é não fazeres caso 

Já que ele é tão arbitrário 


O acaso a nós se assemelha 

Pois como ele somos fortuitos 

E às vezes quando dá na telha 

Vagueamos sem grandes intuitos 


Aquele que enfim nada deixa 

Ao fruto do acaso e à sorte 

Que depois não apresente queixa 

Quando estiver às portas da morte 


Não fez nada de modo errado 

Mas fez coisas tão raramente 

Por ter cada grama pesado 

Julgando controlar o presente 


A somar a estas pontas soltas 

Atenta que do acaso te digo 

Ao pôr-te a cabeça às voltas 

Pode trazer sempre algum perigo 



Provérbio provado rimado - MCCCLXXIII

Tal como na ceia natalícia 

Que dá sempre um certo mal estar 

Se o manjar é uma delícia 

Tu enfardas até vomitar 


Mas se o pitéu não agrada 

Podes ir para debaixo da mesa 

Pois nenhuma lagosta suada 

Te darão para a sobremesa 


Apenas te darão respostas 

Que te assumirão como ingrato 

Dir-te-ão que se não gostas 

Podes pôr na beirinha do prato 



Provérbio provado rimado - MCCCLXXII

Se uma afirmação é contrária 

À nossa própria convicção 

Nós de forma involuntária 

Já não lhe damos atenção 


Num instante ela é rotulada 

Como sem substância ou valor 

E de absurdo é chamada 

Não sendo mais que um rumor 


Mas mesmo o absurdo é razão 

Que tem lucidez nos limites 

E se é verosímil ou não 

Não depende isso de palpites 


Em tendo a mente disponível 

Aos outros neurónios pensantes 

Tornar-te-ás acessível 

À soma de mais variantes 


E assim surgirá um desenho 

No teu cenário estagnado 

Que te aumentará o empenho 

De ouvir quem tens ao teu lado 


Darás por ti mais amável 

Preparado para ser mais atento 

E então serás mais sociável 

Mais aberto a viver o momento 


Abraçando cada nova ideia 

Como quem no regaço a recolhe 

Por saber que quem fala semeia 

Mas quem escuta no fim é que colhe 



quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCLXXI

Que o amor não rima disseram 

Afirmam que não cabe no eco 

Mas afinal só esqueceram 

Que pode falar para o boneco 


Se não for correspondido 

O amor é como um papagaio 

Que por causa de ser preterido

Pode dar-lhe o badagaio 


Não há assim coisa mais triste 

Do que um amor infeliz 

E que apesar disso insiste 

Tentando escapar por um triz 



Provérbio provado rimado - MCCCLXX

De um encontro nasce o amor 
Num extraordinário segundo 
Em que uma sensação de calor 
Se mistura com frio profundo 

E se não ocorrer essa febre 
E não for invulgar o momento 
Tu não compres gato por lebre 
Não comeces um relacionamento 

Pois ter asas no coração 
E na barriga borboletas 
Além de dar mais emoção 
Previne futuras tretas 

Até o pode querer a cabeça 
Por estar farta de só se sentir 
Mas a meio gás não interessa 
É sinal que não vai resistir 

Hás-de adivinhar quando chega 
Esse tal sentimento tão forte 
Que nenhuma sinapse sossega 
E é também uma questão de sorte 

Se o juízo não belisca 
Forçá-lo não adianta 
Mas se o sentires arrisca 
Apesar do nó na garganta 


Provérbio provado rimado - MCCCLXIX

Quando é enorme a tristeza 

Maior é depois a alegria 

Que há dois pólos com certeza 

Oscilando entre paz e agonia 


É assim nos comuns mortais 

O ponteiro não pára quieto 

Mas há pessoas especiais 

Com maior chão e mais tecto 


Não é fácil esta condição 

Esteja ou não diagnosticada 

O que interessa é ter a intenção 

De que deverá ser tratada 


E se a intenção congelar 

E não for capaz a vontade 

O que resta é somente esperar 

Que acabe essa tempestade 


Depois dela vem a bonança 

E é tão certo este ditado 

Há que não perder a esperança 

Até ter a tormenta acabado 



terça-feira, 5 de novembro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCLXVIII

A abstinência tem valor 

Praticada com moderação 

Torna-se estéril sem cor 

Se é fraca a motivação 


Se a dita a fraqueza 

Do corpo contra a evasão 

Ou o vício da avareza 

Que lhe exige moderação 


É mais do que sobriedade 

E passa a ser privação 

Quer subjugar a vontade 

A toda e qualquer abstenção 


Mas quando o excesso abunda 

Então surge a sofreguidão 

Que abre a porta à desbunda 

E promove a perdição 



Provérbio provado rimado - MCCCLXVII

Não dês a outrem razão 

Se não passa de opinião 

Embora devas ajustar 

E até fazer concordar 


Podem ser teus companheiros 

Mas são todavia terceiros 

E o que lhes é fundamental 

Para ti não é essencial 


Já que a razão alheia 

Vive de barriga cheia 

Convém que seja adjectiva 

Não deve ser substantiva 



Provérbio provado rimado - MCCCLXVI

Se ele ainda é cachorrinho 

Late muito pedindo miminho 

E deixa os chinelos estragados 

Depois de rasgar cortinados 


Para tudo tem um latido 

Até ser um bicho crescido 

Mas quando é velho o cão 

Se ladra é porque tem razão 


E tal como os seres humanos 

Após uma vida de enganos 

Não compram guerras em velhos 

Encheram o cu de conselhos 


Tantas primaveras depois 

Só quando os sujeitos são dois 

Se dispõem então a falar 

Sem ofender nem ralhar 


Não querem tempo despender

Que sirva só para entreter 

Um paleio superficial 

Que não preenche afinal 


Mas se vão a boca abrir 

É melhor alguém os ouvir 

Não há-de o discurso ser vão 

Se a esse trabalho se dão 



segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCLXV

Não adianta a contenda 

Com animal tão nervoso 

Que nem por nada se emenda 

Por ser um bicho teimoso 


Se lhe encheres o ouvido 

Com tanta razão ponderada 

Ele finge-se distraído 

Como não escutando nada 


Não há assim um momento 

Que venha a talho de foice 

Pois para o burro argumento 

É responder com um coice 



Provérbio provado rimado - MCCCLXIV

Quando chego a um local 

Atiro logo uma laracha 

Que seja bem original 

E um pouco fora da caixa 


Inicio qualquer converseta 

Em que possa ideias trocar 

E mesmo que saia só treta 

Algo irá acrescentar 


Tomo assim a dianteira 

E pra não falar pró boneco 

Entro em amena cavaqueira 

Porque adoro o treco-lareco 



Provérbio provado rimado - MCCCLXIII

A filosofia de bando 

Da vaca do boi e bisonte 

É ir cagando e andando 

Para não fazer nenhum monte 


Mas com a merda que cagam 

Na relva ou no verde prado 

Cheiro tão medonho propagam 

Que o nariz está tramado 


Acompanhar tais manadas 

Não é para um qualquer 

Leva as narinas tapadas 

Até as vacas recolher 


Que cada cabeça normal 

Com mais de quinhentos quilos 

Tem um intestino animal 

Bem diferente dos grilos 


Depois de encher o bandulho 

Começa logo a ruminar 

Mastigando com barulho 

Para ir de seguida cagar 


Assim em fileira andando 

Largando o cocó assassino 

Lá vai a merda espalhando 

O grupo de gado bovino 


Então a lição a reter 

Para que o boi não destoe 

É poder merda fazer 

Desde que não amontoe 



sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCLXII

O tédio entrou no mundo 

Pela mão da prima preguiça 

Ambos criam um pano de fundo 

Que nenhuma vontade cobiça 


A pessoa não está satisfeita 

Nem sequer com a terra inteira 

E por isso o tédio é maleita 

É uma doença verdadeira 


Ele é a expressão suprema 

De uma indiferença total 

Ignorando que haja problema 

Por ser tão superficial 


E esse aparente prazer 

Não passa de um paliativo

Pois apenas sabe suspender 

O que seria imperativo 


Todo aquele que se aborrece 

No planeta em que habita 

Passa a vida num tipo de prece 

Que busca a estrela mais bonita 


O tédio inventou as apostas 

E todas as demais distrações 

Atirando para trás das costas 

O amor e outras emoções 


Ele acaba por ser a desgraça 

De quem estava realizado 

Entretanto por mais que faça 

Não deixa de estar enfadado 


É de efectiva importância 

Que possa encontrar um remédio 

Que controle bem a abundância 

Que dá sempre origem ao tédio 



Provérbio à mão de semear

Tenho aqui à mão uma mão cheia de expressões que uma mão amiga, mãos largas que só ela, me fez chegar de mão beijada em primeira mão. Confesso que fiquei abismada com tal profusão de mãos a abanar mas, como em princípio cada pessoa tem duas, até faz sentido.

Então resolvi pôr mãos à obra e, estando já de mãos na massa sem mãos a medir, pus-me a pensar na quantidade e qualidade de mãos que me ampararam. Em cada mão de ensino que recebi quando estava a precisar de uma reprimenda com mão firme. Em cada mão de ferro que me castigou injustamente e teria merecido uma bofetada sem mão. Mas também nas acções com que se me dirigiram com mão de mestre e me convenceram de que estava em boas mãos. E ainda aprendi a não pôr a mão no fogo por ninguém, nem à mão de Deus Padre.

Ah, meus amigos, e eu sempre fora de mão, eu tão desastrada com mãos de aranha, sempre de mãos a abanar com uma mão atrás e outra à frente a meter os pés pelas mãos. De mãos vazias, contudo de mãos limpas e braços abertos, sem levantar a mão contra ninguém.


- Também tenho duas mãos 

Provérbio provado rimado - MCCCLXI

Desconhecedor de um facto 

Que não soube antever 

O corno é como o chato 

Sempre o último a saber 



quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCLX

Eu tendo ao isolamento 

Se sinto que não encaixo 

Fico então nesse momento 

Sozinha na mó de baixo 


Depois ninguém me atura 

E qualquer convite rejeito 

Sabendo que não é altura 

Para que me ponha a jeito 


Ficar assim solitária 

É tão má ideia afinal 

Logo eu que sou tão gregária 

É uma coisa paradoxal 


De mim própria tenho pena 

Suspeitando que até causo dó 

Para que tenha vida plena 

Terá de subir essa mó 



Provérbio provado rimado - MCCCLIX

Os ricos têm angústias 

Os pobres inquietações 

E se ambos as coleccionam 

Lá terão as suas razões 


Se acordam assim preocupados 

Com a ansiedade em alta 

Não interessa se há abundância 

Ou se ao invés faz falta 


Já que ninguém sabe o dia 

Que amanhã já virá 

E então a futurologia 

É o maior disparate que há 



terça-feira, 29 de outubro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCLVIII

Não preciso de provar nada 
Nem de convencer ninguém 
Farta de ser copiada 
Vou implicar com alguém 

E então saiam da frente 
Que agressiva já me sinto 
Não me quedo indiferente 
Quando um plágio pressinto 

Se a caminho esbarrarem 
Com mais atitudes reles 
O melhor é me agarrarem 
Que senão eu vou-me a eles 


sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCLVII

Pensando que vinhas primeiro 
Deste-te todo por inteiro 
Mas foste mais um pretendente 
Que me deixou indiferente 

Eras tão melga e tão chato 
Mais parecias um carrapato 
Muito cola e com ar infeliz
Eu ficava sem ar no nariz 

Não podia jamais fazer nada 
Sem que fosse por ti questionada 
Em que é que estás a pensar?
Ora em nada em particular 

Era essa permanente questão 
Que me causava repulsão 
Ainda mais porque era precoce 
Imagina então se não fosse 

Creio que sabias afinal 
Tal apego não ser natural 
Por isso estavas preocupado 
Em poder pedir demasiado 

Dei-te então um chega pra lá 
Já que enfim paciência não há 
Aturar-te foi uma desgraça 
Por seres chato como a potassa 


Provérbio provado rimado - MCCCLVI

Se tu costumas mexer 

Apalpando a mercadoria 

Para assim poderes entender 

Se lhe darás primazia 


És como nuestros hermanos 

Quando querem algo constatar 

Podendo até causar danos 

Para ver têm de tocar 


Com os tendões tem cuidado 

E a compreensão sensitiva 

Pois talvez do outro lado 

Exista outra narrativa 


Que repara em quem apanha 

Com o peixe também os anzóis 

E lhe reconhece a manha 

De ver como os espanhóis 



Provérbio provado rimado - MCCCLV

Tu só sabes matar moscas 

Com a parte de trás das costas 

E inventas desculpas toscas 

Pois de trabalhar não gostas 


Passas o dia a roçar 

O cu gordo pelas esquinas 

E os tomates vais coçar 

Numa postura traquinas 


Assim revela-se impossível 

Achar que o teu ser promete 

Que o teu ar é impassível 

Julgas que tudo é um frete 



Provérbio provado rimado - MCCCLIV

Quem ama verdadeiramente 

Aceita o que lhe aparece 

Tal como existe a gente 

Já que toda a gente merece 


Cada um vive nesse lugar 

Que em vida andou construindo 

E de nada adianta negar 

Como o rumo foi evoluindo 


Pois a regra da aceitação 

É fácil e simples no fundo 

Basta ter dentro do coração 

Um despojamento profundo 


Tal como está embrulhado 

Deve receber-se um presente 

Dizem que a cavalo dado 

Não se deve olhar cada dente 



Provérbio provado rimado - MCCCLIII

Tu fala-me tiro a tiro 

De rajada não te percebo 

Que expliques bem eu prefiro 

Do que me limpes o sebo 


Não sejas assim agressivo 

Nem entres logo a matar 

Ou enfim esquecerei o motivo 

Que me faz te considerar 



Provérbio provado rimado - MCCCLII

Galinha que acompanha pato 

Acaba por morrer afogada 

É fácil de entender o facto 

Já que a galinha não nada 


Que a ave se quer rodear 

De outros animais talentosos 

Mas anda a apanhar do ar 

Do que ela são mais jeitosos 


Pois a dita galinha tem fama 

De não ser muito inteligente 

Responde quando alguém chama 

Logo vem piando contente 


Lá no fundo a pobre galinha 

Queria umas asas de jeito 

Mas fica bicando sozinha 

Num cacarejar contrafeito 



Provérbio provado rimado - MCCCLI

A sabedoria que tem 

Não serve a finalidade 

De contribuir com bondade 

Já que trama sempre alguém 


Não sei o que lhe perguntaram 

Nem sei com quem aprendeu 

Mas é certo que não mereceu 

Sabe mais do que lhe ensinaram 



Provérbio provado rimado - MCCCL

Sofreu um enorme calvário 

Num tormento doutrinário 

Levando às costas a cruz 

Tanto aguentou o Jesus 


E a grande dor que sofreu 

Nossa Senhora comoveu 

Pois nem ela naquele momento 

Sonhava um renascimento 


Com ladrões crucificado 

Pelo próprio Pai ignorado 

A fim de servir de lição 

A todo o que é cristão 


Foi preciso chamar um ferreiro 

Que chegou com o cangalheiro 

Para vários pregos apertar 

Não fossem eles se soltar 


O ferreiro que não era crente 

Não ficou no entanto indiferente 

Àquele homem de aura sagrada 

Com tamanho azar na jornada 


E até que surgisse o estertor 

Só para melhorar o humor 

Quis fazer-se de engraçadinho 

Largando um dito comezinho 


Então para quem quis ouvir 

Mandou esta laracha a seguir 

Com pregos Jota Baptista 

Não há Cristo que resista 



quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCXLIX

Tu gostas de bisbilhotar 
Para dar a tua opinião 
Mas costumas exagerar 
E depois não te dão atenção 

Pois não há gente interessada 
Nessa tua cusquice vulgar 
Por teres a postura errada 
De te pores a murmurar 

Insistes em pôr o nariz 
Aonde não és chamado 
Repetindo o que se diz 
Com algo por ti inventado 

Estás sempre assaz desejoso 
De ir meter o bedelho 
E nesse círculo vicioso 
Ignoras qualquer conselho 

Não coloques o bico no ninho 
Para o qual não te convidaram 
Ou serás deixado sozinho 
Por aqueles que te ignoraram 

Mas demoras até perceber 
Que tal atitude é feia 
Então continuas a meter 
A foice em seara alheia 


Provérbio provado rimado - MCCCXLVIII

Logo cedo a tesão do mijo 

Torna qualquer homem rijo 

Se é mito o mijo ou a tesão 

Não importa tal atribuição 


Se nenhum se tornar viável 

Deve ser pouco confortável 

Mas posso apenas imaginar 

Essa tal forma de bem-estar 



Provérbio provado rimado - MCCCXLVII

Normalmente eu sou acessível 

Sou até bastante amigável 

Mas hoje não estou comestível 

Sinto-me de facto intragável 


Acordei com os pés de fora 

Sem vontade nenhuma de amar 

Se calhar é melhor ir-me embora 

Para o ambiente não estragar 


Acho-me muito melancólica 

E não sou flor que se cheire 

Não estou lá muito católica 

É melhor que ninguém se abeire 



terça-feira, 22 de outubro de 2024

Provérbio provado rimado - MCCCXLVI

Essa coisa das companhias 

Tem tanto que se lhe diga 

Porque até tu em alguns dias 

És a tua pior inimiga 


Mas é comumente aceite 

Que aqueles de que te rodeias 

Além de servirem de enfeite 

Influenciam as tuas ideias 


Diz-me com quem é que andas 

Direi o que é que vais ser 

Mesmo se pensas que mandas 

No que te vai acontecer 


É sempre na pior altura 

Decorra o que decorrer 

Quem com porcos se mistura 

Farelos há-de comer