terça-feira, 31 de dezembro de 2024
Provérbio provado rimado - MCCCXCV
Provérbio provado rimado - MCCCXCIV
Perde qualquer requisito
Quem tem sede no deserto
Pode redundar em conflito
Escondê-la ali por perto
Se houvesse chuva a sério
Com ela faria um banquete
Mas é somente um mistério
O que essa miragem promete
Imagine-se a sorte então
De ter quando a sede apertar
Alguma torneira à mão
Que apenas basta rodar
Pois quem tem sede demais
Não escolhe a água que bebe
As fontes são todas iguais
Em qualquer copo a recebe
Provérbio provado rimado - MCCCXCIII
A amizade desaparece
Quando a dúvida aparece
Logo o elo se põe em causa
E é necessária uma pausa
Se o desconforto se instala
Assim a confiança se abala
Fica somente um mal estar
Tão difícil de ultrapassar
O silêncio tem tanto ruído
Depois de haver ocorrido
Algo que a dúvida lançou
E uma boa amizade estragou
Provérbio provado rimado - MCCCXCII
O essencial do amor
Não se deve nomear
Ou este perde o fulgor
Começa logo a acabar
Então o lugar mais calado
É a sua melhor morada
Para não ficar assustado
Com as mãos cheias de nada
A troca mútua da vontade
Essa que constrói os instantes
É a terra da intimidade
Onde habitam os amantes
A natureza desse afecto
Não se poderá emendar
Mesmo que seja incompleto
Acaba por extravasar
Desbravar o conceito amoroso
É igual a não o desbravar
Pois nem sempre é generoso
Preferindo esconder do que dar
É coisa tão contraditória
Isso a que chamam amor
Porque no fim da história
Quem foge é vencedor
segunda-feira, 30 de dezembro de 2024
Provérbio provado rimado - MCCCXCI
Separar a água do vinho
É bem mais fácil de fazer
Do que o falso e mesquinho
Vir-se a arrepender
E se por acaso cai nessa
Não será caso de perigo
Pois o arrependimento cessa
Quando esquece o castigo
Provérbio provado rimado - MCCCXC
Vejam que na realidade
Somos robôs tal e qual
E só um quarto da verdade
Achamos que é substancial
Parecemos só marionetas
Por alheias mãos manobradas
Não valem desculpas ou tretas
Somos tão bem comportadas
Bonecos rudes e toscos
Passamos a vida a fingir
Os outros são vidros foscos
À espera de se evadir
Tantas vezes ficamos perdidos
Comungando da mesma emoção
Afinal todos tão parecidos
Macaquinhos de imitação
domingo, 29 de dezembro de 2024
Provérbio provado rimado - MCCCLXXXIX
Um amor que não deu certo
É bom que não fique por perto
Já viveu e deixou de viver
Só serve para se escrever
Por causa do que o medo imagina
Perdê-lo era a certa sina
Por causa de se esperar tanto
Perdê-lo não devia ser espanto
E quanto maior ele existiu
Menos facilmente resistiu
Pois é dito que um grande amor
Corresponde a grande labor
Provérbio provado rimado - MCCCLXXXVIII
Provérbio provado rimado - MCCCLXXXVII
Transmite um toque de seda
A língua de quem bajula
Enquanto a si mesmo se anula
Nem vê que somente arremeda
Se o alvo se encontra presente
Da boca sai-lhe uma flor
Mas maldiz em todo o esplendor
Quando este está ausente
Porque qualquer peta enfeita
Na boca de quem é mentiroso
O certo se faz duvidoso
E até a verdade é suspeita
Provérbio provado rimado - MCCCLXXXVI
Quando a Rita se apresenta
O seu valor todo ostenta
E parece a pessoa melhor
Que anda aqui em redor
Que a Rita possui argumentos
E sabe bem fingir sentimentos
Põe as gentes no coração
Para obter uma compensação
Aos domingos e dias santos
Deslizando pelos recantos
Ela papa a hóstia na missa
Fazendo papel de submissa
Ela ajuda os pobrezinhos
Que se crêem menos sozinhos
E esse acto dá-lhe a ilusão
Que lhe devem uma obrigação
Precisa de a tal recorrer
Para a ruindade esconder
Para se sentir mais bondosa
Em se conhecendo horrorosa
Espera sempre a paga do favor
Que não é de borla o fervor
Mas sabe-lhe contudo a pouco
Por ser santinha do pau oco
Provérbio provado rimado - MCCCLXXXV
Antes que bata as botas
Hei-de assumir as derrotas
Como espinhas na minha garganta
Sem saber se isso adianta
Vou cuspi-las uma a uma
Até não restar mais nenhuma
Que afinal a minha intenção
Corrobora essa situação
E tão perto de me finar
Já não valerá recuar
Nem terços à Virgem Maria
Farão tal hora tardia
É assim que aceito tranquila
Ocupando a vez nessa fila
Onde terminará uma etapa
Já que à morte ninguém escapa
Provérbio provado rimado - MCCCLXXXIV
Os excelsos senhores deputados
Esperam sempre quaisquer ofertas
E encontram as portas abertas
Quando são solicitados
A quem dá uma presa inteira
Quando muito o presunto devolvem
Fingindo que assim se envolvem
Numa posição verdadeira
Na garagem guardado o triciclo
Enquanto uma bomba conduzem
Ideias peregrinas produzem
Dormitando no hemiciclo
Quando chega a sua altura
Assinalam armas e brasões
E anunciam ordens de razões
Só assim botam faladura
Com tal figura de retórica
Enumeram de dedo estendido
Com um semblante atrevido
E uma pose categórica
De fato engomado e gravata
Aparentam bom comportamento
Mas acaba por vir um momento
Em que arrogam cheios de bravata
Uma vez encerrado o plenário
As patacas são distribuídas
Se terão sido subtraídas
Todos afirmam o contrário
Como tontos bonecos procedem
Com a mão no bolso fechada
Dando por finda a jornada
Com até amanhã se despedem
A eloquência parlamentar
É uma campainha que se toca
Sempre que alguém a convoca
Quando chega a hora de jantar
sábado, 28 de dezembro de 2024
Provérbio provado rimado - MCCCLXXXIII
Quem pensa apenas com os dedos
Sente leve o toque da pele
Por ter na cabeça alguns medos
Que fazem com que protele
Deixa logo assim pouco espaço
Para a fértil imaginação
Prefere evitar um abraço
Suspender o aperto de mão
Tem grave fobia social
A renúncia é seu apanágio
Por temer que se torne viral
A origem de qualquer contágio
Chega a ter quase saudade
Desse tempo de pandemia
Então estava mais à vontade
Com a sua singular mania
Com tal medo perene e excessivo
Vive assim dos demais isolado
Pois estar só é mais positivo
Do que andar mal acompanhado
Provérbio provado rimado - MCCCLXXXII
Quem dá um bolo a um cão
E ao porco pedra preciosa
Já devia saber de antemão
Que não ganha por ser generosa
Pois a gente dá pouco valor
A toda a coisa ofertada
E prefere pingar em suor
Que obtê-la de mão beijada
Provérbio provado rimado - MCCCLXXXI
Casarás se aparecer um marido
Mesmo que já não sejas menina
Deixa estar na loja o vestido
Não o guardes em naftalina
Não é para ninguém vergonha
Ficar parte da vida sem par
Não julgues que é a peçonha
Não teres chegado a casar
Esteja a pêra na pereira
E não caia nem apodreça
Como posta na prateleira
Lá virá quem a mereça
Provérbio provado rimado - MCCCLXXX
É ultra forreta o Tomás
Nem no Natal dá presentes
Ele é de esbanjar incapaz
Para lá dos gastos correntes
Teme tanto a velhice e o fim
E então hipoteca o futuro
Que do cu lhe não caia assim
Que na mão está bem seguro
Provérbio provado rimado - MCCCLXXIX
A Elisa não dobra o pé
Tem sempre tanto que fazer
Não se senta jamais no café
O seu tempo só sabe encolher
Ela é uma alminha apressada
Que não aprecia o momento
E as horas na sua almofada
São para a Elisa um tormento
O tempo que passa a dormir
É na vida tal desperdício
Que gostava de o substituir
Por mais minutos de bulício
A Elisa por este andar
Vai ficar velhinha depressa
Pois é incapaz de abrandar
À inércia total é avessa
sexta-feira, 6 de dezembro de 2024
Provérbio provado rimado - MCCCLXXVIII
Se o que é real não perdoa
Por certo o amor também não
E em o fazendo destoa
Da mais fugaz excitação
Que esta é apenas vulgar
Somente desejo e vontade
Não tem o pendor principal
De acompanhar na verdade
Se há na rua a leveza
De passear de mãos dadas
Há mais que tesão com certeza
Há no amor provas dadas
quarta-feira, 4 de dezembro de 2024
Provérbio provado bem vislumbrado
Desde a infância mais tenra que o Arlindo se gabava de ver muito bem. Tinha uma visão raio-x e argumentava que via as coisas por dentro, afiançando que até vislumbrava para lá dos acontecimentos.
Por isso, onde os restantes não viam nada de nada, já ele tinha mirado tudo e empreendia a viagem de regresso. Inclusive possuía o dom de acertar no futuro: via as situações antes de estas acontecerem, sem nunca lhe entrar areia para os olhos.
Sim, era escusado tentar lorpear o Arlindo: ele não estava disponível para comer gelados com a testa. Via mais alto do que uma girafa das altas. Com mais clareza do que uma coruja à noite. Com mais limpidez do que um polvo nas profundezas do mar.
Durante a mais vulgar das conversas, o Arlindo parava às vezes muito de repente e cofiava o bigode dizendo: Está-me a vir aqui uma imagem...
- A gente olha e outro é que vê
Provérbio provado rimado - MCCCLXXVII
Estou a tornar-me carente
Da tua atenção dependente
Aguardando uma tua resposta
Que me torne mais bem disposta
Tão nociva é esta postura
Pois não tem local nem altura
E é forma de alguma pressão
Por de ti esperar reacção
Quando um sinal eu terei
Que valide o que esperei?
Enquanto isso quem espera
Nesse momento desespera
Provérbio provado rimado - MCCCLXXVI
Na verdade não pode haver
Sempre o melhor de dois mundos
Porque podem então aparecer
Conflitos internos profundos
Pode parecer brincadeira
Ou até uma coisa anormal
Mas não se pode ter sol na eira
E chuva também no nabal
segunda-feira, 25 de novembro de 2024
Provérbio provado rimado - MCCCLXXV
O meu espaço de repouso
É o campo de batalha
Ficar parado não ouso
Se a energia não falha
Homem da acção total
Levo tudo à minha frente
E penso que isso é normal
Não percebo alguém diferente
Sempre a caminho da meta
Vou em passo acelerado
É a atitude correcta
A ambição do soldado
Tenho receio no fundo
Apesar que nunca o diga
Que um dia vá no mundo
A empurrar com a barriga
sexta-feira, 22 de novembro de 2024
Provérbio provado rimado - MCCCLXXIV
Se não sabes o que é o acaso
E procuras logo um dicionário
O melhor é não fazeres caso
Já que ele é tão arbitrário
O acaso a nós se assemelha
Pois como ele somos fortuitos
E às vezes quando dá na telha
Vagueamos sem grandes intuitos
Aquele que enfim nada deixa
Ao fruto do acaso e à sorte
Que depois não apresente queixa
Quando estiver às portas da morte
Não fez nada de modo errado
Mas fez coisas tão raramente
Por ter cada grama pesado
Julgando controlar o presente
A somar a estas pontas soltas
Atenta que do acaso te digo
Ao pôr-te a cabeça às voltas
Pode trazer sempre algum perigo
Provérbio provado rimado - MCCCLXXIII
Tal como na ceia natalícia
Que dá sempre um certo mal estar
Se o manjar é uma delícia
Tu enfardas até vomitar
Mas se o pitéu não agrada
Podes ir para debaixo da mesa
Pois nenhuma lagosta suada
Te darão para a sobremesa
Apenas te darão respostas
Que te assumirão como ingrato
Dir-te-ão que se não gostas
Podes pôr na beirinha do prato
Provérbio provado rimado - MCCCLXXII
Se uma afirmação é contrária
À nossa própria convicção
Nós de forma involuntária
Já não lhe damos atenção
Num instante ela é rotulada
Como sem substância ou valor
E de absurdo é chamada
Não sendo mais que um rumor
Mas mesmo o absurdo é razão
Que tem lucidez nos limites
E se é verosímil ou não
Não depende isso de palpites
Em tendo a mente disponível
Aos outros neurónios pensantes
Tornar-te-ás acessível
À soma de mais variantes
E assim surgirá um desenho
No teu cenário estagnado
Que te aumentará o empenho
De ouvir quem tens ao teu lado
Darás por ti mais amável
Preparado para ser mais atento
E então serás mais sociável
Mais aberto a viver o momento
Abraçando cada nova ideia
Como quem no regaço a recolhe
Por saber que quem fala semeia
Mas quem escuta no fim é que colhe
quinta-feira, 21 de novembro de 2024
Provérbio provado rimado - MCCCLXXI
Que o amor não rima disseram
Afirmam que não cabe no eco
Mas afinal só esqueceram
Que pode falar para o boneco
Se não for correspondido
O amor é como um papagaio
Que por causa de ser preterido
Pode dar-lhe o badagaio
Não há assim coisa mais triste
Do que um amor infeliz
E que apesar disso insiste
Tentando escapar por um triz
Provérbio provado rimado - MCCCLXX
Provérbio provado rimado - MCCCLXIX
Quando é enorme a tristeza
Maior é depois a alegria
Que há dois pólos com certeza
Oscilando entre paz e agonia
É assim nos comuns mortais
O ponteiro não pára quieto
Mas há pessoas especiais
Com maior chão e mais tecto
Não é fácil esta condição
Esteja ou não diagnosticada
O que interessa é ter a intenção
De que deverá ser tratada
E se a intenção congelar
E não for capaz a vontade
O que resta é somente esperar
Que acabe essa tempestade
Depois dela vem a bonança
E é tão certo este ditado
Há que não perder a esperança
Até ter a tormenta acabado
terça-feira, 5 de novembro de 2024
Provérbio provado rimado - MCCCLXVIII
A abstinência tem valor
Praticada com moderação
Torna-se estéril sem cor
Se é fraca a motivação
Se a dita a fraqueza
Do corpo contra a evasão
Ou o vício da avareza
Que lhe exige moderação
É mais do que sobriedade
E passa a ser privação
Quer subjugar a vontade
A toda e qualquer abstenção
Mas quando o excesso abunda
Então surge a sofreguidão
Que abre a porta à desbunda
E promove a perdição
Provérbio provado rimado - MCCCLXVII
Não dês a outrem razão
Se não passa de opinião
Embora devas ajustar
E até fazer concordar
Podem ser teus companheiros
Mas são todavia terceiros
E o que lhes é fundamental
Para ti não é essencial
Já que a razão alheia
Vive de barriga cheia
Convém que seja adjectiva
Não deve ser substantiva
Provérbio provado rimado - MCCCLXVI
Se ele ainda é cachorrinho
Late muito pedindo miminho
E deixa os chinelos estragados
Depois de rasgar cortinados
Para tudo tem um latido
Até ser um bicho crescido
Mas quando é velho o cão
Se ladra é porque tem razão
E tal como os seres humanos
Após uma vida de enganos
Não compram guerras em velhos
Encheram o cu de conselhos
Tantas primaveras depois
Só quando os sujeitos são dois
Se dispõem então a falar
Sem ofender nem ralhar
Não querem tempo despender
Que sirva só para entreter
Um paleio superficial
Que não preenche afinal
Mas se vão a boca abrir
É melhor alguém os ouvir
Não há-de o discurso ser vão
Se a esse trabalho se dão
segunda-feira, 4 de novembro de 2024
Provérbio provado rimado - MCCCLXV
Não adianta a contenda
Com animal tão nervoso
Que nem por nada se emenda
Por ser um bicho teimoso
Se lhe encheres o ouvido
Com tanta razão ponderada
Ele finge-se distraído
Como não escutando nada
Não há assim um momento
Que venha a talho de foice
Pois para o burro argumento
É responder com um coice
Provérbio provado rimado - MCCCLXIV
Quando chego a um local
Atiro logo uma laracha
Que seja bem original
E um pouco fora da caixa
Inicio qualquer converseta
Em que possa ideias trocar
E mesmo que saia só treta
Algo irá acrescentar
Tomo assim a dianteira
E pra não falar pró boneco
Entro em amena cavaqueira
Porque adoro o treco-lareco
Provérbio provado rimado - MCCCLXIII
A filosofia de bando
Da vaca do boi e bisonte
É ir cagando e andando
Para não fazer nenhum monte
Mas com a merda que cagam
Na relva ou no verde prado
Cheiro tão medonho propagam
Que o nariz está tramado
Acompanhar tais manadas
Não é para um qualquer
Leva as narinas tapadas
Até as vacas recolher
Que cada cabeça normal
Com mais de quinhentos quilos
Tem um intestino animal
Bem diferente dos grilos
Depois de encher o bandulho
Começa logo a ruminar
Mastigando com barulho
Para ir de seguida cagar
Assim em fileira andando
Largando o cocó assassino
Lá vai a merda espalhando
O grupo de gado bovino
Então a lição a reter
Para que o boi não destoe
É poder merda fazer
Desde que não amontoe
sexta-feira, 1 de novembro de 2024
Provérbio provado rimado - MCCCLXII
O tédio entrou no mundo
Pela mão da prima preguiça
Ambos criam um pano de fundo
Que nenhuma vontade cobiça
A pessoa não está satisfeita
Nem sequer com a terra inteira
E por isso o tédio é maleita
É uma doença verdadeira
Ele é a expressão suprema
De uma indiferença total
Ignorando que haja problema
Por ser tão superficial
E esse aparente prazer
Não passa de um paliativo
Pois apenas sabe suspender
O que seria imperativo
Todo aquele que se aborrece
No planeta em que habita
Passa a vida num tipo de prece
Que busca a estrela mais bonita
O tédio inventou as apostas
E todas as demais distrações
Atirando para trás das costas
O amor e outras emoções
Ele acaba por ser a desgraça
De quem estava realizado
Entretanto por mais que faça
Não deixa de estar enfadado
É de efectiva importância
Que possa encontrar um remédio
Que controle bem a abundância
Que dá sempre origem ao tédio
Provérbio à mão de semear
Tenho aqui à mão uma mão cheia de expressões que uma mão amiga, mãos largas que só ela, me fez chegar de mão beijada em primeira mão. Confesso que fiquei abismada com tal profusão de mãos a abanar mas, como em princípio cada pessoa tem duas, até faz sentido.
Então resolvi pôr mãos à obra e, estando já de mãos na massa sem mãos a medir, pus-me a pensar na quantidade e qualidade de mãos que me ampararam. Em cada mão de ensino que recebi quando estava a precisar de uma reprimenda com mão firme. Em cada mão de ferro que me castigou injustamente e teria merecido uma bofetada sem mão. Mas também nas acções com que se me dirigiram com mão de mestre e me convenceram de que estava em boas mãos. E ainda aprendi a não pôr a mão no fogo por ninguém, nem à mão de Deus Padre.
Ah, meus amigos, e eu sempre fora de mão, eu tão desastrada com mãos de aranha, sempre de mãos a abanar com uma mão atrás e outra à frente a meter os pés pelas mãos. De mãos vazias, contudo de mãos limpas e braços abertos, sem levantar a mão contra ninguém.
- Também tenho duas mãos
quinta-feira, 31 de outubro de 2024
Provérbio provado rimado - MCCCLX
Eu tendo ao isolamento
Se sinto que não encaixo
Fico então nesse momento
Sozinha na mó de baixo
Depois ninguém me atura
E qualquer convite rejeito
Sabendo que não é altura
Para que me ponha a jeito
Ficar assim solitária
É tão má ideia afinal
Logo eu que sou tão gregária
É uma coisa paradoxal
De mim própria tenho pena
Suspeitando que até causo dó
Para que tenha vida plena
Terá de subir essa mó
Provérbio provado rimado - MCCCLIX
Os ricos têm angústias
Os pobres inquietações
E se ambos as coleccionam
Lá terão as suas razões
Se acordam assim preocupados
Com a ansiedade em alta
Não interessa se há abundância
Ou se ao invés faz falta
Já que ninguém sabe o dia
Que amanhã já virá
E então a futurologia
É o maior disparate que há
terça-feira, 29 de outubro de 2024
Provérbio provado rimado - MCCCLVIII
sexta-feira, 25 de outubro de 2024
Provérbio provado rimado - MCCCLVII
Provérbio provado rimado - MCCCLVI
Se tu costumas mexer
Apalpando a mercadoria
Para assim poderes entender
Se lhe darás primazia
És como nuestros hermanos
Quando querem algo constatar
Podendo até causar danos
Para ver têm de tocar
Com os tendões tem cuidado
E a compreensão sensitiva
Pois talvez do outro lado
Exista outra narrativa
Que repara em quem apanha
Com o peixe também os anzóis
E lhe reconhece a manha
De ver como os espanhóis
Provérbio provado rimado - MCCCLV
Tu só sabes matar moscas
Com a parte de trás das costas
E inventas desculpas toscas
Pois de trabalhar não gostas
Passas o dia a roçar
O cu gordo pelas esquinas
E os tomates vais coçar
Numa postura traquinas
Assim revela-se impossível
Achar que o teu ser promete
Que o teu ar é impassível
Julgas que tudo é um frete
Provérbio provado rimado - MCCCLIV
Quem ama verdadeiramente
Aceita o que lhe aparece
Tal como existe a gente
Já que toda a gente merece
Cada um vive nesse lugar
Que em vida andou construindo
E de nada adianta negar
Como o rumo foi evoluindo
Pois a regra da aceitação
É fácil e simples no fundo
Basta ter dentro do coração
Um despojamento profundo
Tal como está embrulhado
Deve receber-se um presente
Dizem que a cavalo dado
Não se deve olhar cada dente
Provérbio provado rimado - MCCCLIII
Tu fala-me tiro a tiro
De rajada não te percebo
Que expliques bem eu prefiro
Do que me limpes o sebo
Não sejas assim agressivo
Nem entres logo a matar
Ou enfim esquecerei o motivo
Que me faz te considerar
Provérbio provado rimado - MCCCLII
Galinha que acompanha pato
Acaba por morrer afogada
É fácil de entender o facto
Já que a galinha não nada
Que a ave se quer rodear
De outros animais talentosos
Mas anda a apanhar do ar
Do que ela são mais jeitosos
Pois a dita galinha tem fama
De não ser muito inteligente
Responde quando alguém chama
Logo vem piando contente
Lá no fundo a pobre galinha
Queria umas asas de jeito
Mas fica bicando sozinha
Num cacarejar contrafeito
Provérbio provado rimado - MCCCLI
A sabedoria que tem
Não serve a finalidade
De contribuir com bondade
Já que trama sempre alguém
Não sei o que lhe perguntaram
Nem sei com quem aprendeu
Mas é certo que não mereceu
Sabe mais do que lhe ensinaram
Provérbio provado rimado - MCCCL
Sofreu um enorme calvário
Num tormento doutrinário
Levando às costas a cruz
Tanto aguentou o Jesus
E a grande dor que sofreu
Nossa Senhora comoveu
Pois nem ela naquele momento
Sonhava um renascimento
Com ladrões crucificado
Pelo próprio Pai ignorado
A fim de servir de lição
A todo o que é cristão
Foi preciso chamar um ferreiro
Que chegou com o cangalheiro
Para vários pregos apertar
Não fossem eles se soltar
O ferreiro que não era crente
Não ficou no entanto indiferente
Àquele homem de aura sagrada
Com tamanho azar na jornada
E até que surgisse o estertor
Só para melhorar o humor
Quis fazer-se de engraçadinho
Largando um dito comezinho
Então para quem quis ouvir
Mandou esta laracha a seguir
Com pregos Jota Baptista
Não há Cristo que resista
quinta-feira, 24 de outubro de 2024
Provérbio provado rimado - MCCCXLIX
Provérbio provado rimado - MCCCXLVIII
Logo cedo a tesão do mijo
Torna qualquer homem rijo
Se é mito o mijo ou a tesão
Não importa tal atribuição
Se nenhum se tornar viável
Deve ser pouco confortável
Mas posso apenas imaginar
Essa tal forma de bem-estar
Provérbio provado rimado - MCCCXLVII
Normalmente eu sou acessível
Sou até bastante amigável
Mas hoje não estou comestível
Sinto-me de facto intragável
Acordei com os pés de fora
Sem vontade nenhuma de amar
Se calhar é melhor ir-me embora
Para o ambiente não estragar
Acho-me muito melancólica
E não sou flor que se cheire
Não estou lá muito católica
É melhor que ninguém se abeire
terça-feira, 22 de outubro de 2024
Provérbio provado rimado - MCCCXLVI
Essa coisa das companhias
Tem tanto que se lhe diga
Porque até tu em alguns dias
És a tua pior inimiga
Mas é comumente aceite
Que aqueles de que te rodeias
Além de servirem de enfeite
Influenciam as tuas ideias
Diz-me com quem é que andas
Direi o que é que vais ser
Mesmo se pensas que mandas
No que te vai acontecer
É sempre na pior altura
Decorra o que decorrer
Quem com porcos se mistura
Farelos há-de comer